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A inevitável e imprescindível agenda ESG | Marcelo Mello

Edição 332

É interessante falar sobre as questões ESG (do inglês environmental, social & governance) no fechamento de 2020. O ano foi emblemático para esta agenda, que se consolidou e ganhou força entre as lideranças corporativas e do mercado de investimentos após duas décadas desde o surgimento das primeiras iniciativas. A “moda” parece recente, mas o tema definitivamente não é. Já se passaram 21 anos desde o lançamento do primeiro índice de sustentabilidade no mundo, o Dow Jones Sustainability Index (1999), praticamente 20 anos desde o lançamento do primeiro fundo de investimentos responsáveis no Brasil (2001), 15 anos desde o lançamento do Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 (2005) e 13 anos desde o lançamento do PRI, principal acordo de investimentos responsáveis no mundo (2007). Afinal, por que só agora o ESG entrou de fato no mainstream dos investimentos?
O aprendizado sobre os impactos das questões ESG nas empresas e, por consequência, nos portfólios de investimento, envolve o desenvolvimento de estudos e cases que suportem a principal tese de investimentos ESG, de que empresas que integram esta agenda na sua estratégia têm um desempenho acima de seus pares de mercado. A afirmação tem sua fundamentação na maior diligência na gestão de riscos, que levaria a uma maior preservação do valor das companhias. Probabilidades mais baixas de acidentes, mitigação de conflitos com stakeholders, menor exposição a conflitos de interesse são exemplos de aspectos considerados na análise de controvérsias ESG analisadas pelos investidores. Em seu Guia ESG, a Anbima reforça a tese relatando estudo de Friede, Bush, & Bassen (2015) em que foram analisados mais de 2 mil trabalhos sobre a correlação entre a adoção de políticas ESG e o desempenho financeiro. A conclusão foi que quase 90% dos trabalhos mostraram correlação neutra ou positiva sendo que em 63% a correlação foi positiva.
Um outro fator que começa a fazer diferença, no entanto, é que estas mesmas empresas também apresentam um diferencial competitivo por estarem mais alinhadas às novas demandas do mercado, preparadas para mudanças regulatórias e, portanto, conseguem ser mais inovadoras. Saem da agenda da preservação para a geração de valor.
Com essa constatação, analistas e gestores passaram a considerar as questões ESG como uma proxy de qualidade de gestão. Inicialmente pela via da governança corporativa, já plenamente incorporada pelo mercado, mas cada vez mais trazendo os aspectos ambientais e sociais para a pauta dos diálogos e questionamentos com as companhias. O tema ganhou força em países desenvolvidos e em algumas regiões o volume de recursos que adota alguma estratégia de integração ESG na decisão de investimentos ultrapassa os 50% do AuM dos mercados, como é o caso na Europa, Canadá e Austrália.

No Brasil, tivemos uma primeira onda ESG a partir do lançamento do ISE e do PRI, que aconteceram entre os anos de 2005 e 2007. O índice pautou o lançamento de fundos de sustentabilidade, até então escassos no mercado local, enquanto o acordo internacional permitiu que se criasse um debate organizado em torno das questões ESG para os investidores institucionais. Fomos os primeiros no mundo a ter uma rede local de signatários do PRI, organizada pela Previ (representante da América Latina no Conselho do PRI) e que virou modelo para o desenvolvimento de outras 9 redes nos EUA, Europa, Ásia e Oceania. Ter um debate local foi fundamental para trazermos as especificidades do nosso mercado e dos nossos investidores, tanto entre os fundos de pensão como gestores de recursos. A SulAmérica Investimentos passou a integrar essa rede em 2009, participando ativamente das iniciativas locais e pontes com os investidores globais focados em avançar na agenda de integração ESG.
Por alguns anos acompanhamos a evolução do mercado internacional “de longe”. As estratégias de integração ESG no Brasil foram predominantemente de produtos best in class, fundos que selecionam as melhores empresas de cada setor para a composição do portfólio, ou de integração transversal às análises e modelos de valuation, segundo as pesquisas realizadas pela Anbima. Nos últimos anos, no entanto, com a queda da taxa básica de juros e a necessidade de diversificação das carteiras, o ESG se tornou uma tese de investimentos mais atrativa para os investidores institucionais locais, até que este ano tivemos um boom do tema no país e no mundo.
As discussões a partir da pandemia trouxeram à luz os riscos da vulnerabilidade social e os potenciais impactos do atual modelo de negócios sobre o meio ambiente. Passamos a falar em capitalismo de stakeholders, redução das desigualdades sociais como caminho para a resiliência econômica, mercado de carbono, preservação do capital natural... temas que requerem um aprofundamento de conceitos e a participação ativa das lideranças do setor público e privado. A agenda saiu das áreas técnicas de meio ambiente e sustentabilidade para a mesa dos Conselhos de Administração e Comitês Executivos, pautados pela necessidade de revisitar a sua atuação em uma sociedade e um mundo em mudança.
Questões ESG dizem respeito à eficiência operacional, redução de riscos, potencial de crescimento e resiliência em situações adversas como a que vivemos este ano. Não por acaso, os estudos de mercado apontam que boa parte dos índices de sustentabilidade e fundos ESG apresentam desempenho acima da média de mercado em 2020, considerando tanto a queda como a retomada do mercado. Segundo dados da BlackRock, no primeiro trimestre de 2020 94% dos índices de sustentabilidade globais tiveram um desempenho acima dos seus pares que não consideram esses fatores na composição das carteiras teóricas. No Brasil, foram criados dois índices que consideram a temática ESG na sua composição: o Índice S&P/B3 Brasil ESG, que utiliza as ponderações ESG da S&P DJI para a formação de um índice amplo, e o Índice CDP de Resiliência Climática, composto a partir do score de empresas listadas no Brasil no questionário de mudanças do clima do CDP, maior banco de dados ambientais de empresas do mundo.
O lançamento de fundos ESG pelos gestores, antes voltados quase exclusivamente para o mercado de ações, invadiu o terreno dos ativos de crédito privado, previdência e investimentos alternativos. O aumento da oferta é importante para acompanhar o interesse do mercado em todos os segmentos, do varejo aos institucionais, mas temos que atentar para alguns pontos chave. A existência de critérios claros de diferenciação dos produtos mainstream, uma metodologia consistente de análise e composição de portfólio e o monitoramento dos ativos em carteira são imprescindíveis para garantir que os produtos não se tratem apenas de uma estratégia de comunicação, conhecida no mercado como greenwashing. Resumindo, mais importante do que o produto específico é o grau de profundidade com que as gestoras de investimentos estão incluindo em seus processos de decisão os fatores ESG.
Para separar o joio do trigo entram em cena as associações, grupos de trabalho e, não menos importante, os reguladores. Iniciativas como o Laboratório de Inovação Financeira, coordenado pela ABDE, BID, CVM e GIZ, atuam em um modelo multistakeholder para gerar e disseminar conhecimento para o avanço da agenda ESG no Brasil. O compartilhamento de informações promove sinergias entre associações do setor financeiro – como FEBRABAN, Anbima, Abrapp e Apimec – e geram insumos relevantes para as pautas regulatórias do Sistema Financeiro Nacional. Além da coordenação da CVM, Banco Central e Susep participam ativamente do LAB, que este ano atuou, por exemplo, na pré consulta pública da Instrução CVM 480, pautando a divulgação de informações ESG pelas companhias abertas. Outros reguladores e supervisores como o Banco Central e a Previc já incluem estes aspectos na regulação do sistema financeiro e se preparam para aprofundar a agenda, com a inclusão de temas como a análise e reporte de riscos climáticos, iniciativa lançada no contexto da agenda BC#.
As questões ESG, que começaram como uma agenda voluntária nas mesas de investimento, aproximam-se cada vez mais das áreas de compliance com o aumento e aprofundamento da regulação de companhias e instituições financeiras. Ainda que no momento atual estejamos em meio a um tsunami ESG, a história nos mostra a consistência com que o tema se colocou na agenda dos investidores institucionais, saindo de uma tendência distante para a realidade da gestão de ativos no Brasil e no mundo. Seja pela demanda, pela performance ou pela regulação, todos os caminhos levam ao ESG.

Marcelo Mello é Vice-presidente de Investimentos, Vida e Previdência da SulAmérica

Baixo grau de previsibilidade econômica amplia riscos | Luiz Sorge

Edição 332

Política, Economia e Pandemia continuarão se compondo nas pautas diárias para definir a direção dos preços dos ativos.
Em artigo recente no Jornal o Estado de São Paulo (20/12/2020) o prof. Affonso Celso Pastore cita, entre outros aspectos, o índice de incerteza da economia construído pela FGV e traz uma perspectiva da variação desse índice nas crises recentes. Considerando que acima de 100 o grau de incerteza se eleva e abaixo de 100 o grau de incerteza é reduzido, temos em 2002 e 2008 esse índice em torno de 130. Já em 2014 e 2016 chegou a esse mesmo patamar, e depois se estabilizou em torno de 110 no período de 2017 a 2019 quando tivemos crescimento do PIB na faixa de 1%.
No início da crise da Covid-19 no Brasil o índice de incerteza bateu seu recorde histórico, chegando a 210 pontos (!) e depois vem se mantendo em torno de 150 pontos.
O que isso traz de impacto para nós que temos que gerir investimentos de longo prazo? Um grau de previsibilidade muito baixo, que pode nos levar a decisões que parecem fazer sentido no curto prazo mas que não necessariamente se verificarão acertadas no longo prazo.
No Brasil temos um ingrediente adicional, que é a taxa de juro a 2%, nível baixíssimo para os padrões locais e que em termos reais, quando considerada a inflação, fica no campo negativo.
Diante desse cenário, a diversificação dos portfólios de investimento, que era uma escolha no passado, é quase que mandatório hoje. Assim deverão continuar a ganhar mais protagonismo em 2021 os seguintes temas:
- Investimentos no Exterior, sob ao menos três perspectivas de diversificação: 1) a regional - selecionar que parte do mundo; 2) a setorial - no caso de Renda Variável temos alguns setores da economia pouco representados nos índices locais; e 3) a de moedas - em momentos de crise, como o atual, o real tende a se desvalorizar perante as moedas fortes, e assim investimentos no exterior (sem hedge cambial) podem servir de proteção para crises locais;
- Aumento da parcela alocada em renda variável: até pouco tempo atrás a média de alocação do investidor brasileiro em bolsa, girava em torno de 10%. Com os movimentos de realocação ocorridos principalmente em 2019 e 2020 esse percentual subiu, mas está longe da média global, que para investidores institucionais gira em torno de 50%;
- Investimentos alternativos: Estes já fazem parte da carteira de muitos investidores, principalmente grandes e médios fundos de pensão e pessoas físicas de alta renda (recursos geridos, por exemplo, através de Family Offices e Private Bankings). Porém Fundos Imobiliários, Fundos de Investimento em Participações e Fundos de Recebíveis deverão ganhar mais protagonismo de forma geral na carteira dos investidores;
- ASG: os filtros e critérios de sustentabilidade ambiental (A), de impacto social positivo (S) e de boa governança (G) continuarão permeando de maneira transversal todos os temas acima. Na verdade, o que já é realidade há um bom tempo para muitos investidores e gestores globais, somente há pouco tempo passou a fazer parte das discussões da maioria dos investidores locais. Uma das razões é que a alocação histórica, majoritária e satisfatória em títulos públicos federais reduzia a necessidade de uma análise mais sofisticada dos ativos investidos, agora e doravante as demandas serão outras ... e que bom, sinal de amadurecimento e desenvolvimento;
- A evolução Digital aplicada à área de investimentos: sem dúvida as atuais Fintechs continuarão ganhando protagonismo no setor de investimentos, mas também aparecerão novas ferramentas digitais para auxiliar os investidores e os profissionais das áreas de investimento a tomarem decisões mais sofisticadas.
Em resumo, o grau de incerteza elevado em conjunto com a necessidade de diversificação leva o investidor a tomar mais risco em um momento de previsibilidade reduzida.

E aí se torna importante falar um pouco da indústria de gestão de recursos de terceiros (asset management). Notamos que a partir de março de 2020, início da crise pandêmica aqui no Brasil, a demanda dos investidores por informações se tornou mais frequente e mais intensa. Não é por menos, pois se somaram vários fatores de diversas frentes:
- A necessidade imperativa de adaptação de toda a sociedade de uma nova dinâmica em nossas vidas pessoais e corporativa, construindo, por exemplo, de maneira quase que obrigatória a cultura do home office (trabalhar de casa) para atividades e setores onde isso é possível;
- A implementação de um programa de distribuição de renda que alcançou 66 milhões de pessoas. Sendo que este, apesar de necessário e justificável, piorou nosso déficit fiscal levando a dívida pública a um patamar próximo a 100% do PIB, e como consequência tivemos uma redução do fluxo de investimentos globais em nosso país –tal como em outros emergentes - devido à percepção de risco aumentada;
- Uma maior dificuldade de aprovação de reformas estruturais, como por exemplo a administrativa e a tributária, que, entre outros aspectos, aumentariam a confiança do investidor local e global;
- A mudança de cenário macroeconômico, onde a perspectiva - que se realizou – de menor atividade doméstica nos fez sair de uma previsão de crescimento do PIB de +3% para -7% naquele momento, e que dada a retomada do 3º trimestre nos leva a prever algo em torno de -4,5%. E essa atividade econômica reduzida trouxe impacto para a taxa de juro, permitindo uma política monetária mais expansionista – juro a 2% a.a. - bem como um facilitado controle da inflação – impactada negativamente nos últimos meses do ano devido à desvalorização do real frente ao dólar e a problemas de fornecimento de matéria prima e de oferta de produtos em alguns setores;
- A desvalorização de ativos de diversas classes, onde a mais divulgada e percebida foi no mercado acionário, levando o índice Bovespa de aproximadamente 115 mil pontos para menos de 65 mil pontos;
- A marcação a mercado dos títulos de crédito privado e mais recentemente também dos títulos públicos, impactando negativamente os fundos de renda fixa. E isso teve como uma das principais consequências o resgate por parte do investidor menos qualificado ou menos informado ou ainda com menor tolerância a risco – pois a maioria dos fundos passou a ter ativos com prêmios maiores, e, portanto, com perspectiva de recuperação da rentabilidade.
Assim a crise não só levou o investidor a buscar mais informações, mas também a um melhor entendimento dos aspectos técnicos de mercado, dos ativos e dos produtos, que anteriormente não eram necessariamente foco de atenção.
Nesse sentido, os gestores de recursos e a Anbima tiveram, e têm, um importante papel de informação ao mercado e a investidores, da mesma forma que a CVM soube, mais uma vez, ajudar o mercado a navegar da forma mais segura possível, evitando rupturas.

Aproveitando que estamos falando do regulador, vale ressaltar que em 2021 a CVM fará mais uma evolução nas regras que regem os fundos de investimento. Já está em audiência pública a reformulação da instrução CVM 555. Responsabilidade de Administradores, Custodiantes, Gestores e Investidores será um dos capítulos ao qual será dada atenção, e outro é uma maior flexibilização para que os investidores possam acessar estratégias de investimentos globais.
Portanto teremos que continuar fazendo a lição de casa, acompanhando de perto os temas acima e outros que possam ser relevantes, para que nossas decisões sejam tomadas da forma mais profissional e racional possível nesse momento único da história recente da humanidade, onde a economia global foi severamente impactada por uma crise na área de saúde.
E finalmente, sem dúvida temos sinais positivos para 2021. A perspectiva de vacinação em massa no primeiro semestre do ano, somada à liquidez global trazida pela resposta à crise dos principais países através de incentivos fiscais e monetários, poderão levar à continuidade do crescimento da atividade econômica global e também local.

Luiz Sorge é CEO do BNP Paribas Asset Management Brasil

Objetivo deve ser equilibrar a carteira para ganhar no longo prazo | Daniel Celano

Edição 332

O investimento previdenciário é desafiador, em função de horizontes de investimento mais longos, riscos de reinvestimento e riscos atuariais envolvidos. Não é uma tarefa simples traçar metas de rentabilidade críveis ao longo do tempo para os planos de previdência, no melhor interesse de seus participantes, além de identificar e pesar variáveis, entre riscos e oportunidades, que possam impactar os retornos esperados. Também é preciso compreender o perfil do investidor para atender aos seus objetivos e, ao mesmo tempo, trazer alternativas que possam eventualmente superá-los, por meio da diversificação da carteira, especialmente importante para planos de contribuição definida/ variável.
Ajudar alguém a construir o seu futuro financeiro e reserva de valor de longo prazo sempre é um trabalho complexo, que requer disciplina e expertise. Quando o presente se torna mais volátil e incerto, como agora, em meio à crise da Covid-19, esse trabalho se torna ainda mais desafiador e fundamental para buscar garantir os retornos almejados, especialmente no momento em que o investidor está mais preocupado e apreensivo.
De fato, no Estudo Global de Investidores 2020 da Schroders sobre aposentadoria, uma parcela significativa (41%) dos 23 mil investidores pessoas físicas ouvidas, em 32 localidades no mundo todo, expressou a preocupação de que a sua renda na aposentadoria poderia não ser satisfatória. Além disso, 55% acreditam que a previdência pública não será suficiente. No Brasil, esses percentuais eram de 33% e 62%, respectivamente. O estudo também mostrou que essas apreensões estão refletidas na boa parcela de renda que os entrevistados disseram reservar para a aposentadoria: 15,2% globalmente e 16% no Brasil.
Por outro lado, 38% dos investidores disseram não entender as opções disponíveis para eles com suas economias para a aposentadoria. No Brasil, 36% disseram se sentir dessa forma. Ou seja, apesar de ser positiva a parcela de renda dedicada para a aposentadoria, ainda falta uma compreensão maior do investidor sobre as alternativas para aplicação dos recursos de maneira eficiente e diversificada. Porque não basta reservar um bom percentual da renda para a aposentadoria: é preciso investi-lo de maneira eficaz, com foco no longo prazo e com diversificação no portfólio, combinando renda variável, renda fixa, multimercados no Brasil e no exterior.

Segundo a pesquisa, em três anos, aumentou de 5% para 21% a parcela dos aposentados em todo o mundo que estão investindo a sua renda disponível de volta em suas poupanças para a aposentadoria, dada a maior longevidade e o maior custo de vida que o vislumbrado anteriormente nessa fase da vida. Hoje, apenas 26% dos aposentados colocariam dinheiro em outro tipo de investimento, como ações, títulos de dívida ou commodities. Após um ano de incertezas significativas, talvez isso não seja surpreendente, mas certamente não é o ideal.
O estudo da Schroders também mostrou maior aceitação dos critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) para investir com foco na aposentadoria. No geral, 42% dos investidores globais e no Brasil afirmaram que o investimento sustentável é atrativo devido à probabilidade de retornos mais altos. E apenas 8% das pessoas não investem em fundos que consideram os aspectos de sustentabilidade por acharem que eles não oferecem retornos mais altos. Ainda assim, os aposentados têm quase duas vezes mais probabilidade do que os não aposentados de ter essa percepção, indicando que eles podem estar perdendo as oportunidades oferecidas por esse tipo de investimento.
O ESG ganhou ainda mais relevância após a Covid-19 e, na perspectiva das finanças, diz respeito à probabilidade de o ativo continuar gerando retornos acima do mercado no longo prazo, o que é o foco do investimento previdenciário para uma renda satisfatória na aposentadoria. Empresas que têm uma abordagem ESG na condução de seus negócios tendem a ser mais resilientes e mais bem preparadas para os desafios futuros. Ou seja, incluir esses ativos no portfólio contribui para mitigar riscos de cauda (eventos com baixa probabilidade de ocorrer, mas que, se ocorrerem, têm efeitos muito agudos).
Como vimos com o caso da Covid-19, as crises podem ser totalmente inesperadas e impor perdas mais fortes a um portfólio de investimentos pouco preparado para eventualidades do tipo. Ainda assim, a situação exige ajustes eficazes e agilidade por parte do gestor para proteger o patrimônio e buscar manter as rentabilidades almejadas no longo prazo. No Brasil, o estudo da Schroders mostrou que, entre fevereiro e março de 2020, quando os mercados de ações passaram por um período de volatilidade mais intenso, 79% das pessoas fizeram alterações em sua carteira, com 70% delas modificando o nível de risco. Entre os entrevistados no país, 27% disseram ter transferido porções consideráveis da carteira para investimentos de risco mais baixo; e 16% fizeram o mesmo movimento, mas para investimentos de risco mais alto.

A crise da Covid-19 também provocou um foco maior do investidor nas suas aplicações, com quase metade (49%) das pessoas entrevistadas afirmando que agora pensam em seus investimentos pelo menos uma vez por semana, em comparação com 35% antes da pandemia. No Brasil, essa porcentagem é ainda maior: 65% dos investidores pensam nas suas aplicações frequentemente (ao menos uma vez na semana) desde o começo da crise. Antes da crise, a parcela era de 52%.
Mas, apesar de toda a movimentação dos mercados e dos ajustes necessários aos investimentos, é preciso se ater aos princípios e objetivos previdenciários, equilibrando a carteira para ganhar no longo prazo, e não apenas para não perder no curto prazo. Separar o barulho e ansiedade do curto prazo da trajetória e objetivos de longo prazo é muito importante. O papel do strategic asset allocation como bússola nessa trajetória é ponto central para os investidores e gestores de fundos de pensão, ainda mais relevante quando as taxas de juros estão nas mínimas históricas, e o câmbio, desvalorizado. É natural que um momento de incerteza gere apreensão e aversão a risco no primeiro momento, mas pode-se observar uma busca por mais conhecimento financeiro dos clientes, bem como uma mudança relevante na composição dos portfólios.
Torna-se cada vez mais crítico persistir com os objetivos de acumulação para aposentadoria no longo prazo, com foco na diversificação, nas contribuições mensais, em rentabilidades baseadas em juros reais e após impostos, apesar das oscilações momentâneas do mercado, considerando a ótica ESG. Esse desafio foi intensificado pela crise em 2020 e persistirá em 2021. Para superá-lo com mais segurança, o investidor pode contar com a orientação de um profissional, capacitado a olhar para o cenário mais amplo e com recursos para avaliar as múltiplas variáveis em jogo nesse panorama cada vez mais complexo. A mudança de mentalidade do investidor, concentrado no desempenho das suas aplicações e olhando para o futuro, já está em curso. Trata-se de transformá-la efetivamente em realidade, para perseguir bons resultados e, assim, atingir as metas para a aposentadoria.

Daniel Celano é Diretor responsável pela gestão de recursos de terceiros da Schroders Brasil

Como fazer a gestão das carteiras com juros reais negativos | Marcelo Pacheco

Edição 332

Finalmente 2020 está acabando! Que ano foi esse! Desafios vieram de todos os lados, principalmente pelo advento da pandemia. Mas vamos manter nossa análise restrita ao mundo dos investimentos. No início de 2020, a projeção do mercado para a taxa Selic em dezembro, divulgada pelo relatório FOCUS, era entre 4,25% aa e 4,50% aa. Mas a pandemia mudou tudo. Um dos fatos mais marcantes e relevantes do ano de 2020 foi o elevado estímulo monetário adotado pelo Banco Central como uma das medidas para enfrentar os impactos da pandemia na atividade econômica, levando a taxa SELIC ao nível mais baixo da história, o que, associado a um pequeno repique inflacionário no segundo semestre, provocou juros reais negativos no Brasil pela primeira vez desde o Plano Real. Este fato gerou um enorme desafio aos gestores de portfólio para cumprir seus respectivos benchmarks ou passivos atuariais.
Um passivo atuarial de IPCA + 5% a.a. vai representar ao fim de 2020 algo próximo a 10% de retorno a ser batido. Muito desafiador! Portanto, comprar um título público federal longo e carregar até o vencimento não é mais suficiente. E o desafio continua, pois esperamos juros reais negativos também para o ano de 2021, apesar de projetarmos um início da normalização da política monetária, com redução gradativa dos estímulos no segundo semestre do ano.
Então, o que fazer? Vejamos algumas alternativas. No segmento de juros, tanto reais quanto nominais, apesar da existência de prêmio na curva, também existe um risco elevado, tendo em vista o aumento recente dos índices inflacionários, e da grande diferença entre as inflações no atacado e no varejo. Essa inflação represada pode representar uma recomposição de margem futura no varejo, quando a atividade econômica for retomada plenamente. Também representa uma elevada fonte de incerteza à situação fiscal do país, que adiciona prêmio na curva de juros. Em nosso entendimento, com as informações disponíveis, o segmento está bem precificado e não vemos grandes oportunidades vindas daí.
Ainda dentro da renda fixa, temos o segmento de crédito privado. Aí temos uma oportunidade! Em 2020 houve um significativo aumento dos prêmios pagos, sem que tenha havido aumento relevante do risco de crédito dos emissores. A propósito, a atuação do Banco Central foi decisiva para impedir uma onda de inadimplência no país. Apesar de ter havido alguma recuperação de preços no segundo semestre, hoje ainda é possível encontrar papéis do segmento high grade pagando remuneração de um papel high yield. Esse é um mercado que ainda não retornou aos níveis anteriores à pandemia.

Outro destino para os investimentos para o qual há aparente consenso é o aumento da alocação em ações. O ano de 2020 ofereceu uma enorme oportunidade de aumento da alocação em bolsa para quem teve cabeça fria. A velocidade de recuperação do mercado foi tão surpreendente quanto a velocidade da queda, e no momento que escrevo este artigo, 17 de dezembro, o Ibovespa não só está positivo no ano, como já empatou com o CDI acumulado. Mas apesar de toda recuperação, ainda vemos espaço para altas adicionais. Porém, daqui em diante, o componente micro passa a ficar mais relevante do que o componente macro, e uma boa seleção de papéis, ou stock picking, torna-se muito mais importante. Temos boas expectativas para os setores ligados ao mercado interno, mas embora ainda existam oportunidades, nem tudo está barato. Empresas boas pagadoras de dividendos, se bem selecionadas, também serão uma ótima alternativa com diversas delas pagando um dividend yield bem superior ao CDI esperado.
No exterior, com o avanço das vacinas, a seríssima questão da pandemia começa a ficar para trás. Outra “página virada” foi a eleição americana. A partir de 2021, com a mudança política nos Estados Unidos, acreditamos que as tensões ligadas ao trade war diminuam bastante e que a agenda de integração internacional seja retomada lentamente, o que pode ser muito bom para países emergentes. Pode ser que estejamos apenas no início de um novo ciclo de alta de commodities.
A internacionalização dos investimentos está presente em praticamente todas as recomendações para 2021, com as quais concordamos totalmente. O investimento offshore é um caminho sem volta em nossa opinião, embora ocorra em um ritmo relativamente lento, mas gradativo. O home country bias ainda é muito elevado no Brasil, mas está caindo.
A quantidade de alternativas disponíveis no exterior permite a adoção de uma série de teses de investimento que não seriam possíveis de serem implementadas em nosso mercado interno, embora a estreia de uma série de BDR’s na Bovespa em 2020 tenha melhorado bastante nossas alternativas locais na busca por alfa. O investimento no exterior também pode ser muito útil para reduzir o risco do portfólio na medida em que adicionamos ativos descorrelacionados com os temas domésticos.

Um outro tema de relevância crescente e que vai passar a exercer um peso cada vez maior nos portfólios são os investimentos sustentáveis, ou ESG, sigla que engloba Environmental, Social and Governance. A ideia de que as empresas deveriam ter como objetivo apenas o lucro e não se envolver em questões socioambientais foi totalmente superada. Hoje o envolvimento do board das empresas nessas questões é crescente, por pressão tanto de membros do próprio board quanto dos acionistas, clientes e fornecedores.
As empresas já estão começando a ser ranqueadas de acordo com o seu grau de adesão às práticas ESG e aquelas melhor colocadas certamente serão mais demandadas pelos investidores, tendendo a apresentar performance melhor no longo prazo. E tudo isso ocorre por iniciativa exclusiva das empresas e investidores, sem envolvimento de governos. Seria natural acreditar que o novo governo nos Estados Unidos implemente uma agenda que impulsione ainda mais essa temática, que já é bem mais madura na Europa Ocidental e Canadá, mas ainda incipiente nos demais países.
Portanto, apesar de ainda estarmos lutando contra a pandemia, mas com a expectativa em relação às vacinas, o ano 2021 inicia-se com expectativas bastante positivas, tanto no Brasil quanto no exterior, depois de um ano tão difícil. E, embora os preços dos ativos tenham apresentado recuperação surpreendente, ainda existem oportunidades, desde que saibamos endereçar nossos desafios internos, como a questão fiscal, por exemplo.

Marcelo Pacheco é Diretor executivo de gestão de ativos da BB DTVM

O ano em que o improvável aconteceu | Opinião: Vinicius Vieira

Sempre que um ano termina nos pegamos imaginando como será o próximo, e assim fazemos planos, traçamos metas e definimos objetivos. Sabemos que nem tudo vai ser como gostaríamos, afinal a vida é uma caixinha de surpresas. Certamente, a maioria de nós se viu nessa situação no fim do ano passado, pensando no que estaria por vir em 2020. É pouco provável, no entanto, que alguém imaginasse tudo o que aconteceu neste ano.
Uma das principais lições que esse ano nos proporcionou é que sempre pode existir o imponderável. Sempre haverá o risco de surgir alguma notícia ou acontecer algo nos mercados que ninguém previu e que provocará movimentos abruptos de preços. Estes dificilmente serão capturados na sua integralidade ou protegidos na sua totalidade. E isso irá afetar tanto as nossas carteiras de investimento pessoal, como as estratégias e carteiras dos fundos de investimento.
Ao fim de 2019, projetávamos que 2020 seria o ano dos investimentos de risco. Estávamos com os juros nos menores patamares de sua história, ocorria a migração de recursos de renda fixa para renda variável, as empresas vinham apresentando crescimento de lucros, os fundos de investimento multimercados e de ações, no Brasil e no mundo, apresentavam fortes captações e elevando suas exposições a riscos, ou seja, tudo para ser período muito positivo. E essa avaliação não parecia errada, vimos ao longo do mês de janeiro os mercados em alta, apesar de notícias envolvendo um possível conflito Estados Unidos x Irã e até mesmo da decretação de uma quarentena na província de Hubei, na China.
Entre o fim de fevereiro e início de março, a narrativa mudou. Os mercados globais se viram diante da dura realidade de que o improvável pode acontecer. O coronavirus virou uma pandemia que parou a economia mundial. Nesse momento se inicia o período de queda mais rápida e intensa da história das bolsas, acompanhada de uma das maiores volatilidades já vistas.
A partir do fim de março, houve mais uma mudança de narrativa. Governos passaram a usar de todo o arcabouço que lhes é disponível para dar suporte às economias, como: programas de transferência de renda, redução de taxas de juros, injeção de liquidez nos mercados financeiros, entre diversas outras medidas que levam a recuperação mais rápida da história das bolsas. Contudo, a dinâmica dessa alta foi diferente da que presenciamos em janeiro e até mesmo ao longo de 2019.
Nesse momento valorizam-se empresas de setores que tendem a apresentar crescimento de lucros superiores à média do mercado, com destaque para empresas ligadas à tecnologia, já que passamos a viver no “mundo virtual da família Jetson”, e as de biotecnologia, as quais passaram a investir pesadamente, buscando uma solução para Covid-19.
Chegando ao final de 2020, em novembro, esses investimentos em biotecnologia mostraram resultados e passamos a ter a real perspectiva da aprovação de vacinas contra a Covid-19. Esse fato é importante por reduzir a probabilidade de novos “lockdowns” em 2021, permitindo o início de um ciclo mais forte de crescimento econômico global e a volta ao nosso “antigo normal”. Esse fator tem impactado positivamente os mercados acionários globais, porém com dinâmica diferente em relação às empresas em valorização, em um claro movimento de rotação entre países e setores, que tem potencial de perdurar, tudo mais constante, até o final do primeiro trimestre de 2021.
Esse movimento de rotação permite que setores e países mais ligados ao estilo de investimento valor, que são aqueles que se encontram descontados em relação a sua própria história e a média do mercado, apresentem forte alta, superando aqueles ligados ao estilo crescimento. Dentro desse contexto, percebemos alguns países emergentes tendo desempenho superiores aos desenvolvidos e setores mais vinculados à “economia real”, como aqueles ligados a petróleo, turismo e financeiro superando os de tecnologia e biotecnologia.
Ao analisar as lições que 2020 tem nos ensinado, como investidores, fica claro a crescente importância da diversificação dos investimentos, não só em termos de setores e ações, como também a exposição geográfica. Nesses momentos de maior volatilidade e mudanças de tendência, percebemos o valor de ter à disposição um conjunto maior de opções de investimento no exterior, permitindo alocar em diversos países, pois estes possuem diferenças entre momentos econômicos e de mercado.
E essa globalização dos investimentos é algo que cresceu e tende a continuar crescendo nos próximos anos. Deixamos de investir somente em ações brasileiras, mas passamos a procurar ações ligadas a bolsa americana, de países emergentes, europeus, asiáticos, entre outros.
Outra tendência, que não é nova, mas ganha relevância, é a busca por investimentos que integrem questões ambientais, sociais e de governança – ASG. Do ponto de vista das empresas, esse ano mostrou que, aquelas que destacam no cuidado com o bem-estar de seus colaboradores e que procuram adotar os mais robustos níveis de governança corporativa conseguem navegar por momentos de crise com maior tranquilidade, o que tende a se traduzir em desempenhos melhores.
E do ponto de visto dos investidores, estes passam a se preocupar cada vez mais com o propósito dos seus investimentos e de que forma seus recursos são aplicados. E essa, talvez, tenha sido a mudança de narrativa mais importante que 2020 trouxe: não se trata de buscar o retorno pelo retorno, mas sim de investir de maneira responsável e sustentável.

Vinicius Vieira é head de gestão de fundos de ações ativos da BB DTVM

Selic deve se manter baixa | Opinião: Paulo Gala

A âncora da inflação no Brasil está no mercado de trabalho depauperado e nas reservas cambiais. O déficit público primário indo a quase R$ 1 trilhão neste ano não é novidade. Gastamos em um ano praticamente o equivalente à economia de uma reforma da Previdência de uma década. Isso não fez a inflação disparar e o IPCA deve fechar 2020 na casa dos 3,5%.
A aceleração recente dos índices de preços por atacado, com destaques para IGPs e INCC, se deve a uma combinação de desvalorização cambial no Brasil e no mundo emergente com a alta de preços no mercado mundial de commodities. Parte da desvalorização cambial se deve ao movimento de aversão ao risco global, parte a temores fiscais no Brasil. A arroba do boi, a soja, o minério de ferro e tantas outras commodities estão perto de máximas, graças, principalmente, à demanda firme da China. A correta coordenação econômica do governo chinês, usando regulação e instrumentos de mercado, tornou o país o destaque mundial na resposta à Covid-19. A China caminha a passos largos para se tornar a maior e mais relevante economia do mundo e as commodities brasileiras se beneficiam novamente de outra onda de crescimento do país.
A China produzia 50% das máscaras cirúrgicas mundiais até o início da pandemia. Com o surgimento do coronavírus, suas fábricas aumentaram a produção em 12 vezes. Estima-se que 10 mil empresas de bebidas, carros, fraldas e até satélites passaram a produzir produtos médicos. Tudo com apoio do Governo, que flexibilizou licenças, concedeu subsídios e garantiu que comprará os estoques remanescentes A China não está sozinha: Taiwan, por exemplo, também implementou uma política industrial de emergência para máscaras cirúrgicas. O estado chinês está estimulando a reconversão industrial. Agora, com a epidemia sob controle na China, países que não produzem o suficiente destes produtos viraram grandes compradores.
No Brasil, a inflação não deve voltar com força, pois a crise no mercado de trabalho dificulta os repasses de preços do atacado para o varejo. Apesar do salto dos IGPs, devemos ver nos próximos meses um arrefecimento. A forte alta de preços já disparou gatilhos de produção que estavam enferrujados. A oferta responderá à alta de demanda e os preços de commodities e insumos da construção civil devem parar de subir já nos próximos meses. Esse mecanismo está em operação tanto no mercado mundial quanto no doméstico. No front cambial, o BC tem muita munição que não está utilizando. O grande boom de preços de commodities trará mais dólares ao país, tanto neste ano quanto no próximo ano. A moeda brasileira tem uma das piores performances do mundo, tornando todos os preços brasileiros baratos: ativos financeiros, bens e serviços. A trajetória mais provável para 2021 é de arrefecimento da pressão inflacionária apesar dos temores fiscais. Os salários reais seguem deprimidos, o nível da produção industrial em mínimas históricas em termos de volumes, próxima ao patamar de 2007, o consumo e investimento agregados seguem ainda muito deprimidos. A inflação irá convergir para a meta de 3,5% uma vez que hoje existe brutal capacidade ociosa na indústria, no setor imobiliário, no varejo em geral e no mercado de trabalho. Nesse cenário, o Comitê de Política Monetária deve seguir com taxa Selic na casa dos 2%, podendo ir a 3% para zerar os juros reais. Estamos no momento com juros reais negativos que podem incomodar a autoridade monetária.
O atual contexto é bastante distinto de 2012, quando o BC trouxe a Selic para suas mínimas históricas e acabou contribuindo para pressionar a inflação em um contexto de demanda forte e escassez de oferta no Brasil e no mundo. Naquele momento, o Brasil estava em pleno emprego no mercado de trabalho, em franca expansão do crédito privado e público com taxas de variação da ordem de 20% ao ano. A inflação de serviços rodava a 8% ao ano.
No momento, a economia brasileira está parada e segue com dificuldades para recuperar o patamar de PIB de 2014. Os juros extremamente baixos deram algum fôlego de retomada ao setor de construção civil via crédito, mas sem aumento consistente de emprego e renda, o movimento não será sustentado. O câmbio mais desvalorizado está ajudando a indústria, mas, sem um vigoroso impulso de demanda, esta também não irá longe. O investimento privado segue deprimido, em mínimas de quase uma década.
Diante deste contexto apesar da forte alta dos juros longos, teremos ainda um bom tempo de SELIC muito baixa no Brasil.

Paulo Gala é diretor-geral da FAR – Fator Administração de Recursos e economista

Responsabilidade fiscal é a âncora | Opinião: Alexandre Mathias

O cenário econômico a partir de 2021 depende fundamentalmente da percepção sobre o risco fiscal da economia brasileira. A confirmação da recuperação em “V” deveria afastar a tentação de flexibilizar o teto, mas a falta de uma definição elevou a incerteza e o custo do Tesouro, o que prejudica o preço dos ativos brasileiros e a própria recuperação.
A Covid-19 gerou uma emergência econômica e social, cuja mitigação levará a relação dívida/PIB de 75,3%, em 2019, para 95%, em 2020. A situação só não é explosiva porque o Banco Central pôde deixar a taxa de juros em níveis muito baixos, enquanto o crescimento mais forte em 2021 ajudará a dinâmica da dívida nos próximos anos – desde que o teto de gastos mantenha a integridade.
É natural que os investidores fiquem atentos aos sinais do orçamento. O teto do gasto tem sido uma âncora fiscal crível, capaz de impactar positivamente a percepção de risco, mesmo numa conjuntura adversa. Atrasar a busca do equilíbrio primário implica continuar se endividando para pagar juros, o que resulta em juros mais altos, enfraquecimento da moeda, pressão sobre a inflação e, consequentemente, menor crescimento.
Em um país desigual, as demandas sociais são muitas e justas, mas é evidente que a ampliação contínua dos gastos não é uma solução viável. O debate sobre como financiar um programa mais amplo de renda básica é uma oportunidade para melhorar o foco dos programas sociais brasileiros e inseri-los, de forma fiscalmente responsável, no orçamento.
A indexação é um fator de risco fiscal e inflacionário. Por isso, a desindexação, não só do salário-mínimo, mas de toda a economia, deveria ser uma prioridade, pois reduziria a propagação dos choques sobre os preços, ajudando a manter juros mais baixos.
No entanto, o debate recente sobre os programas sociais estimulou a percepção de que houve um flerte com a ideia de aumentar os gastos à revelia do teto. O foco dos investidores sobre a dinâmica da dívida é salutar, pois ajuda a defender a poupança das famílias brasileiras – hoje, os principais detentores da dívida pública, seja via fundos de investimentos ou via fundos de pensão.
Diante dos riscos gerados pela pandemia, a decisão de superdimensionar o estímulo foi correta. Graças à expansão fiscal, a recuperação em “V”, que muitos consideravam uma fantasia, hoje, é uma realidade e a perda de renda e produto em 2020 foi, efetivamente, mitigada pelo tamanho e celeridade da ação de governo.
Mas, agora, está claro que as medidas compensatórias ultrapassaram a maioria dos países, tendo ficado atrás apenas de EUA, Canadá e Japão, em proporção ao PIB, ocasionando um salto na dívida que precisa ser endereçado.
Em abril, quando incorporamos o impulso fiscal nos nossos modelos, concluímos que a economia teria uma recuperação surpreendente. O consenso era de uma queda em torno de 8% do PIB, mas projetávamos uma contração de 4,5% em 2020, seguido de uma expansão de 5,3% em 2021. Nosso número para 2020 é consenso hoje.
Diante da recuperação mais forte da atividade, não haveria razão para uma estratégia fiscal de alto risco e baixo retorno. Insistir em estender um programa de estímulo que, diante do crescimento não se faz mais necessário, só trará impactos negativos para as condições de financiamento do Tesouro Nacional.
O ruído em torno do orçamento de 2021 provocou uma deterioração na percepção de risco. O que se teme é a repetição de um ciclo vicioso, como no passado recente, quando a elevação do gasto piorou o fiscal, reduziu o crescimento e gerou crise política. A necessidade de encurtar a rolagem da dívida atesta que este perigo é real e imediato.
Nosso cenário base, no entanto, mantém a crença em um ciclo virtuoso, no qual a responsabilidade fiscal assegura juros baixos, fomentando uma retomada forte e gerando um bônus político que permite avançar na agenda de reformas.
A confirmação das escolhas fiscalmente sustentáveis será o gatilho para a valorização dos ativos no quarto trimestre de 2020. Na outra ponta, uma decepção traria de volta uma dinâmica de crise.

Alexandre Mathias é diretor de investimentos da Petros

Ambiental não é modismo | Opinião: Adacir Reis

Há quase vinte anos, por ocasião de escândalos corporativos nos Estados Unidos e dos debates que culminaram na criação da legislação Sarbanes-Oxley, ainda era possível se ouvir em algumas rodas de conversa que o tema da governança corporativa não passava de um modismo. Hoje ninguém mais duvida de que uma boa governança é vital para o sucesso de qualquer empreendimento empresarial.
Com o passar do tempo também ficou claro que sem o respeito aos diversos stakeholders, sem um firme compromisso social, a começar pelos empregados e pelos consumidores, não há como uma empresa prosperar no longo prazo.
Já o tema do respeito ao meio ambiente, embora discutido há algum tempo, era o mais complexo para se tornar um item obrigatório na agenda dos investidores.
Portanto, pensando bem, o conceito de ESG -Environmental, Social and Governance não tem novidade, a não ser pela síntese que a sigla consegue fazer sobre esses três aspectos que devem estar presentes na análise de riscos de qualquer investimento.
Não se trata de modismo, nem tampouco de um tributo que se paga para figurar na galeria dos politicamente corretos. Também não é mera demonstração de preocupação social. Na verdade, a preocupação ambiental está se tornando algo intrínseco a um bom negócio, ao menos a um bom negócio duradouro.
Ainda que os planos de contribuição definida pressionem os gestores de entidades fechadas de previdência complementar (EFPC) para o curtoprazismo, será preciso cada dia mais mostrar que os resultados financeiros sólidos, e acima da média, exigem paciência, diversificação e visão de dia seguinte.
Na essência, cabe aqui uma das máximas de Warren Buffett: “quando alguém me oferece um investimento prometendo retorno rápido, eu rapidamente digo não”.
Analisar riscos ambientais, de governança e sociais é agir com propósito, um propósito pragmático.
Com as reiteradas agressões ao meio ambiente, o que temos visto é a desestabilização de ecossistemas, o aquecimento global, enchentes e secas, e a possibilidade de rebeliões de vírus, germes e bactérias, com danos incalculáveis para os negócios.
Não é por acaso que Larry Fink, CEO e Chairman da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo, com mais de U$ 7 trilhões em ativos, alertou em sua famosa carta anual de 2020, antes mesmo da pandemia, que nos próximos anos teremos “uma mudança estrutural nas finanças”, destacando que “o risco climático é risco de investimento”.
Tal afirmação não foi feita por um ativista ecológico, mas por alguém que tem o dever fiduciário de investir recursos de terceiros e buscar o lucro com zelo e responsabilidade.
Vale lembrar que a própria Resolução CMN 4.661, de 2018, já prevê que “a EFPC deve considerar na análise de riscos, sempre que possível, os aspectos relacionados à sustentabilidade econômica, ambiental, social e de governança dos investimentos” (art. 10, par. 4º). Após o Covid19, o “sempre que possível” da Resolução CMN 4.661 deverá ser lido como “sempre possível”.
Nessa nova realidade, um dos desafios é desenvolver uma métrica, um índice que possa razoavelmente parametrizar quesitos e resultados, orientando os analistas de risco sob o guarda-chuva do ESG (Harvard Business Review – September/2020 – The board’s role in sustainability - A new framework for getting directors behind ESG efforts).
A defesa do meio ambiente deixou de ser “coisa de ONG” ou de “ecochato”, rótulos preconceituosos do passado, e entrou na agenda do capitalismo. Embora ainda haja algumas incompreensões, fruto de conflito intergeracional e de posições ideologizadas, as evidências vão se impor.
Empresas que atuam em mercados mais competitivos dificilmente sobreviverão se provocarem tragédias como as de Mariana e Brumadinho. Uma empresa do agronegócio que despreze a importância da água será vista como um risco insuportável.
Afirmar que a Terra é redonda não é questão de opinião. É um fato já provado pela ciência, a qual, apesar de surtos negacionistas, sairá mais forte da atual crise do coronavírus. Na mesma linha, avaliar um investimento pela ótica de possíveis danos ambientais não é mais uma questão de preferência pessoal de “investidores conscientes”. Passou a ser um item obrigatório em qualquer análise de risco de investimento, sobretudo de um investidor institucional.
Alexandre von Humboldt, o célebre geógrafo e viajante alemão que foi em vida mais famoso que Napoleão, foi o primeiro a observar que a Terra é um todo orgânico e interdependente, advertindo-nos que as agressões à Natureza trariam sérios distúrbios para todos os seres vivos.
Depois de mais duzentos anos de tal advertência, depois de muitos encontros e desencontros, depois de uma grande crise pandêmica, parece que o capitalismo, ao menos o capitalismo que lidera o mundo, finalmente vai se casar com a natureza.

Adacir Reis é advogado, presidente do Instituto San Tiago Dantas de Direito e Economia e ex-titular da Superintendência da Previdência Complementar (SPC)

O futuro não será como era | Opinião: Mauricio da Rocha Wanderley

A ideia aqui é realizar uma reflexão dos desafios da alocação dos fundos de pensão diante do cenário econômico pós-pandemia. Convido o leitor a se afastar da percepção de risco que ela nos trouxe. Neste cenário mais adverso temos a propensão a um apetite a risco menor, o que vai de encontro à necessidade de diversificação dos planos para o longo prazo.
É uma reflexão difícil, reconheço. Se você é um cético, que acredita que estamos em mais um ciclo insustentável de queda de juros reais e que será capaz de comprar aquela NTN-B maravilhosa depois de algumas curvas da estrada, a reflexão torna-se ainda mais difícil. Mas se você acredita que o ALM do seu plano BD não ficará de pé tecnicamente nos próximos 10 anos sem uma maior diversificação e quer evitar o risco de começar a semear um déficit hoje, esta reflexão pode ter alguma utilidade.
Como vamos falar de futuro, para ilustrar este cenário tomei emprestados alguns versos da música “Índios”, de Renato Russo, e a sua dialética para dar a dimensão da complexidade do momento que vivemos. Diz Russo, na música: o que aconteceu ainda está por vir, e o futuro não é mais como era antigamente.
Em primeiro lugar, a parte fácil da estória: “o que aconteceu ainda está por vir”. Isto é, o que aconteceu no resto do mundo acontecerá por aqui. O Brasil começa a trilhar, aparentemente de forma mais sustentável, os caminhos que outros países viveram quando as suas taxas de juros caíram e os investidores começaram a diversificar de forma mais intensa. O desafio será a realocação significativa que terá que ser feita devido ao excesso de renda fixa e a baixa tolerância a perdas em classes de ativos de maior risco. Mudanças têm ocorrido e pode ser vista na explosão da abertura de contas de pessoas físicas nas corretoras de bolsa de valores. Houve claro benefício de décadas de juros reais elevados, mas parece que o paradigma da renda fixa como a resposta quase única para o alcance das metas dos planos de previdência está virando história, salvo melhor juízo dos céticos.
E o que está por vir, em minha opinião, é o aumento contínuo do risco assumido, processo esse que já começou no passado, descobrindo-se o novo normal do risco necessário para que os planos de previdência não onerem demasiadamente os patrocinadores e participantes através de contribuições mais elevadas. A renda variável passará a assumir o papel de protagonista na busca do retorno. Caminharemos na direção do 60/40 de alocação entre renda variável e renda fixa. Além disso, aumento do crédito privado, fundos multimercados, fundos imobiliários e diversificação internacional.
Esta diversificação deveria ser global. Até agora o limite do segmento de investimentos no exterior foi adequado. Porém, ficará pequeno diante da necessidade da construção de uma política de investimentos mais eficiente na busca de retorno e na gestão de risco. Precisaremos aprimorar a legislação de investimentos para inserir o Brasil no mundo e não o mundo no Brasil.
Porém, contraditoriamente, “o futuro não é mais como era antigamente”. Apesar de conhecermos o caminho percorrido por outros investidores, em diversas economias, em seus processos de diversificação, o nosso momento histórico é único. Estamos diante de mudanças significativas, de grande complexidade, e que ocorrem com uma velocidade nunca vista, entre elas: sociais, econômicas, ambientais e tecnológicas. O mundo vive em um ambiente de baixo crescimento, com taxas de juros negativas, mudanças demográficas, aquecimento global, mudanças nos padrões de consumo das novas gerações, transformação digital e a disrupção tecnológica, com os seus desdobramentos diretos sobre o mercado de trabalho e sobre negócios tradicionais que são afetados ou até ameaçados em sua continuidade. Isto tudo acelerado pela pandemia. Estas variáveis impactam diretamente o nosso produto, o plano de previdência, que depende da capacidade de empresas e indivíduos pensarem o longo prazo. As políticas de investimentos terão que endereçar esse ambiente em constante mudança através de cenários mais complexos e por uma maior diversificação em si.
Os stakeholders terão que se adaptar aos novos tempos e lidar com diversas classes de ativos, em diferentes geografias com as quais possuem pouca familiaridade. Isso levará alguns fundos a necessitarem de apoio de consultorias especializadas. Não é mais o risco que cada um gostaria de correr tendo como paradigma a segurança da renda fixa, mas sim o risco necessário e a diversificação necessária associada que temos que correr para cumprir o novo dever fiduciário. A Valia e os planos da Vale no Canadá passaram a oferecer o Ciclo de Vida como solução mais eficiente para endereçar a necessidade de assunção de risco de forma mais inteligente e eficiente para os participantes dos planos de contribuição definida.

Mauricio da Rocha Wanderley é diretor de investimentos da Valia e membro do Comitê de Investimentos dos planos da Vale Canadá

Incerteza e desafios para 2021 | Opinião: Tatiana Pinheiro

Este ano foi um ano difícil! Há quantos anos temos dito esta frase? A verdade é que cada ano traz consigo seus desafios. Neste sentido, 2020 foi um ano dificílimo, atingido por uma crise sem precedentes na história e que levou a reações sem precedentes também, vide o distanciamento social adotado por grande parte da população mundial e a ampliação dos programas de proteção às famílias e empresas via estímulos fiscais e monetários.
Entre final de abril e início de maio, União Européia e EUA, que representam cerca de 50% do PIB mundial, impuseram regras de distanciamento rígidas em regiões que representam cerca de 90% de suas economias. Com relação aos estímulos monetários e fiscais adotados nas economias avançadas e emergentes, estimamos a soma ao redor de US$ 15 trilhões até agora. As respostas de política econômica frente a esta crise foram muito maiores que nas demais crises. Por exemplo, na crise de crédito de 2008 a primeira fase do afrouxamento quantitativo foi de US$1,6 trilhão, já na crise atual o afrouxamento acumula até agora US$ 2,5 trilhões, segundo o balanço do Federal Reserve. Além da recessão mundial, a crise atual também resultou em ampla liquidez internacional e taxas de juros, livres de risco, ainda mais baixa no curto, médio e longo prazo.
Então o que esperar para 2021? Pergunta complicada de responder, mas irei me arriscar em respondê-la, na esperança que vocês, caros leitores, continuem comigo até o final deste breve artigo. Acredito que será um ano difícil também. Muito provavelmente será um ano marcado por alta volatilidade nos preços dos ativos. A crise em 2020 causou colapso quase que sincronizado dos preços dos ativos, mas as respostas de política econômica proporcionaram a inflexão deste movimento. A questão sempre foi qualificar velocidade/intensidade da volta. 2021 será o ano da continuidade deste processo de recuperação iniciado em 2020, mas com todas as incertezas e riscos envolvidos nos ajustes econômicos necessários. As agendas de ajustes de diferentes magnitudes e complexidades das várias economias devem ser o combustível para alta volatilidade ao longo do ano: as economias emergentes, cada qual com suas agendas de ajustes domésticos, sendo a maioria de ordem fiscal; e as economias avançadas também com desafios nada triviais como a conclusão do Brexit na Europa, a definição de nova agenda econômica nos EUA e as próximas etapas de negociações no comércio mundial.
A diversificação objetivando rentabilidade também deve ser importante fator em 2021. O ambiente de taxas de juros baixa no mundo pode fazer com que, mesmo em um cenário onde as incertezas econômicas estão elevadas, o fluxo de capitais para ativos financeiros nas economias emergentes volte a crescer. Ao longo do ciclo de commodities entre 2004 e 2010, as economias emergentes receberam um fluxo de capital crescente. A entrada de capitais para emergentes passou de US$ 22 bilhões em 2004 para US$ 179 bilhões em 2010, segundo o acompanhamento do J.P. Morgan. Desde então, o fluxo de capitais foi reduzido fortemente. O montante de capital destinado aos emergentes em 2019 foi de US$ 55 bilhões e o grupo sofre com a saída de US$ 58 bilhões até setembro. Vale ressaltar que a América Latina já sofre com saída de capitais desde 2018, muito devido à frustração com o crescimento econômico da região, abaixo de seu potencial nos últimos seis anos, segundo nossas estimativas.
Muito provavelmente não veremos o movimento de procura indiscriminada por rentabilidade do pós-crise financeira de 2008. Os investidores estarão seletivos. Assim, as decisões domésticas serão determinantes na atração do fluxo de capitais. Para o Brasil é evidente a importância do redimensionamento dos gastos públicos na capacidade de atração de capitais. Por exemplo, alta volatilidade da moeda atrapalha previsão de rentabilidade dos investimentos e, consequentemente, reduz o interesse pelos ativos. O aumento da incerteza com relação à condução da política fiscal e à capacidade de solvência explica grande parte da recente elevação da volatilidade da taxa de câmbio. Se os impasses atuais permanecerem, receberemos muito pouco deste fluxo de capitais. Contudo, a história de 2021 começa agora: grande parte da possibilidade de ajuste fiscal em 2021, como a aprovação dos mecanismos automáticos de ajuste dos gastos, principalmente com folha de pagamento dos governos federal, estadual e municipal, pode e deve ser decidida em 2020. Se nos comprometermos com ajuste fiscal de forma crível, poderemos nos beneficiar dos ventos da liquidez de fora.

Tatiana Pinheiro é economista-chefe da BNP Paribas Asset Management