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Investimentos para participantes longevos _ Marco Aurelio Viana e Alexandre Miguel

Edição 371

Viana,MarcoAurelio(Petros) 24outA gestão dos investimentos de entidades fechadas de previdência complementar precisa ter foco no longo prazo, avaliando cenários e tendências, para buscar a melhor rentabilidade dos ativos, no menor risco possível, e cumprir seu objetivo de pagar benefícios em dia e de forma eficiente aos seus participantes. E essa missão tem se tornando cada vez mais desafiadora. Como é amplamente sabido, a longevidade do brasileiro vem aumentando a passos largos. Segundo dados do IBGE, em quatro décadas, saltou de 57 anos para 77 anos. Neste contexto, pensar em iniciativas inovadoras é cada vez mais necessário na indústria de previdência complementar, que precisa lançar mão de estratégias para atrair novos entrantes neste mercado e crescer de forma sustentável.
A maior longevidade é uma notícia boa, mas requer um desafio maior na gestão previdenciária e de investimentos. Isso porque o período de vida de recebimento de benefício é, atualmente, bem maior do que aquele imaginado quando da criação do plano, exigindo um maior aperfeiçoamento entre ativos e passivos a partir da ALM (Asset Liability Management), que considera em seus estudos características como nível de maturidade e perfil de risco de cada plano.
Na Petros, maior fundo de pensão multipatrocinado do país, há cerca de 20 anos a maior parte dos participantes era de ativos. Esse perfil se inverteu, tendo mais de 60% em fase de recebimento de benefícios. A expectativa de vida dos participantes da Petros, em média, é de 88 anos, maior do que a dos brasileiros de maneira geral. Hoje, contamos com mais de 132 mil participantes, entre ativos e assistidos, com idade média de 59 anos. Além disso, mais de 2,8 mil assistidos da Petros possuem 90 anos ou mais e, desses, 101 são centenários. Ou seja, se as pessoas vivem mais, precisaremos pagar aposentadorias por mais tempo, tornando ainda mais desafiador para a gestão dos investimentos que, agora, precisa mirar o longuíssimo prazo.
Miguel,Alexandre(Petros) 24outPara fazer frente a essa realidade, na Petros, fazemos rigoroso acompanhamento do passivo do plano, verificando anualmente a aderência das tábuas de mortalidade dos planos administrados, o que nos deixa mais ágeis na percepção das tendências de expectativa de vida da população. Para isso, realizamos os chamados estudos de aderência das premissas - a legislação diz que esses estudos podem ser revistos a cada três anos. Mas, na Fundação, é feito todo ano.
No lado dos investimentos, buscamos extrair o máximo de rentabilidade e atingir os objetivos de retorno dos planos, a partir de um portfólio que busca segurança e diversificação de riscos, a depender do nível de maturidade de cada plano. Por isso, os estudos de adequação de ativos e passivos realizados na Petros, hoje, já observam cenários estocásticos do passivo, ou seja, a possibilidade de variação em função do aumento da longevidade, mitigando o risco de descasamentos futuros.
Estamos iniciando a construção das nossas Políticas de Investimentos para 2025-2028, com a realização de uma série de workshops com nossas equipes internas e especialistas do mercado financeiro para evoluirmos nas nossas estratégias considerando também essa realidade. A série de debates, que inclui temas como ESG, cenário econômico, alternativos, multimercados, renda variável e crédito, contribuirá para a elaboração das Políticas de Investimentos dos diferentes planos que administramos.
A longevidade também abre portas para oportunidades. Temos atuado para atrair novos participantes demonstrando a necessidade de iniciar a jornada previdenciária o mais cedo possível. Considerando 2023 e 2024, alcançamos mais de 2.000 novos entrantes no Plano Petros-2 (PP-2), com adesão superior a 90% dos empregados que ingressaram recentemente em concursos da Petrobras. A expansão do plano, o maior do país na modalidade contribuição variável, segundo a Abrapp, mostra que os jovens estão cada vez mais interessados em um futuro financeiramente mais seguro, a partir da previdência complementar.
Em outra frente, buscamos levar aos participantes um maior entendimento sobre educação financeira e previdenciária. Estamos desenvolvendo a “Universidade Petrosâ€, uma plataforma educacional para a oferta de conteúdos educativos e dinâmicos focados em temas como previdência, planejamento financeiro e investimentos, com o objetivo de expandir a compreensão sobre esse tema, permitindo que todos possam tomar as decisões mais adequadas ao longo de sua jornada previdenciária.
Essas são as bases que estamos construindo para crescermos e que fazem parte do nosso planejamento estratégico para os próximos anos, numa visão de longo prazo; e são pautas que precisam de aprofundamento de debates, considerando o crescimento contínuo da expectativa de vida dos brasileiros. O 45º Congresso da Abrapp, maior evento do segmento em toda a América Latina, que foi realizado de 16 a 18 de outubro, em São Paulo, ampliou a visão do setor sobre essa temática, a partir de troca de experiências, para evoluirmos na direção de soluções para os desafios impostos à previdência complementar.

Marco Aurelio Viana é Diretor de Seguridade da Petros e Alexandre Miguel é diretor interino de Investimentos da Petros.