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“Espero, sinceramente, não sentir saudades de 2020”, diz Simino

SiminoJorgeVivestCom vencimentos de títulos do Tesouro da ordem de R$ 720 bilhões em 30 de abril do ano que vem, as dificuldades para fazer essa rolagem serão pouco triviais, situação que desautoriza uma visão otimista das perspectivas da economia para 2021 e reforça a pressão para aumento do juro. “Espero sinceramente não sentir saudades de 2020”, analisa o diretor de investimentos e patrimônio da Vivest, Jorge Simino.
Frente ao cenário de baixa visibilidade e preocupação com a conjuntura fiscal brasileira, as políticas de investimento precisam embutir uma boa dose de cautela na diversificação. “Infelizmente o cenário econômico não se alterou e está vindo ao encontro da percepção que apresentamos em junho/julho ao Conselho Deliberativo da fundação; na ocasião, ficamos muito perto da média do mercado nas projeções sobre Selic e inflação, entre outros indicadores, mas estávamos bem distantes das estimativas fiscais do mercado, que eram excessivamente otimistas, e a nossa visão se confirmou”, diz Simino.
As expectativas sobre as reformas não se transformaram em ações concretas e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, admitiu esta semana as dificuldades para aprovar qualquer projeto na casa. A disparada do dólar contra o real, que exigiu uma intervenção do Banco Central no mercado a vista e a queda de 4,25% na bolsa desta quarta-feira, a maior baixa desde abril, reforçam a percepção de que nada será aprovado tão cedo, pelo menos não antes da eleição das mesas da Câmara e do Senado em janeiro.
Enquanto isso, observa Simino, o impacto do fim do “coronavoucher”, nome dado pelo mercado ao auxilio emergencial que acudiu os brasileiros durante esses meses de pandemia, certamente será sentido nos indicadores de consumo e na economia como um todo. O risco de que a questão seja enfrentada com aumento de gastos públicos e maior desequilíbrio fiscal é uma das preocupações. Isso sem falar das dificuldades no cenário externo, com a eleição nos EUA e a segunda onda de Covid.
As entidades fechadas de previdência complementar precisam planejar investimentos diversificados em ambiente desafiador. “Na Vivest, a carteira já está relativamente bem diversificada e estamos estudando agora, de maneira preliminar e com a simulação de otimização de carteira, a possibilidade de lançar um fundo cambial e incrementar ainda mais a alocação no exterior, que já vínhamos aumentando de maneira expressiva, conta o diretor. Dois planos de Contribuição Definida da Vivest já têm 9% de seu patrimônio alocado no exterior, muito perto do limite legal de 10%, e a expectativa é de que esse limite seja revisto. Mas as novidades nos investimentos da fundação devem parar por aí. Na renda fixa, a compra de NTN-Bs segue restrita aos vencimentos para 2025 e 2026, no máximo. “São prazos que ainda permitem alguma visibilidade e não consideramos razoável comprar títulos para os prazos de 2045 ou 2055”, afirma Simino.
Transparência na comunicação de informações é essencial, ressalta o diretor. Em setembro, a direção da Vivest apresentou aos membros do Conselho Deliberativo sua visão sobre a perspectiva de cumprimento da meta atuarial da entidade este ano, alertando que o cenário não permitiria atingi-la sem aumentar demasiadamente o risco na carteira. “Seria preciso alocar 40% do patrimônio em bolsa e achamos que esse nivel de risco não era aceitável, então abdicamos de perseguir a meta atuarial”. Com rentabilidade consolidada de 7,67% no ano antes do encerramento de outubro, a Vivest espera terminar 2020 com uma rentabilidade nominal em torno de 10%, o que não é pouco para um ano turbulento como o atual, lembra Simino. Entretanto, a dificuldade para cumprir a meta atuarial está posta. “A nossa meta atuarial é indexada ao IGP-DI, que depois dos recentes saltos poderá chegar ao final do ano com uma variação consolidada próxima de 20%, o que daria uma meta estapafúrdia de algo entre 25% e 26%”, pondera o diretor.