Edição 371
Os investimentos no exterior têm se mostrado bastante rentáveis em 2024, com retorno de 22,12% no acumulado do ano e de 32,38% em 12 meses, segundo levantamento da consultoria Aditus feito em setembro último com um grupo de 138 entidades fechadas de previdência complementar (EFPCs). Isso tem levado algumas entidades a olhar com mais atenção a estratégia.
Na BB Previdência, a ordem é ampliar as alocações fora do Brasil. “Investimento no exterior é um bom segmento para fazer diversificação do portfólio e imunizar a volatilidade, especialmente em relação ao risco Brasil”, afirma o diretor financeiro e de investimentos da entidade, Ricardo Serone. “Iniciamos esse movimento no início de 2024, estamos satisfeitos, entendemos que está nos atendendo bem e seguiremos realizando essa movimentação.”
De 2023 até setembro de 2024, a alocação da BB Previdência fora do Brasil subiu tanto em todos os tipos de planos. Nos planos de contribuição definida (CD) passou de 2,19% para 5,60%, nos de benefício definido (BD) avançou de 1,16% para 1,25% e nos de contribuição variável (CV) foi de 1,87% para 2,15%.
Segundo Serone, a participação maior de exterior nos planos CDs deve-se às características desse tipo de plano. “É por conta da necessidade do passivo. Nos planos CD, o participante faz a acumulação do benefício, trata-se de busca por renda a longo prazo, de reserva para a aposentadoria”, comenta.
Por isso, o planejamento passa por intensificar os investimentos no exterior justamente neste tipo de plano, que têm como objetivo ter entre 8% e 10% no exterior, enquanto os BDs e os CVs permanecem entre 2% e 3%. Segundo Serone, as alocações no exterior são em renda variável, não fazendo sentido, no momento, buscar renda fixa fora do Brasil.
“Lá fora, quando você investe em renda fixa, não tem o prêmio que você encontra no Brasil. Normalmente, é um valor pré-fixado. Para buscar renda fixa no exterior, teria de ser em países emergentes, como estratégia de descorrelação. E se for para fazer isso, a gente prefere ficar no Brasil. Além disso, a renda variável permite que a gente procure setores produtivos que vão performar e trazer ganhos um pouco maiores”, explica. “Fazemos um terço das aquisições com hedge da moeda e os outros dois terços sem, para que a gente possa aproveitar também a questão da variação cambial do portfólio.”
Unificando limites - Outra fundação que pretende ampliar investimentos no exterior é a Prevcom-SP. “. Tínhamos limites separados para exposição em Estados Unidos e Europa, de 2,5% cada, mas unificamos e aumentamos esses limites de 5% para 8% no total. Estamos estudando a melhor alocação para formatar a política de cada um dos planos”, relata o presidente da entidade, Sylvio Medeiros.
A entidade visa ampliar a atual alocação, que está em 2,77% da carteira de investimentos, para se proteger contra o que Medeiros classifica como “deterioração das perspectivas econômicas internas”. Segundo ele, “em um cenário no qual a dívida pública cresce além das expectativas, sem corte de gastos, com o dólar valorizando cada vez mais frente ao real e os juros americanos mostrando que não cairão na velocidade esperada, o investimento no exterior é uma alternativa bastante atraente”, diz.
Olhar para o futuro - Mas não são todas as entidades que estão dispostas a reforçar imediatamente as alocações no exterior imediatamente. A Fundação Copel, por exemplo, até tem em seu planejamento ampliar a carteira fora do Brasil, mas a expectativa é de que isso aconteça apenas no futuro, sem prazo estipulado.
“Temos como estratégia de portfólio maximizar a reserva do participante, então faz sentido colocar investimento no exterior, que tem como ponto forte a diversificação, a descorrelação. Estamos estudando alternativas para ampliar essa exposição, mas ainda está meio embrionário”, afirma o diretor de investimentos da Fundação Copel, José Carlos Lakoski.
Atualmente, a entidade conta com 7,30% de investimentos no exterior em seu Plano III, que se trata de um plano CV híbrido, sendo CD na capitalização e BD na fase de aposentadoria. As alocações fora do Brasil estão todas na parte CD, e a entidade estuda novas formas de levar essa opção de diversificação da carteira também para a parte BD.
“Na parte BD precisamos imunizar o fluxo, ter a melhor relação entre ativo e passivo. Diversificar sempre faz sentido, mas preciso buscar outra variável, que é a liquidez, por saber que preciso realizar pagamentos todo mês”, avalia Lakoski.
Ele se mostra entusiasta da opção de investimentos no exterior e, por isso, considera que o atual limite previsto na legislação de 10% da carteira fora do país deveria ser elevado para 20%. Segundo ele, desta forma, o Brasil “estaria seguindo mais de perto o que acontece na indústria mundial”.
“Não sei nem se no momento os fundos iriam explorar isso, pelas condições óbvias, taxas de juros, curvas que estão sendo fornecidas pelo mercado. Mas nas indústrias mais amadurecidas, o percentual de investimento no exterior é muito relevante, mesmo porque a gente tem aqui.