Edição 372
Deixar a entidade um pouco melhor do que a encontrou, com uma gestão baseada em resultados, é a meta de Edilene Araujo, presidente do Serpros, fundo de pensão dos servidores do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Graduada em Economia e com MBA em Finanças, ela começou a trabalhar na patrocinadora Serpro em 2007 e passou por diversas escalas gerenciais, além de ter sido superintendente de controladoria por dois anos. Em setembro de 2023 foi aprovada em processo seletivo para ocupar a presidência do fundo de pensão.
Estou aprendendo muito e o que desejo é deixar a entidade um pouco melhor do que a encontrei”, diz. Para ela, é fundamental também inspirar outras mulheres a que tenham coragem de ocupar espaços no mercado de trabalho. Vejo muitas profissionais competentes que não se julgam prontas mas isso não é tudo, é preciso em primeiro lugar ter disposição para aprender”, afirma.
Ela observa que a questão da equidade de gênero é um valor forte em sua vida mas no Serpros isso é bem equilibrado e há uma predominância feminina. A trajetória até aqui, contudo, exigiu muito esforço. “Para mim nada foi fácil, foi sempre fruto de muita dedicação e inspirada pela vida de minha mãe, que nos criou sozinha, com o seu trabalho em casa de família”, conta.
A decisão de Edilene foi a de trabalhar de segunda a sábado para pagar a faculdade e fazer bicos nos finais de semana. “A faculdade de Economia abriu as portas para a minha carreira. Fiz MBA em Finanças, passei no concurso do Serpro, fiz MBA em Orçamento Público e uma graduação em Tecnologia da Informação”, lembra.
No início da presidência ela fez uma ambientação para descobrir as prioridades, sempre com foco no participante. A conclusão apontou para processos que dependiam de soluções tecnológicas, então foram priorizadas tecnologias e soluções voltadas para adesão automática, requerimentos automáticos e diversas entregas que já foram feitas.
“Falta agora fomentar a capacidade analítica para a tomada de decisões baseada em dados. Há algumas necessidades tecnológicas que ainda não conseguimos suprir, mas tudo é pensado para aumentar a eficiência operacional e a produtividade da entidade”, diz.
O objetivo final é agregar valor para o participante com uma gestão que é focada em resultados. “Tento direcionar os times para explorar os recursos que temos, sempre olhando para a maior eficiência”, explica. Com R$ 8,5 bilhões em ativos sob gestão e mais de 13 mil participantes, o Serpros definiu diversas metas para 2025, que dependem da aprovação do Conselho Deliberativo, informa a presidente.
Uma educadora na previdência - Depois de iniciar sua vida profissional na área de comunicação e marketing, Denise Maidanchen, CEO da Quanta Previdência, optou aos 22 anos de idade pela especialização em investimentos no HSBC, banco que deixou o Brasil em 2014 após 17 anos de atuação. “Depois disso, aos 25 anos, fui gerir a carteira de renda fixa da Unicred, quando começaram os primeiros movimentos de qualificação e de comunicação no mercado de investimentos”, diz.
Mas a comunicação permaneceu como base de sua visão profissional. Até 2002, quando os fundos de investimento passaram a ter que marcar seus ativos a mercado, ela lembra que havia uma grande falha de comunicação. “Na época, ninguém sabia explicar nada sobre isso. Com a mudança da marcação, a comunicação e a educação financeira passaram a caminhar juntas com a gestão”, avalia.
Na Quanta, ela começou em 2004, na área de investimentos. Como administradora por formação, fez a transição por diversas áreas, ao mesmo tempo em que dava aulas em cursos de certificação CPA 10 e CPA 20. “Em previdência, é preciso saber conciliar resultados de curto prazo à questão do longo prazo. Na entidade, desde o início eu já tinha isso na cabeça, sabia que precisaria atuar como educadora e saber explicar a dinâmica dos investimentos aos participantes”, diz.
“O participante diz qual é o resultado que ele precisa e a reponsabilidade para buscar o melhor retorno possível é nossa”, afirma. Com cinco opções de perfis de investimento, a entidade tem a preocupação de evitar que os participantes transitem muito entre eles para não perder dinheiro.
“Ele pode migrar de perfil quando quiser, desde que respeite uma carência de seis meses entre as mudanças. Também monitoramos de perto aqueles com saldo a partir de R$ 200 mil e que estejam no perfil conservador mas querem mudar para o arrojado, assim como os participantes muito próximos da data de sua aposentadoria”, explica.
Há hoje 220 mil participantes e R$ 7 bilhões de patrimônio. “Somos a quarta maior em número de participantes e a maior em patrimônio no segmento de instituídos. Completamos 20 anos de existência atingindo 18% de crescimento patrimonial em 2024”, informa a CEO.
Entre as frentes de trabalho, ela enfatiza a plataforma de educação oferecida aos participantes e que traz conteúdo ligado ao tema da longevidade ativa, batizada de Acqua, que produz conteúdo sobre os principais aspectos ligados à longevidade: capital de saúde, capital intelectual, capital social e capital financeiro e já tem 28 mil alunos.
Eleita presidente do Lide Mulher de Santa Catarina, Denise comanda um time de investimentos na Quanta que é quase só composto por mulheres. “Isso reflete um pouco das habilidades da mulher, que consegue trazer informações e falar de modo mais entusiasta sobre os objetivos da previdência, tem mais paciência para explicar e fazer a comunicação com o participante”, explica.
ESG e presença feminina - Graduada em Letras e em Administração de Empresas, Francis Nascimento, diretora de investimentos da Prevcom, é especialista em finanças, com MBA pelo Ibmec. Em sua visão profissional, é fundamental que haja compromisso do gestor com os princípios de sustentabilidade dos investimentos (ESG) assim como o empoderamento feminino.
“A fundação já tem construído muito nesse sentido e conta com uma grande presença feminina, inclusive na presidência do Conselho Deliberativo e na diretoria administrativa”, diz. Na gestão dos investimentos da entidade, ela destaca a adesão ao código de stewardship da Amec e ao PRI (Principles for Responsible Investment).
Em sua avaliação, agrega muito à carteira conhecer os riscos e os impactos representados pelas empresas sobre a natureza e a sociedade. “Nosso objetivo é obter bons resultados mas isso precisa vir alinhado à responsabilidade social, ambiental e de governança porque um dia essa conta vai chegar e será convertida em prejuízos para as empresas investidas”, avisa.
Na Prevcom, cresceu a posição investida em fundos que têm essa preocupação, explica a diretora. “Nossa gestão de investimentos é 100% terceirizada, então avalio cada gestor sobre suas iniciativas. Queremos saber se ele é signatário do PRI mas também se avaliam os efeitos da c rise climática e das crises geopolíticas em sua alocação”, informa.
A entidade foi o 13º fundo de pensão brasileiro a aderir ao PRI, o que mostra um número ainda muito pequeno de EFPC nessa lista, avalia Nascimento. “É muito pouco se compararmos com as assets, que já são mais de mil signatários no PRI global e 117 no Brasil.”, analisa.
Perfil conservador - “Sem perspectiva de mudança conjuntural no cenário não deve haver queda de juros em 2025 e a estratégia de investimentos da Fundação Refer, de acordo com o ALM dos planos, é continuar a investir em renda fixa e em particular nos títulos públicos federais”, informa Cláudia Avidos, diretora financeira e AETQ da fundação, que acumula desde meados do ano o cargo de diretora-presidente em exercício.
Ela é graduada em economia e observa que sempre foi difícil encontrar mulheres em cargos de liderança no mercado de previdência. “Quando fui diretora da Braslight, foi um marco. Como presidente do Infraprev, cargo anterior ao atual, também foi um marco”, diz. Na Refer, ela encontrou um mundo essencialmente masculino no setor das ferrovias e a fundação ainda não havia tido uma mulher na diretoria até 2022.
À frente de uma fundação com R$ 10 bilhões em ativos, distribuídos por oito planos de benefícios, todos superavitários e solventes, Avidos não vê no momento espaços para a tomada de riscos. “Quando assumi a diretoria financeira, em 2022, estava tudo marcado a mercado. Este ano passamos a marcar na curva tudo o que foi possível dentro da legislação, para tirar a volatilidade dos planos”, diz.
Além de ser a primeira mulher da diretoria da Refer, ela é também a primeira a vir de fora. “Fui a primeira diretora a não ser participante dos planos e foi importante para a fundação trazer alguém de fora”, analisa Avidos, que foi escolhida para o cargo de diretora financeira pela Korn Ferry, empresa de recrutamento de executivos. “Isso deu maior transparência ao processo de seleção de investimentos”, acredita.
Quebrando tabus - “A presença feminina nesse mercado melhorou mas ainda não se conversa muito sobre isso”, observa a economista Patrícia Queiroz, diretora de investimentos da fundação Real Grandeza. Com uma trajetória que começou em 1991/92 e foi feita toda no mercado de investimentos, ela passou por mesas de operações e pela análise de ações e de empresas.
“O mercado financeiro era muito masculino e hoje observo que as mulheres AETQ ainda são poucas, mas há outras diretoras”, diz. Na Real Grandeza ela começou em 2001, fazendo análise de ativos e foi gerente de investimentos entre os anos de 2013 e 2018. “Na fundação nunca senti preconceito e, ao contrário, há muitas mulheres em cargos de diretoria. Em investimentos, porém, a maioria dos cargos é ocupada por homens”, conta.
Depois de um breve período de “liberdade poética” para estudar, que a levou a entrar no PDV no início de 2019, no final daquele mesmo ano ela foi convidada a voltar e assumir a diretoria de investimentos. “Foi um choque porque percebi que seria preciso trabalhar muito voltada ao pagamento de benefícios e à estabilidade. Rentabilizamos a carteira de maneira a garantir o fluxo e não pensar apenas em rentabilizar”, diz.
A responsabilidade do cargo, lembra Patrícia, vai além da fidúcia. “É preciso garantir a dignidade das pessoas na aposentadoria, os investimentos têm um compromisso de longo prazo, o que exige uma análise fidedigna”, afirma.
Entre as mudanças introduzidas, veio a terceirização da gestão de uma parte dos recursos e a montagem de carteiras que façam diferença no portfólio. “Mudamos o perfil da equipe de investimentos, que ficou mais enxuta. Reescrevemos os manuais de seleção de investimentos e gestores e há dois anos desenvolvemos uma ferramenta interna de ALM,”, conta.
Hoje a modelagem pode ser discutida com maior flexibilidade, sem perder a qualidade. Outra inovação foi abrir a carteira de investimento no exterior, que tem contribuído muito com o resultado. A fundação também concluiu este ano o processo de venda dos FIPs (Fundos de Investimento em Participações) de seu portfólio.
“Concentramos o esforço do time, composto por 13 pessoas, naquilo que realmente faz diferença, é uma combinação que se apropria de rentabilidade sem perdas abruptas”, diz. A diretoria de investimentos teve também o cuidado de dar ampla liberdade à equipe para fazer sugestões e trazer suas opiniões, explicitadas nos relatórios.
Patrimônio decrescente - No comando de uma equipe de investimentos que é 100% masculina e um time de administração que é misto entre homens e mulheres, Luciana da Cunha Gomes, diretora de Administração, Finanças e Investimentos da Sistel, é pragmática em sua visão. “Nunca vi isso como empecilho porque me preparei para atingir objetivos”, afirma.
Graduada em administração pela UNB em 1995 e com especialização em finanças, ela trabalhou na Funcef , passou dez anos em assets, esteve por três anos na Funpresp e chegou à Sistel em 2020. “As EFPC são uma grande escola e abrem portas no mercado por serem grandes clientes investidores”, afirma.
Como uma entidade madura, cujo patrimônio decrescerá a partir de 2025 devido ao pagamento de superávit, a gestão de investimentos só é ativa no caso do plano de Contribuição Definida (CD). Os outros recursos já estão carimbados para pagar benefícios. Ao todo são nove planos, três dos quais já estão fechados e a grande massa é composta por aposentados.
“O montante é suficiente para pagar os benefícios e, mesmo no plano CD, a renda fixa é a classe privilegiada hoje por conta do momento de mercado”, diz. Em outubro, 95% dos recursos, que somam patrimônio total de R$ 23 bilhões, estavam em renda fixa, principalmente títulos públicos, porque o crédito é uma alocação residual e a maior parte vem do passado”, afirma. A diretriz é que todos os planos sejam fechados, mesmo o CD, porque não há novos entrantes.
Um dos desafios para o próximo ano é a venda da carteira de imóveis da Sistel, que já foi grande mas hoje tem R$ 440 milhões e está concentrada em quatro cidades, com lajes corporativas em Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. “Estamos trabalhando para vender esses imóveis, o que será feito independente da legislação voltar ou não a permitir investimentos diretos na classe. ”, afirma.