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As mulheres que abrem caminhos
Dirigentes femininas superam resistências e se consolidam em postos de lideranças nas principais entidades previdenciárias do país

Edição 372

Leonello,Alexandra(Metrus) 24nov 03Torço por um mundo em que eu não seja mais a primeira, diz Alexandra Leonello Granado, diretora-presidente do Metrus que foi, em 2012, a primeira mulher a integrar a diretoria do Metrô – Companhia do Metropolitano de São Paulo. Assim como ela, outras lideranças femininas do mercado abriram – e abrem- caminho em diversos cargos e ocupam novos espaços.
Leonello ainda vê resistências mas acredita que as mulheres vêm consolidando sua posição e considera importantes as ações afirmativas nessa área. “Eu sempre trabalhei num mundo masculino. Entre 25 gerentes no Metrô, fui a única mulher, em seguida fui diretora e depois de mim não houve outra”, lembra. Para a sua geração, ela observa que o caminho foi mais complicado porque não havia referências próximas. “Eu fui a primeira da minha família a chegar à faculdade, em 1995, e a seguir uma carreira -, mas isso não me impediu de avançar profissionalmente”, afirma.
Como advogada e administradora de empresas, coordenou a área jurídica e depois assumiu a diretoria de assuntos corporativos do Metrô, além de ter atuado na assessoria da presidência da CPTM. Em 2015 recebeu o convite da diretoria para assumir uma vaga no Conselho Deliberativo do Metrus. “Queriam que eu assumisse como conselheira e me reportasse a eles porque queriam compreender melhor o funcionamento da entidade, que precisava reformular sua governança. Foi uma novidade total para mim e fiquei presidente do CD até o início de 2019, quando assumi a presidência executiva”, lembra.
“Na época o Metrus tinha sofrido muitas autuações da Previc relativas aos seus registros de informação e precisava fazer um upgrade da governança, um trabalho de alinhamento com a Previc que começamos a fazer ainda durante a minha presidência do CD, entre 2015 e final de 2018”, explica. Depois, ao assumir a presidência ela deu sequência ao trabalho.
Entre outras medidas, revisou processos, reestruturou a área de documentação e melhorou o registro das informações. “Além disso, implementamos um sistema robusto de gestão ERP na área de saúde porque a situação de ausência de controle era mais crítica nessa área”, explica. Hoje a fundação já conta com o selo de autorregulação em governança da Abrapp, comemora.
O maior desafio agora é o de rentabilizar os planos para não ter que equacionar contas diante da nova realidade da previdência, que é determinada pelo aumento da longevidade. “A longevidade traz um impacto, assim como a oscilação das taxas de juros, então a rentabilidade é um desafio enorme porque temos que arrumar dinheiro para sustentar essa longevidade no tempo”, afirma.
Com 11.504 participantes, R$ 3,6 bilhões de patrimônio e 99% de adesão aos planos, o Metrus está equilibrado em suas contas, informa Granado. Mas o seu plano de Benefício Definido sofre a pressão da longevidade. “Em 2023 não precisamos equacionar e este ano acredito que também não precisaremos fazê-lo, mas o BD está no seu limite legal, todo ano fazemos as contas e vemos que passa perto do limite”, afirma.
Ela enfatiza que hoje há regras que prestigiam a previdência privada, mas nem sempre foi assim. “No Brasil sempre vivemos na expectativa e com o desafio da regulação. A previdência complementar privada acabou relegada a poucas empresas patrocinadoras porque a legislação não incentiva essa prática”, lembra.
A aprovação da adesão automática e a reforma que afastou a ameaça da tributação sobre o estoque foram os dois principais avanços recentes, diz ela, “mas há espaço para o legislador estimular mais a previdência privada porque há poucas empresas entrando, há muitas obrigações e dificuldades. E o sistema oficial não vai dar conta”, afirma.

Trindade,ClaudiaAbertura ao mercado - Antes de assumir a presidência do fundo de pensão dos funcionários da Companhia de Saneamento do Paraná (Fusan) pela primeira vez, em maio de 2003, a engenheira civil Cláudia Trindade já atuava na patrocinadora, tendo começado como estagiária da área de engenharia da Sanepar alguns anos antes. Em 2000 ela foi convidada pela empresa a integrar o Conselho Deliberativo da fundação e três anos depois assumiu sua presidência executiva.
Ficou na entidade até 2010, quando voltou à Sanepar. “Fiquei na patrocinadora até 2015, na área de regulação, mas a empresa me mandou de volta à Fusan. Acho que a previdência corre nas minhas veias”, diz ela que dirige também a fundação SaneSaúde.
Criada em 1982 com uma única patrocinadora e um único plano, a Fusan, tem hoje quatro planos no modelo de multipatrocínio, com 33 patrocinadoras e patrimônio de R$ 2,8 bilhões. “Com o passar do tempo, principalmente de 2020 para cá, a fundação se abriu ao mercado e criou, em janeiro de 2020, um plano família, que hoje tem 1.500 pessoas. Em 2021 foi criado um plano especialmente desenhado para os servidores municipais, o Viva Mais Multi Prefeituras, que até 2023 contava com 32 prefeituras, 29 delas do Paraná”, explica a presidente.
“Esse crescimento mudou a nossa cultura interna porque não se trata mais de pescar no aquário da Sanepar e há 22 pessoas que trabalham nas regionais. No caso das prefeituras, o plano por enquanto tem 350 pessoas mas esperamos que agora, com os novos mandatos de prefeitos, ele possa se expandir”, diz.
Em relação à questão de gênero, ela lembra que quando estudou engenharia apenas 5% eram mulheres, mas as coisas vêm melhorando no mercado de trabalho e hoje esse percentual está meio a meio. “Há vinte anos eram poucas mulheres no mercado, mas nos últimos cinco anos isso vem melhorando”, afirma.
Ela lembra que, além das tarefas profissionais, a mulher também tem o desafio de ser mãe e avó. “Ela é multi-tarefa, consegue fazer tudo sem deixar a família de lado”, afirma.

Victal,Natalie(SulAmerica) 24dez 02Debate técnico - Em meio ao cenário polarizado que marca a realidade global, o debate econômico, que deveria ser técnico, tem sido contaminado por outros fatores, observa Natalie Victal, economista-chefe da Sul América Investimentos desde 2022. “Aqui temos sido bem sucedidos porque tentamos compreender os vieses do mercado e minimizá-los”, afirma.
O recente pacote fiscal, segundo a economista, veio menor do que prometia a área econômica do governo. Entre os problemas, ela aponta que o sucesso de algumas medidas dependerá de operações pente-fino e anti-fraude, o que é sempre um risco. E a reação do mercado, com a desvalorização cambial, poderá pressionar a inflação.
“Acredito que não devemos ter compromisso com o erro. Agora, por exemplo, revisamos o nosso cenário de juro, que era mais conservador e apontava Selic terminal a 12% mas passou para 13,5%”, informa. Ela avalia que o BC poderá fazer uma pausa quando chegar a esse patamar, para depois retomar ou não o ciclo de alta.
O mais relevante para a economista é não fazer análises pontuais mas identificar assimetrias de modo que os gestores consigam se posicionar. “Também procuramos passar aos gestores a nossa visão do balanço de riscos em torno das projeções pontuais, porque é esse balanço que gera retorno”, lembra Victal.
Em 2025, ela acredita que os EUA trarão ao mundo o resultado de uma “tempestade perfeita” ao combinar a atividade econômica em alta e as pressões resultantes da eleição de Donald Trump, com a tendência altista do juro americano.
Graduada em Economia pela UFRJ, ela pretendia ser diplomata mas, como não havia o curso de relações internacionais nas universidades públicas, escolheu esse caminho. “Vi que gostava da maneira do economista pensar mas ainda não tinha muita visão do que fazer e decidi terminar minha graduação no Reino Unido”, conta.
De volta ao Brasil para o mestrado na PUC-RJ, ela escolheu a macroeconomia e começou a estagiar na asset que pertencia a seu orientador, Carlos Viana de Carvalho, a Kyros Investimentos, que mais tarde fechou.
Já em São Paulo, depois de passar por outras assets, foi para a Garde Asset Management. “Acertei algumas leituras relevantes lá. Em 2020, eu estava mais otimista do que o mercado com a atividade econômica e isso gerou bons resultados e trouxe mais visibilidade para mim”, diz.
O convite para liderar o departamento de economia da Sul América veio em seguida, o que foi o grande passo de sua carreira, diz Victal. “Minha trajetória profissional é fruto de muito esforço meu e do apoio da minha família, uma base que foi importante inclusive como mulher negra. A minha personalidade combativa também ajudou”, observa.

Dupita,Adriana(Bloomberg) 24dez 02Nova cara da economia - Com quase 30 anos de trajetória no mercado, iniciada em 1996, Adriana Dupita é deputy chief emerging markets economist da Bloomberg, com foco em Brasil e Argentina. Ela compõe um time de 50 pessoas e enfatiza um dos principais desafios da análise econômica: “O economista precisa ser um estabilizador do humor do mercado e não tomá-lo pelo seu valor de face”, avisa.
A diversidade das equipes é um valor importante. “Porque ela nos permite reunir os analistas mais experientes e os mais jovens, que trazem ferramentas mais novas e que não estavam à nossa disposição quando começamos”, explica.
Ela lembra que até 1997, quando se formou na Faculdade de Economia e Administração da USP, havia dois ou três alunos para cada aluna. “Mas nunca parei para pensar nisso, abracei a área de pesquisa econômica e nem notava muito o aspecto masculino da área. Mas de cinco anos para cá começou a crescer o número de mulheres em cargos de liderança, economistas-chefes”, explica.
Ela analisa que a necessidade de aprendizado e reciclagem são constantes. “Hoje é preciso olhar além da projeção do IPCA, discutir as tendências estruturais e como isso vai afetar a dinâmica das atividades nos diferentes setores da economia”, pondera. “Na Bloomberg, criamos um time de geoeconomics, uma intersecção entre a análise dos objetivos geopolíticos e as suas ferramentas e implicações econômicas”, conta.
Segundo ela, “há também um time de comércio internacional – trade and climates – que trata das mudanças climáticas e o seu impacto econômico, como será o regime de chuvas e secas no Brasil e na Argentina e quais serão os custos fiscais desse impacto”.
Outro tema importante ao qual o mercado praticamente não dá importância é o da desigualdade, cujo impacto político e econômico determina o crescimento do consumo. Segundo ela, no recente pacote de ajuste fiscal divulgado pelo governo, a isenção de IR para os que ganham até R$ 5 mil reais recebeu críticas injustas. “O timing da divulgação foi ruim, mas a proposta é boa e estava mais do que na hora de acontecer porque não se pode colocar todo o peso do ajuste em quem ganha menos, então temos que dar o mérito ao governo por fazer isso”, diz.
Em 2025, o direcionamento da política econômica do governo Trump dará o tom ao cenário, com potencial impacto no ritmo de corte de juros americanos e nas economias emergentes. “Será o primeiro ano desde 2021 a registrar crescimento sincronizado de todos os países emergentes, que têm perspectiva de desinflação em ritmos diferentes para cada país”, afirma.
Tudo irá depender, no entanto, da direção adotada pelo governo de Trump, que agora tem o comando do Senado e da Câmara. “Não sei se é razoável dizer que o segundo mandato dele será igual ao primeiro, mas se o comportamento do governo for errático, há um impacto potencial que poderá colocar um limite para novos cortes de juros nos EUA e nas economias emergentes”, diz.