Edição 371
Em time que está ganhando não se mexe. A frase pode servir para a atuação vitoriosa, pelo menos até o momento, do Instituto Totum no mercado de certificações para dirigentes e profissionais de Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). A empresa certificadora domina, nada mais nada menos, que 95% das certificações realizadas até o mês de setembro de 2024, segundo dados do Ministério da Previdência Social. Bem distante, aparecem a Apimec Brasil com 2,7% do mercado, seguido pela Abipem, com apenas 2,3%. O total de certificações vigentes até o momento é de 13,7 mil (ver tabela).
Com as novas regras e prazos para as certificações, definidas pela Lei 13846/2019, mas que começaram a ser exigidas de fato a partir de julho de 2024, o mercado deve triplicar de tamanho. As certificações anteriores (CPA 10 e CPA 20) valerão apenas até o vencimento com limite máximo até dezembro deste ano. Estimativas de profissionais e consultores, apontam que cerca de 35 mil profissionais que atuam em regimes próprios deverão contar com certificações específicas. Olhando para o crescimento do setor, as certificadoras que possuem hoje uma pequena fatia do mercado, estão se movimentando para ganhar mais espaço.
Fabricio Ambrósio, gerente de certificações da Apimec Brasil, comenta as ações da associação para ganhar competitividade. Se antes a certificadora atuava de forma restrita para a certificação de pessoal de investimentos, agora está ampliando seu leque de serviços nesta área. “Com as novas regras de certificações, além de seguirmos com a linha de investimentos, buscamos também certificar as outras modalidades, de dirigentes e de membros dos conselhos deliberativo e fiscal”, diz.
As novas modalidades de certificação devem ser lançadas até o final do ano em conjunto com uma nova parceira, a FK Partners. Antes a Apimec mantinha parceria com a FGV Prepona, mas com a estratégia de crescimento, decidiu mudar. “A FK é uma das maiores escolas de finanças do Brasil, com uma plataforma exclusiva aliada ao uso de inteligência artificial e ferramentas modernas, já utilizadas e testadas na aplicação de exames online de outras certificadoras”, explica Ambrósio.
Até o momento, a Apimec oferece apenas a linha de certificação de investimentos, que é o CP RPPS CGINV, mas com a nova parceira já pediu, e conseguiu, autorização do Ministério para oferecer as demais possibilidades de certificação.
Custo x Benefício - Um ponto crucial para competir com boas chances neste mercado é a questão do custo mais acessível. É que os regimes próprios são entidades altamente sensíveis aos preços porque precisam realizar processos de licitação para a contratação de serviços. Não adianta, portanto, oferecer um serviço com uma qualidade supostamente melhor, se o custo for muito maior que o do concorrente. Essa característica explica a desigualdade no tamanho da fatia do mercado entre as três instituições que são habilitadas para atuar no segmento.
Enquanto a Totum oferece preços mais competitivos que os da concorrência, aliados a uma plataforma online que chega a praticamente todos os regimes próprios do país, as outras duas instituições transitavam numa faixa superior de preço.
“As provas do Instituto Totum são realizadas de forma online, facilitando o dia a dia do profissional, que pode realizá-las de onde estiver, sem precisar se deslocar para centros de exames”, explica Celina Almeida, diretora sistêmica e de relacionamentos do Totum.
Questionada sobre a questão do preço mais baixo e de ações estratégicas para alcançar a liderança isolada do setor, ela não quis responder para não revelar os diferenciais do instituto. “Não é possível informar nossos preços, dado o sigilo de negócio”, respondeu. Em uma pesquisa nos sites das certificadoras, porém, é possível verificar que os preços das certificações mais baratas oferecidas pela Abipem, por exemplo, são mais caras que quaisquer modalidades ofertadas pelo Instituto Totum.
“Hoje detemos mais de 90% das certificações concedidas. Nossas metas incluem aumentar o número de profissionais certificados e aumentar a visibilidade de nossa atuação nesse segmento”, reforça Celina.
Correndo por fora - Enquanto Apimec e Totum parecem se preparar para aumentar a competitividade via preços, a Abipem aposta na qualidade e na credibilidade das certificações. Lúcia Helena Vieira, assessora da presidência da Abipem e responsável pela área de certificações, lembra que a associação foi habilitada como entidade certificadora pelo processo de provas há apenas dois anos. Já a habilitação por provas, títulos e experiência veio apenas em 2024. Apesar de mais de 44 anos de atuação como associação representativa dos regimes próprios em todo o país, a entrada no segmento de certificadoras é bastante recente.
“Fomos habilitados por uma portaria do Ministério [da Previdência Social] em 2022 e agora estamos ampliando as modalidades de certificação. Podemos certificar todos os níveis, básico, médio e avançado. Vamos chegar em breve aos 500 certificados emitidos”, comenta Lúcia Helena. Ela explica que a Abipem não tem uma meta numérica para alcançar no mercado porque concentra seu foco em um processo de certificação diferenciado. A associação mantém parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“É uma certificação diferenciada com a vasta experiência da FGV na elaboração e aplicação das provas. Não temos meta de crescimento. Queremos continuar oferecendo um serviço de certificação de alto nível aliada à nossa credibilidade”, diz a representante da Abipem.
Outro ponto importante é o foco específico da associação, que oferece certificação apenas para o setor de RPPS, diferentemente de suas concorrentes, que atuam em outros segmentos. A Abipem e a FGV oferecem uma rede de mais de 250 pontos físicos de provas presenciais espalhados nas cinco regiões do país, que também funcionam na modalidade online.
O Instituto Totum, que ao contrário de seus dois concorrentes não possui parceria com outras instituições educacionais, garante que os padrões das suas provas não deixam a desejar. “O sistema foi totalmente desenvolvido pelo Instituto Totum e possui padrões de segurança aprovados por diversos outros segmentos para os quais prestamos o serviço de certificação profissional”, afirma Celina Almeida, do Totum.
Forte procura em 2025 - A demanda pelas certificações deve aumentar fortemente durante o ano que vem. Além do início da vigência das novas regras, a entrada de novos prefeitos eleitos em 2024, que assumirão seus mandatos no próximo mês de janeiro, é um fator que deve alavancar a procura pelas certificações de novos dirigentes. “É um mercado potencial muito grande que será impulsionado com a mudança de prefeitos e a nomeação de novos dirigentes, com um maior volume de certificações”, diz Vinícius Sá, superintendente geral da Apimec Brasil.
Além disso, as novas regras também gerarão forte demanda. A regulação determina que até dezembro de 2025 pelo menos um terço dos membros dos conselhos deliberativo e fiscal e a maioria dos dirigentes e dos membros do comitê de investimentos deverão ser certificados. Além disso, o gestor de recursos deverá ser certificado previamente antes de assumir o cargo.
As regras atuais ainda permitem que todos se certifiquem no nível básico, independente do porte do RPPS. Mas até dezembro do ano que vem, ou com o vencimento da certificação atual, isso deve mudar. A certificação deverá estar adequada ao tipo de porte do regime próprio, que são os seguintes: especial (estados e Distrito Federal), grande, médio e pequeno. Para cada porte será exigido um patamar adequado de certificação. Por exemplo, para o porte especial, será aceito apenas o nível avançado para o dirigente máximo.