Edição 371
Após uma sequência de cerca de 15 meses de spreads em queda, durante os quais as grandes corporações conseguiram captar a taxas historicamente baixas, parece que a tendência começa a se inverter. Refletindo isso, o Índice de Debêntures da Anbima (IDA) já mostrou uma ligeira alta na virada de outubro para novembro, passando de CDI + 1,32% para CDI + 1,39% (no início do ano estava em CDI + 12,8%).
“É algo bem importante para a gente, porque mostra que os alocadores em crédito, gestores, não estão mais dispostos a aceitar a forma como a taxa estava evoluindo. Ela vinha diminuindo para um nível que a gente considerava preocupante, que mal pagava a administração dos fundos”, avalia a head de crédito privado da Bradesco Asset, Ana Rodela.
Segundo a especialista, a confiança na queda da taxa Selic que existia no início de 2024 fez com que o planejamento do ano fosse elaborado em torno da perspectiva de fortalecimento da renda fixa, especificamente do crédito privado. Com o passar do tempo, o aumento nas emissões e a diminuição de boas oportunidades fez com que o preço dos ativos fosse se fechando, mas fechou demais e agora começa uma fase de inflexão.
“Estamos em fase de virada do mercado. No começo do ano o IDA vinha ganhando com folga do CDI, mas agora está praticamente igualado, às vezes até perdendo”, analisa o gestor de fundos de crédito privado da BB Asset, Pedro Rauber. Ele considera que o nível a que chegaram os spreads nos últimos meses não eram naturais nem sustentáveis.
Expectativa 2025 - A expectativa para o ano que vem é bem diferente. Como as emissões com boas notas de rating tiveram os prêmios bastante reduzidos, justamente por conta da imensa demanda ao longo de 2024, os ativos que podem gerar os maiores retornos no ano que vem são justamente aqueles que impõem os maiores riscos.
Para encontrar oportunidades em meio a esse cenário desafiador, os gestores pregam cautela e estudo. “Os prêmios dos ativos mais óbvios estão bastante reduzidos e temos dificuldade de aceitar os riscos dos investimentos que parecem mais rentáveis. Precisamos olhar para setores menos óbvios”, analisa o head de crédito da Santander Asset Management (SAM), Guilherme D’Aurea.
Setores como os de consumo, saúde, educação, internet, entre outros, ficaram estressados nos últimos tempos e geraram aversão dos investidores. Porém, com a inflexão do mercado, são neles que estão as melhores oportunidades. O trabalho, agora, é garimpar investimentos que façam sentido na relação risco/benefício.
“É uma mudança de ciclo, exige outra estratégia dos gestores. Deixamos de conseguir a qualidade de forma tão clara. Então, estruturalmente, o planejamento passa pela cautela para ver como vai se acomodar o cenário. É importante ter profundidade em termos de caixa e escala para esperar o melhor momento de investir. Teremos que ser mais seletivos”, afirma Rauber, da BB Asset.
Diversificar classes - Além de buscar segmentos econômicos menos óbvios, os gestores precisam diversificar as carteiras dos fundos. “Como os ciclos não são lineares, quanto mais flexível for o fundo, mais a gente consegue ir movendo nossa carteira entre diferentes ativos, com comportamentos diferentes”, afirma o gestor de crédito da Icatu Vanguarda, Alan Antônio Corrêa Júnior.
Segundo o dirigente, papéis como debêntures abertas, debêntures 12.431 e títulos bancários “são muito demandados e acabam tendo maior compressão de spreads”. Para conseguir melhores taxas a gestora passou a direcionar investimentos também em FIDCs, CRIs, debêntures fechadas, FIDCs Mezanino (ou Subordinada) e Bonds Offshore. “Com mais flexibilidade, você garante resiliência e mais capacidade de gerar retornos”, afirma.
É a mesma visão da SAM. Segundo D’Aurea, a equação para a busca de rentabilidade passa por ativos menos líquidos, não tão negociados no mercado secundário, em especial os FIDCs. “Os FIDCs normalmente são menos líquidos, você tem dificuldade para ter curva de preços e marcação mais ativa. Com isso, pode-se obter prêmios maiores”.
Na visão de Rodela, da Bram, o ideal seria que o novo ciclo de alavancagem dos spreads acontecesse “de forma gradual”, para evitar a repetição de 2019 quando um ajuste abrupto resultou em uma escalada de resgates por parte dos investidores.