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André Esteves e Rogério Xavier cobram novas medidas do governo

andre estevesA SPX Capital prevê uma queda de 5% do PIB brasileiro em 2020 como reflexo da pandemia do coronavírus. Diante do quadro assustador que se desenha à frente, o sócio da SPX, Rogério Xavier e o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, cobraram novas medidas do governo para tentar minimizar os impactos da paralisação na economia.

“O mundo está sofrendo um baque sem precedentes. No mês que vem faço 35 anos de mercado, e nunca vi nada parecido”, disse Xavier, durante uma live no YouTube promovida pelo BTG Pactual digital na quarta-feira (25). “Não por outro motivo temos visto os bancos centrais e governos através do Tesouro tomando medidas que não foram adotadas nem na crise de 2008”, afirmou o gestor. Xavier disse ainda que, apesar do Banco Central do Brasil (BCB) já ter anunciado algumas medidas, elas ainda são insuficientes e é preciso mais. “O Brasil ainda está alguns passos atrás em relação ao que o mundo está fazendo”, disse o gestor. “Por mais que tenham sido anunciadas medidas, elas me parecem ainda muito modestas pelo tamanho da crise que a gente vai passar pela frente”.

Esteves, que também participou da live, fez coro ao alerta feito por Xavier quanto à necessidade de novos estímulos, mas ressaltando a importância de essas medidas não causarem impacto fiscal para as contas públicas. “Temos um BC muito qualificado no Brasil, muito técnico, mas acho que a autoridade monetária ainda tem sido muito tímida em sua atuação”, afirmou Esteves. Segundo o fundador do BTG Pactual, o principal problema no cenário atual não é uma eventual falta de liquidez para o sistema financeiro, mas sim para que essa liquidez flua para a economia real, uma vez que os canais de transmissão estão interrompidos neste momento. “Infelizmente tivemos o sinistro, e é hora de usar o seguro”.

Tanto Esteves quanto Xavier também refutaram novas reduções da taxa Selic como solução para tentar resolver o problema. “Caso a taxa de juros seja reduzida novamente, haverá um aumento nos prêmios da curva de juros nos vértices mais dilatados, o que ocasionará em aumento nos spreads e encarecimento do crédito, fazendo com que o afrouxamento monetário acabe gerando um efeito contracionista na economia”, explicou Esteves, que disse ainda que o BC pode adotar medidas que destravem o crédito para o tomador final sem que seja necessário fazer subsídios ao sistema financeiro, que é saudável e não precisa de ajuda para fazer isso, segundo avaliação do próprio banqueiro. “Não é nem uma questão de originalidade, basta copiar medidas que têm sido adotadas nos Estados Unidos, na Europa ou mesmo em outros países da América Latina como o Chile”. O fundador do BTG Pactual também defendeu um aumento da intervenção do BC no câmbio, com um incremento nas vendas das reservas internacionais para conter a escalada do dólar.

Os dois experientes profissionais do mercado também demonstraram preocupação com as trocas previstas no comando da Câmara dos Deputados e do Senado a partir de 2021. “Apesar de saber que o Rodrigo Maia não é uma unanimidade, ele consegue ter uma organização da Câmara e acho que se trata de uma figura importante para o Brasil nesse momento, e não vamos poder contar com ele no ano que vem”, disse Xavier. “Se não tivermos uma união do governo em todos os níveis, federal, estadual, municipal, e na sociedade brasileira, a gente vai ter problema”, afirmou o gestor da SPX, que disse que o momento não é de procurar potenciais pechinchas no mercado, dada o nível de incerteza que ainda impera. Para ele, a prioridade agora deve ser tentar preservar o capital dos investidores.

“Como sociedade, temos que cobrar dos que elegemos uma atuação com bom senso e racionalidade, e em uma situação de extrema dificuldade e desafios, que atuem acima de tudo pelo bem da população e não por interesses próprios de uma futura eleição”, encerrou Esteves.