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Além de fundos florestais, nova área da XP foca em agro e carbono

Bruno Castro XPCom a incorporação do portfolio manager Cleidson Rangel, que veio do Hancock Natural Resource Group no Brasil, a XP Asset inaugurou uma célula de investimentos em ativos ligados a recursos naturais que, além do fundo florestal anunciado no início desse mês, quer entrar também em fundos de terras agrícolas e de controle de emissão de carbono. O fundo florestal, a ser lançado até o final deste semestre, é o que recebe no momento toda a atenção e os outros dois produtos devem ficar para depois, explica o CEO da XP Asset, Bruno Castro, sem dar maiores detalhes dessas novas operações. “Percebemos que, embora a casa já tivesse um leque de ofertas completo, faltava uma célula dedicada a recursos naturais e trouxemos um profissional com experiência para comandá-la”, diz Castro. “Essa é uma área que já é demandada há algum tempo pelos endowments e institucionais lá, acreditamos que acontecerá o mesmo por aqui”.
No Brasil, o potencial de recursos naturais ainda é pouco explorado e sua descorrelação com os ativos financeiros devem ser o principal atrativo para captar recursos junto aos institucionais. Além disso, a área vai permitir à asset dar novos passos no mercado de investimentos ESG. “Queremos crescer em investimentos sustentáveis, até porque nos tornamos signatários do PRI, e vemos potencial para um aumento continuado da demanda por ativos reais, com baixa volatilidade e prêmio atrelado à inflação, como os fundos florestais. Os ativos reais ganham espaço também globalmente, frente ao aumento de liquidez nos mercados”, aponta o CEO.
O público composto pelos fundos de pensão brasileiros e as seguradoras é o alvo prioritário e a asset mapeou a demanda junto às entidades fechadas de previdência complementar que têm metas atuariais a cumprir. Com o fechamento da curva de juros das NTN-B, aumentou o espaço para esse tipo de produto e vai continuar a haver mesmo com a alta da Selic, “O ponto de inflexão dos juros no Brasil e seu impacto sobre os mandatos que precisam cumprir metas atuariais está entre os principais estímulos, mas é preciso lembrar também que o Brasil é o mercado que mais cresce na economia de produtos naturais”, avalia Cleidson Rangel.
Ao mesmo tempo, os investidores precisam atender à pressão pela sustentabilidade de suas carteiras e pelos critérios ESG. O fundo de investimentos florestais que a gestora deve lançar até o final deste semestre, com perspectiva de captação de R$ 2 bilhões, utilizará florestas plantadas de áreas que manterão 50% da floresta nativa preservada, com os dados a serem submetidos a institutos certificadores internacionais. A asset quer atingir também os investidores institucionais estrangeiros, que já investem em fundos florestais nos EUA e na Austrália e têm limitações para a compra direta de terras no Brasil.

Atratividade - No fundo florestal, Rangel lembra que um dos principais pilares de atratividade está nos atributos da floresta plantada, que não para de crescer e têm seus ciclos de produção de madeira mantidos, o que permite adiar o corte até que as condições de demanda e de preços sejam interessantes. Ou seja, as cotas dos fundos ficam isoladas das turbulências que atingem os mercados. ”A pandemia exacerbou dois aspectos em 2020: aumentou o consumo de papel destinado às indústrias de embalagens e de higiene e, paralelamente, aprofundou a percepção da importância da sustentabilidade ambiental e social, que passou a ser um item na linha de frente da economia”, analisa Rangel.
Um dado relevante, diz o gestor, é que no Brasil apenas 8% das florestas plantadas estão nas mãos dos investidores institucionais, enquanto na Austrália, por exemplo, esse percentual chega a 50% das florestas cultivadas. Entre os fundos de pensão dos EUA, 3% dos ativos estão alocados nessa classe. No Brasil, há atualmente nove milhões de hectares de florestas plantadas, ou 1,2% do território total, com foco principalmente em eucaliptos e pinus destinados em 40% à produção de madeira para a indústria de papel e celulose. “Juntos, esses dois tipos de madeiras representam 90% das florestas plantadas, com o restante destinado a espécies ainda mais exóticas (não nativas do Brasil), como o mogno africano, acácia e teca”, explica Rangel.
Com a alta das commodities no mercado global, a madeira segue na mesma toada e registra demanda crescente. Um dos segmentos promissores é o de pelets de madeira para exportação, produto substituto do carvão mineral na geração de energia renovável em mercados como o europeu, por exemplo, cuja legislação cortou o consumo de carvão mineral, e que tem potencial para crescer nos próximos anos, diz Rangel.