Mainnav

Integração ESG chegou ao ponto de não retorno, analisa Pimentel

Gustavo PimentelSitawiA elevação da taxa Selic e a perspectiva de juro real atrativo em 2022 não devem produzir danos ao processo de integração dos investimentos aos critérios de sustentabilidade – ambientais, sociais e de governança (ASG) ou ESG na sigla em inglês– à medida que as carteiras migrarem de volta para a renda fixa. “Chegamos a um ponto de não retorno nos investimentos ESG, pode haver algum solavanco momentâneo pela migração de capital para títulos públicos mas, entre os investidores institucionais, já temos visto alguns mandatos ESG grandes de fundações. E na classe de crédito privado, por exemplo, os investidores continuarão interessados por causa do juro alto”, avalia Gustavo Pimentel, diretor executivo da Sitawi Finanças do Bem.
A integração ESG às carteiras, que vinha em “passo de formiga”, diz ele, ganhou fôlego de 2018 para cá entre os institucionais impulsionada em parte pelos fatores regulatórios e pela redução do juro, que levou à migração na direção dos ativos de risco, principalmente para renda variável e crédito, nas quais a análise ESG já era mais disseminada . Esses princípios, porém, estão espalhados agora por diversas classes. “Assessoramos diversos fundos de investimento em private equity e há um avanço interessante de integração ESG ao longo dos últimos dez ou quinze anos na parte de originação de ativos e diligência junto às empresas. Isso acaba levando aos IPOs empresas melhores em sustentabililidade porque já estiveram expostas a isso antes de chegarem ao mercado”, explica.
O aumento das emissões de títulos verdes (green bonds) também ajudou nesse processo. “São dois mundos diferentes, os títulos verdes e os normais, que conversam apenas por meio da alocação de renda fixa, mas os títulos verdes acabaram tendo um efeito catalítico na introdução do conceito de sustentabilidade”, diz.
Em dezembro de 2021, o Brasil bateu a marca de R$ 78 bilhões em operações de dívida rotuladas (104 operações no total em 2021). Os dados parciais do ano já representam um aumento de 174% comparado a 2020 em volume total e 142% em número de operações, segundo os dados da Sitawi.
Como no Brasil o mercado ESG ainda é ditado pela oferta, que fica à espera dos institucionais, há uma confusão conceitual entre o mero foco em produtos e os processos efetivos de integração. “Se você olhar apenas para o segmento de títulos verdes e energias renováveis vai encontrar uma oferta restrita mas o ESG vai muito além disso, não pode ser visto apenas como uma caixinha de alocação”, pontua.
Os fundos de pensão, aponta Pimentel, precisam entrar mais nessa agenda pelo caminho da gestão terceirizada de investimentos onde podem encontrar boa composição de risco/retorno. “No exterior, a prateleira ASG é enorme, não há mais desculpa para não fazer esse tipo de alocação”, afirma.