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Alternativos foram o principal motor da fusão da Jive com a Mauá

FerreiraGuilhermeJiveUnir forças para ganhar maior tração na área de investimentos alternativos foi o principal indutor da decisão da Jive Investments e da Mauá Capital de fundirem suas operações, anunciada na última quinta-feira (12/05). A fusão criou uma nova casa com R$ 13 bilhões sob gestão, dos quais R$ 8,3 bilhões vêm da Jive e cerca de R$ 4,7 bilhões da Mauá.
“Começamos a conversar há cinco ou seis semanas e tudo evoluiu muito rapidamente, porque de um lado havia complementaridade dos produtos e de outro a identificação entre as culturas”, diz o sócio fundador da Jive Investments, Guilherme Ferreira.
Segundo ele, as duas gestoras caminhavam na mesma direção, a do mundo dos produtos alternativos. Enquanto a Mauá havia abandonado o segmento de fundos líquidos há cerca de um ano, para concentrar forças na gestão de fundos imobiliários listados, fundos de infraestrutura e de saneamento, a Jive ia na mesma direção mas pelo lado dos ativos distressed. “Ambas queriam crescer em alternativos”, conta Ferreira.
Com a união, a Jive ganha espaço na área imobiliária, além de infraestrutura e private equity. A gestora atua como plataforma integrada de investimentos em ativos com foco na originação, aquisição e recuperação de crédito, direitos creditórios, precatórios, imóveis e outros ilíquidos. E tem 4,6 mil investidores profissionais e qualificados no Brasil e no exterior.
Luiz Fernando Figueiredo, CEO da Mauá e ex-diretor do Banco Central, assumirá a presidência do Conselho de Administração da Jive, enquanto Bruno Bagnariolli, CIO da Mauá, passará a fazer parte do comitê executivo da Jive e continuará à frente da gestão da Mauá. Durante a fase de integração, a nova casa manterá o nome das duas gestoras, Jive Mauá, até porque ambos são fortes em seus segmentos.
A Mauá tem 17 anos de mercado, seis a mais do que a Jive, que foi criada há onze anos. Também é menor em recursos sob gestão, com R$ 4,7 bilhões enquanto a Jive tem R$ 8,3 bilhões. Essas diferenças, porém, não atrapalharam o processo de negociação. “Discutimos e resolvemos pontos sensíveis em poucos minutos porque as coisas eram muito sinérgicas e complementares”, afirma Luiz Fernando Figueiredo. “Foi impressionante. Percebemos que poderíamos levar nosso sonho em conjunto”.
A gestão dos fundos das duas casas seguirá a mesma, sem necessidade de assembléias para trocas de fundos, mas desde o anúncio da fusão a gestão passou a contar com a experiência mútua. A parte formal, incluindo os comitês, continua inalterada. “O talento está no time”, lembra Figueiredo, então a equipe será mantida e talvez ampliada no futuro.
Eles não descartam, inclusive, a possibilidade de novas aquisições. “O objetivo é sermos a plataforma mais completa de alternativos e com essa fusão atingimos um ponto importante, mas se aparecer alguém com complementaridade de negócio e identidade de cultura, iremos analisar”, avisa Ferreira.

Aposta - O crédito imobiliário é uma aposta firme da nova casa, aproveitando o conhecimento e a base da Mauá . “Esse é um mercado que nos EUA já é maior do que o da dívida pública, mas aqui no Brasil ainda é pequeno”, afirma Figueiredo. Esse volume tem que se multiplicar e tem potencial, tanto em papel quanto em tijolo, porque está só começando.
Para o ex-diretor do BC, o Brasil tem a vantagem de estar um pouco descolado dos problemas que afetam outros mercados globais, até porque já começou o seu ciclo de elevação de juros antecipadamente, no ano passado. “Eu diria que 70% a 80% dos nossos problemas são gerados localmente mesmo. O lado positivo é que o nosso balanço de pagamentos está saudável; podemos ter problemas de financiamento mas, por várias razões, houve uma democratização de investimentos alternativos nos últimos anos e o mercado de capitais se multiplicou”, avalia Figueiredo.
Ele acredita que o Brasil está no final do ciclo de alta do juro. O juro divide os alternativos em dois grupos, os que se beneficiaram do cenário de juro baixo e, no lado oposto, como ocorre agora, os que conseguem resultados melhores em ambiente de taxas elevadas. “O momento é propício para o crédito, mas a inadimplência traz oportunidades em ativos distressed e aqueles mais problemáticos”, ponta Ferreira.
Com um mandato amplo o suficiente para selecionar as classes de acordo com a conjuntura do mercado, a visão da Jive é de que o próximo ciclo será de precatórios porque há demanda para pagar as outorgas de concessões e privatizações, o que aumentará a demanda no mercado secundário. No crédito, a estratégia aproveita as boas empresas, com estrutura enxuta e boa gestão e que tenham problemas de liquidez provocados pela pandemia e pela compressão de renda. "Elas vão precisar de capital para atravessar esse vale e vamos usar mecanismos que misturam equities e dívida”.
Em infraestrutura, a fusão trouxe um diferencial para a Jive uma vez que a Mauá tem atuação forte nesse segmento, o que combina com o objetivo da casa, até porque é possível usar precatórios para pagar outorgas em leilões e concessões. A casa já tem um pedaço relevante de infraestrutura em um de seus fundos, que investe em dívida de empresas seja na parte mezanino seja na parte mais sênior, para fazer financiamento ponte.