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Elas aprendem com os erros
A experiência ensina às mulheres que mais importante que não errar é a capacidade de aprender o que fazer com os erros cometidos

Edição 372

Porchat,Ligia(AtenaCapital)A percepção da desconfiança do mercado em relação à liderança feminina está explícita na origem e na estrutura desenvolvida pela Atena Capital ao longo de onze anos desde sua fundação, em 2013, pela engenheira civil Lígia Porchat, sócia e diretora de gestão. “Éramos eu e uma sócia, que já não está mais na casa, e foi naquele momento que percebi a grande dificuldade que enfrentaríamos por sermos mulheres. Parte dessa insegurança nos levou a não montar uma área comercial, porque sabíamos que não haveria chance de captar recursos tão cedo”, explica.
O projeto de abertura da asset, inclusive, chegou a ser adiado por um ano, devido a um conselho negativo e equivocado recebido pelas sócias. Por sete anos a casa funcionou sem área comercial, na certeza de que duas mulheres recém-chegadas ao mercado “não iriam vender apenas batendo na porta dos investidores”, afirma Porchat.
Onze anos depois, o pilar central da gestora é sua área de risco, que nasceu justamente pelo excesso de conservadorismo. “Eu achava que não poderíamos errar, mas hoje sei que o mais importante não é isso e sim o que você faz com os erros cometidos”, avalia Porchat.
O conservadorismo levou à criação de processos duplos de controles e de backups. “Como resultado, ao longo desses onze anos e apesar de todas as crises que o mercado atravessou, conseguimos que os nossos resultados caíssem menos do que os dos pares, graças aos mecanismos que criamos para minimizar os riscos de eventuais erros”, diz.
A casa, focada principalmente na renda fixa e em particular no crédito privado high grade, procura descobrir o que poderá dar errado nos ativos e sobreviver ao pior dia de cada turbulência no mercado. “Passamos bem melhor pelas crises. Hoje temos R$ 950 milhões sob gestão, mais de 90% em renda fixa e um pouco em renda variável”, afirma.
Durante oito anos muito voltada ao público private, a casa também decidiu diversificar seu passivo e, nos dois últimos anos, buscou mais o investidor de varejo. Foi um trabalho que começou a ser feito ainda em 2021 e que resultou em mais de cinco mil cotistas de varejo.
“O objetivo agora é chegar ao investidor institucional e abrimos um canal para isso, com a adaptação de dois fundos para esses investidores”, diz. Depois de quatro meses de trabalho nesse sentido, a asset recebeu em outubro o seu primeiro cliente, um fundo de pensão. Hoje a gestora tem 35% dos recursos vindo do varejo, 20% de multi family offices, 15% de private e o restante de fundos previdenciários. Mas a intenção é terminar 2025 com um percentual de 15% dos ativos de institucionais, no mínimo.
“O mercado já tem essa percepção do processo que nos leva a cair menos do que os pares nesses momentos e é nas crises que mais temos captado”, afirma.
Com 44 anos de idade e 19 anos de profissão, Lígia Porchat é graduada em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP e pela University of Applied Sciences – GieBen, na Alemanha.
Em 2006, de volta ao Brasil, ela foi a primeira mulher contratada pela Scopos Investimentos, no mercado de ações. Em seguida foi para a Lacan, em 2008, para ser analista de ações. “O Luiz Candiota, diretor-presidente da Lacan, me estimulou a tirar o CGA e fiquei lá até 2013, quando saí para montar a Atena”, lembra.
Hoje, diz Lígia, o ambiente inóspito e não-acolhedor do mercado para as mulheres está se adaptando às exigências das novas gerações e isso favorece as lideranças femininas. “A nossa equipe é diversa, mas procuro entrevistar sempre mulheres. A diretora de risco e compliance também é mulher. São onze pessoas ao todo na equipe, das quais cinco são mulheres”, conta.

Scal,Anita(RioBravo) 23jul 01Referência em FII - “Meu grande sonho é chegarmos a ter, no Brasil, cada Fundo de Investimento Imobiliário (FII) como um grande REIT (Real Estate Investment Trust, os fundos imobiliários dos EUA). Nesse modelo, a saída de um locatário não influencia tanto na rentabilidade, então devemos caminhar para nos inspirar mais nisso”, antevê a economista Anita Scal, sócia e diretora de investimentos imobiliários da Rio Bravo Investimentos.
Ainda que a Resolução CVM 175 tenha trazido uma visão mais ampla dos FII, ela observa que no Brasil eles continuam a não ser estruturados como empresas, ao contrário dos REITs, que são empresas no mesmo formato de uma companhia de capital aberto.
Scal também vê horizontes para fomentar a classe em setores específicos, como os de imóveis residenciais e os fundos híbridos, além do varejo de rua e dos imóveis corporativos.
A constante transformação e evolução da classe dos FII está no radar dessa economista graduada pela FAAP desde o início de sua experiência profissional nesse mercado, em 2006, quando chegou à Rio Bravo.
Hoje à frente de uma equipe que conta com outros 19 profissionais, responsável pela gestão de R$ 11,1 bilhões em fundos “de tijolo” e Fundos de Fundos (FoFs) de FII, ela acredita que o fundo imobiliário é o instrumento mais democrático do mercado de investimentos porque o investidor consegue enxergar tudo o que acontece, com total transparência. “Temos que fomentar isso, ensinar e educar o investidor. Para nós, o crescimento orgânico dos fundos é primordial porque eles têm uma vida de longo prazo”, lembra.
Atraída pela área imobiliária desde cedo, sob a influência de seu pai, que sempre trabalhou com imóveis, sua trajetória na asset foi marcada pela transformação. Antes disso, entre os anos de 2002 e 2006, ela estagiou na Multi DTVM, empresa que resultou da cisão do antigo Banco Cidade, do banqueiro Edmundo Safdié, onde ajudou a operacionalizar a empresa na área de private bank.
“Quando vim para a Rio Bravo, a casa tinha uma maioria de FII passivos e eu estava na área de serviços fiduciários. Havia FII, FIDCs e outros, mas “limpamos” a grade para ficar exclusivamente com os FII”, explica.
Em 2008 teve início a nova estratégia de gestão, com a migração do primeiro fundo fiduciário da instituição para o modelo de gestão ativa, no segmento de renda corporativa. “A área cresceu rapidamente de lá para cá e hoje todos os FII ativos da asset têm o meu toque”, lembra Scal, que passou a ser sócia em 2009.
A passagem da gestão passiva para a ativa foi um desafio importante que exigiu tanto o aprendizado regulatório como fazer frente ao trabalho característico da gestão ativa e de falar com o investidor.
Além disso, ela lembra que houve todo um trabalho de aprendizado de liderança e formação de equipes. “Cheguei à asset com 26 anos, hoje tenho 44 anos e dois filhos, e nesse período atravessamos diversos picos de mercado, incluindo a crise de 2013, com o mercado praticamente fechado. “É preciso fazer as coisas acontecerem, ter seriedade no trabalho e ser uma liderança inspiradora”, diz.
A presença das mulheres no mercado financeiro evoluiu muito ao longo desses anos, avalia Scal. “Sempre houve nessa indústria, e mesmo na asset, casos de preferência dos próprios clientes por profissionais homens, mas sempre tive uma visão muito clara de que nós vencemos pelo exemplo e pelo trabalho”, afirma.
Na classe de FII, como há diversos públicos investindo, havia clientes que não queriam “falar com meninas”, enquanto outros preferiam ser atendidos por nós porque consideravam que tínhamos maior tato para falar e dar explicações. Hoje não vejo mais essa diferenciação”, avalia.
Para ela, o principal preconceito do mercado de trabalho em relação às mulheres diz respeito à perspectiva de que essas profissionais venham a ser mães e sair em licença-maternidade. “Mas veio a disseminação dos conceitos ESG (responsabilidade ambiental, social e de governança) e o bloqueio de gêneros já diminuiu muito. Aqui na asset isso aconteceu de forma muito natural, embora o mercado como um todo ainda tenha muito a aprender em termos de diversidade de gênero”, acredita.

Freitas,Matilde(BNY) 24dezConexão global - À frente do projeto que começará a transformar o modelo operacional do conglomerado BNY no País a partir de 2025, Matilde Freitas, diretora estatutária e head de operações do negócio de asset servicing para o Brasil, vê como o principal desafio implementar essa mudança sem trazer grandes impactos para os clientes. O projeto, que é alinhado ao desenho adotado globalmente pelo BNY, baseado em plataformas, espera trazer uma transformação substantiva para a área no Brasil.
“O objetivo é dar maior agilidade na resposta às demandas do mercado e trazer mais soluções globais com grande benefício a longo prazo. A mudança será feita em ondas, como ocorreu em outros países, sendo que o framework da primeira onda no Brasil será implementado em março do próximo ano”, explica. No momento, o trabalho é de mapear produtos e desenhar a plataforma.
O framework global já existe porque o modelo está em sua terceira onda lá fora, mas localmente será preciso capacitar as equipes e treinar os profissionais nas diversas ferramentas, como as de Inteligência Artificial. “O treinamento é a prioridade estratégica da instituição para 2024 e 2025”, diz. Para a executiva, o fator mais importante para enfrentar esse desafio é priorizar as conexões com as pessoas, especialmente em momentos de grandes mudanças.
Ao mesmo tempo, ela lidera a equipe de 320 profissionais responsável por operacionalizar o ciclo de vida dos fundos de investimento de acordo com a regulação e autorregulação. “Em 2024 vivemos um momento de mudanças regulatórias na indústria, com a edição da Resolução CVM 175, que nos impacta assim como aos distribuidores, clearings, a todos os nossos clientes. Do total de 2,6 mil fundos de investimento que temos entre custódia e administração, cerca de 400 já estão convertidos a essa norma”, conta.
Com a maior parte de sua trajetória profissional de quase 30 anos construída na companhia, Freitas é graduada em Tecnologia da Informação pela PUC-RJ e tem MBA em Finanças pelo Ibmec. Desde 2000 no BNY, passou por diversos cargos, desde analista de desenvolvimento de sistemas até head de tecnologia para a America Latina.
“Desde 2014 passei a me reportar ao gestor fora do País, o que foi um grande desafio. Em 2024 veio outra mudança expressiva, quando passei da área de engenharia para a de operações, com o objetivo de fazer a conexão global e navegar nos diferentes grupos”, afirma.
“No início, eram poucas as mulheres na área de engenharia e tem sido uma experiência marcante para mim participar dos vários grupos internos de reflexão sobre diversidade e inclusão”, diz. Ela é executive sponsor desses grupos internos e participa de iniciativas similares em outros países da América Latina.
Além disso, Freitas participa do Be Together, iniciativa organizada pela B3 que reúne mulheres do mercado financeiro. “O grande ganho é a troca de informações sobre o que deu certo e o que deve ser focado daqui para a frente, as discussões são bastante ricas e sabemos que nunca estamos sozinhas”, diz. Outra vantagem é poder ecoar os resultados para toda a indústria, não só em relação à diversidade de gênero mas em outras frentes, como a racial.

Rocha,Marcela(PrincipalClaritas) 24dez 01Preocupação nos emergentes - Ainda que o Banco Central brasileiro tenha agido corretamente ao elevar a taxa Selic, o cenário macroeconômico local ainda não traz suficiente visibilidade sobre esse ciclo monetário porque há dúvidas sobre as políticas fiscal e monetária, o que independe do BC, avalia Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas.
“Com o pacote fiscal anunciado pelo governo, ainda estamos distantes de ter uma maior calmaria e maior previsibilidade porque há dúvidas sobre o cumprimento do arcabouço fiscal, então o cenário é delicado, complexo e incerto”, afirma.
“Além desse ambiente na economia local, o mundo também não nos dá o benefício da leniência e isso traz incertezas para o médio e o longo prazos”, avalia a economista. Há dúvidas que envolvem a política econômica a ser adotada pelo governo de Donald Trump, mas os sinais indicam que o corte do juro nos EUA será mais lento. “Com o mercado dos EUA atrativo para o investidor, ao mesmo tempo em que a China segue em desaceleração, o cenário que se desenha não é bom para os mercados emergentes”, observa.
Sob o ponto de vista da análise macroeconômica, momentos como o atual deixam mais clara a demanda dos investidores e dos gestores por informação qualificada. “É fundamental procurar fazer a diferença com a leitura e a tradução das informações da melhor forma possível. Ter disciplina de processos é essencial”, diz a economista.
Para ela, que está há onze anos na asset, depois de ter passado pelo banco Fator, o ambiente de trabalho no mercado financeiro é de alta intensidade. “Precisamos buscar aprimorar a capacidade técnica mas também compreender o lado humano, entender qual é o ponto forte de cada um, ouvir as diversas opiniões e estar em sintonia com todas as áreas”, afirma. Esse processo, avisa Rocha, exige trocar figurinhas com os gestores o tempo todo e saber antecipar suas dúvidas.
Quando chegou à Claritas, a instituição ainda passava por uma reorganização após a sua compra pela Principal, explica. “Passamos a fazer morning calls e comitês duas vezes por semana, introduzimos análises feitas por meio desses calls e comitês de forma organizada”, lembra.
“A médio e longo prazos conseguimos passar por vários ciclos do mercado de maneira construtiva, como por exemplo o período final do governo Dilma Roussef”, conta.
Hoje ela vê o ambiente para os emergentes mais cauteloso, dependente de uma melhor compreensão do que será o governo Trump. “Ele gosta de ser imprevisível e tem determinação em relação às suas principais escolhas, como as questões de imigração, à imposição de tarifas à importação e à redução de impostos”, lembra.