Mainnav

Fundos de crédito dão o tom
Em um 2024 marcado pela busca por renda fixa, gestores identificam opções para diversificar carteira e fugir do risco

Edição 371

Pacheco,Marcelo(BB) 24outNo terceiro ano consecutivo de dificuldades para os gestores dos ativos de risco, a renda fixa de modo geral e os fundos de crédito privado em particular deram o tom ao comportamento dos investidores de todos os segmentos de público, deixando em compasso de espera a alocação em renda variável e as demais alternativas de maior risco. A mudança de rumo na condução da política monetária brasileira, com a passagem da expectativa de baixa da Selic para um novo ciclo de alta, é a marca deste segundo semestre e tende a seguir como o principal driver das decisões em 2025, segundo avalia Marcelo Pacheco, diretor de investimentos da BB Asset Management.
“O ano 2024 tem sido desafiador para o mercado, mas apesar disso conseguimos manter uma captação boa, um pouco parecida com o que acontece na indústria, ou seja, concentrada em renda fixa porém ligeiramente positiva em renda variável e negativa nos multimercados, ainda que nesse caso menos negativa do que a da indústria, então de modo geral estamos com uma captação melhor do que a do mercado”, diz.
Justificado pelo momento de elevadas taxas nominais e reais de juros, o apetite concentrado pela renda fixa mostra também que os instrumentos para alocar nessa classe têm se diversificado, diz o gestor, com um crescimento importante das estratégias ativas da casa no Brasil e em outros países, em especial nos Estados Unidos.
No centro desse cenário, predomina o crédito privado, tanto aquele dos fundos que investem em ativos incentivados quanto os não incentivados. “O crédito privado tem sido o maior destaque e temos obtido boa performance, mas tudo o que poderia vir de positivo para esse mercado em termos de taxas, já aconteceu”, aponta Pacheco.
Daqui para a frente, o comportamento do crédito será diferente, uma vez que os preços já estão muito comprimidos. “Não vemos, porém, qualquer evento que possa impactar esse mercado Não deverá haver maior achatamento dos preços e até poderá ocorrer algum ajuste pela frente, mas sem que aumente o risco”, afirma.
Por enquanto, o cenário indica que o mercado de investimentos continuará a ser “mais do mesmo”, porque o País está no início de um ciclo de aperto do juro. “Há também preocupações com os juros nos EUA, diante das dúvidas se haverá hard landing, soft landing ou no landing na economia americana”, lembra Pacheco.
No Brasil, a renda variável precisa enfrentar a realidade do juro em alta e da má performance da Bolsa no último ano, o que se traduz em baixo incentivo para o investidor. “Quem decidir comprar bolsa brasileira porque os preços estão baratos, precisará ter muita paciência e pensar inclusive que a bolsa poderá ficar ainda mais barata. Além disso, há a competição com o CDI, que hoje é um maratonista”, diz
Na renda fixa, que deverá manter a dianteira sobre as demais classes, o que se percebe é uma sofisticação maior das possibilidades, com destaque para os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDC) e outros estruturados. “Temos feito gestão desses fundos mas só em casos excepcionais porque a nossa intenção é fazer isso por meio de parcerias. Usamos os FIDCs para compor os nossos portfólios mas não pretendemos ampliar a gestão própria dessa classe de fundos e sim utilizar parceiros como a Occam e a JGP ”, explica Pacheco. Neste momento os FIDC são os de maior destaque, por guardarem semelhança com os instrumentos tradicionais de crédito e porque têm demanda mais adequada ao momento de mercado.
Em 2025, o objetivo é consolidar uma série de ações já iniciadas. “O próximo ano deverá começar muito parecido com o atual, em que demos um salto muito grande de qualidade em análise e gestão de crédito”, afirma. Seguem no foco também a diversificação geográfica, que já tem crescido com mais operações da asset na classe de renda fixa no exterior; os fundos de investimento imobiliário (FII) e os instrumentos de investimento ligados à sustentabilidade.
A intenção é aproveitar melhor a sinergia trazida pelas parcerias para ter uma postura mais ativa em todas essas frentes. Na lista dos parceiros, além da Occan e da Trígono, que se uniram à asset por meio de acordos feitos em 2022 e em 2023, chegaram este ano a JGP, gestora focada em investimentos sustentáveis e cuja parceria resultou na criação da Régia Capital, e a Iguatemi S.A. para consultoria em Fundos de Investimento Imobiliário (FII).

Investimento em times - Desde o início do segundo trimestre de 2023, frente à perspectiva de que haveria uma melhora no mercado de crédito privado após os eventos da Americanas e de outras empresas ocorridos no início do ano passado, a Itaú Asset Management passou a investir mais em seus times de crédito. Isso permitiu à gestora aproveitar o ciclo de oportunidades desse mercado que viria em 2024, explica Carlos Augusto Salamonde, diretor de gestão de investimentos globais da instituição. “O ciclo previsto veio e o ano abriu forte, foi proveitoso para o crédito líquido mas também trouxe espaço para o crédito estruturado. A janela de 12 meses após os eventos foi limpando gradualmente, houve um salto grande de rentabilidade de modo que 2024 será encerrado como um ano de crédito, com um destaque extraordinário conforme já prevíamos”, afirma.
Um dos focos de crescimento foi a mesa de produtos estruturados, parte da estrutura multi-mesas da asset, que tem tido expansão forte desde que foi criada, há três anos e meio, e este ano superou o volume de R$ 20 bilhões. Na classe de crédito líquido, a gestora já conta c om R$ 430 bilhões sob gestão, tendo registrado captação de R$ 120 bilhões este ano até outubro, informa Salamonde. “Houve um rally tão forte que a maioria dos nossos fundos de crédito líquido está fechada para novas captações, com o fechamento de spreads ao longo do ano. Mas o ciclo ainda é muito bom para quem conseguiu montar carteiras no momento correto. Não estamos pensando em dar um call de saída do crédito, mas a verdade é que a maior festa nesse segmento já acabou”, diz.
Fora do mundo do crédito, o próximo ciclo deve trazer oportunidades importantes para a renda fixa ativa tanto no cenário nacional como no internacional, acredita Salamonde. E há uma perspectiva positiva também para os fundos multimercados, que viveram um quadro difícil nos últimos 12 a 18 meses. “Mas enxergo um bom momento para esses fundos daqui para a frente, quando poderão entrar num círculo virtuoso devido ao novo cenário dos mercados. Até aqui houve uma dificuldade para os gestores de multimercados entenderem a dinâmica do Fed (banco central dos EUA) e os movimentos de inflação e do mercado de trabalho americanos, mas agora as coisas estão mais claras e os multimercados podem operar as curvas de juros com maior facilidade”, avalia.
No Brasil, a nomeação de Gabriel Galípolo para presidir o BC retira incerteza do mercado. Segundo Salamonde, “agora os bons gestores de multimercados têm um ambiente mais propício, mas a classe de ações continua bastante machucada”.
A área de multimercados, que integra o sistema multimesas da instituição, aproveita o momento em que algumas casas independentes passam por um processo de consolidação, para trazer bons profissionais. “Estamos querendo crescer nessa classe e já temos um time que veio em 2023 da gestora Garde, para gerir a família de fundos “Alvorada”, e outro time, do Bruno Serra, que também veio em 2023, para a família de fundos “Janeiro”, explica Salamonde. Os FIDC mais tradicionais também estão entre os objetivos de expansão. “Vamos continuar combativos no mercado de crédito líquido, tanto nas operações primárias quanto nas secundárias”, diz.
Segundo ele, a área de Investment Solutions possui R$ 400 bilhões sob gestão, incluindo R$ 200 bilhões em fundos de fundos (FoF), e a tendência é de que haja crescimento cada vez maior dessa área.

Alternativos garantem alpha - “O ano de 2024 tem sido positivo para a renda fixa, mas esse foi um beta do mercado e todos captaram bastante nessa classe. Onde geramos alpha mesmo foi nos fundos alternativos, com mais de R$ 6 bilhões em captações no ano até setembro, em ofertas públicas para fundos de longo prazo, sendo mais de 50% em Fundos de Investimento Imobiliário (FII)”, conta Bruno Castro, CEO da XP Asset.
Com captação de R$ 600 milhões num fundo de infraestrutura para renda desde março, a casa tem obtido volumes significativos também no segmento de crédito special situations com cotas mezanino, num fundo que captou R$ 1 bilhão este ano e pretende fazer nova captação até dezembro, com a oferta de cotas mezanino de recebíveis de empresas de precatórios, crédito consignado e cotas estruturadas internamente.
“O retorno vem sobretudo da estruturação e originação de crédito. Em 2023, originamos cerca de R$ 25 bilhões em crédito e equities e usamos muito o nosso ecossistema interno para fazer isso”, afirma Castro. Este ano já há R$ 15 bilhões em originação ativa até outubro em crédito e um pouco em equities.
A casa está em meio à oferta pública de um FIP de infraestrutura para ganho de capital,voltado a fundos de pensão e RPPS. “Na classe de FIPs, o mais importante é entender as oportunidades do mercado. A infraestrutura é a grande aposta no momento, mas estamos abertos a discutir oportunidades seja em venture capital, private equity ou special situations”, diz.
A XP Asset tem crescido junto aos investidores regulados – EFPC, RPPS e seguradoras, daí a importância da montagem da área de Investment Solutions, hoje com R$ 100 bilhões de AuM, que engloba renda fixa, renda fixa/crédito, ETFs (fundos de índices), mandatos indexados, fundos off-shore, carteiras administradas e fundos de fundos (FoFs), explica Luiz Sorge, chefe da área de mandatos exclusivos.
A área pode usar todas as competências de tecnologias e acessar as estratégias da XP e de terceiros. Além disso, ele lembra que a casa já mantinha uma atuação importante para assegurar que o crescimento junto aos investidores regulados ocorresse de forma segura, mas decidiu avançar e montar uma estrutura específica para isso. “ Montamos uma área de segurança e controles para que esses investidores não tenham problemas com os seus reguladores tanto em controles de risco quanto em regulação e enquadramentos”, explica Sorge.
“O ano de 2025 ainda será de volatilidade global e local, com o Brasil entrando em ano pré-eleitoral, então estamos trabalhando para manter uma gestão prudencial sem perder de vista a busca de atratividade”, diz Sorge. A Resolução CVM 175, por sua vez, deve trazer maior facilidade para que a Previc olhe os FIPs e FIIs, o que será importante quando os fundos de pensão voltarem a investir em ativos ilíquidos de longo prazo, espera o gestor.

Foco previdenciário - Com metade de seu patrimônio dividido entre recursos de fundos de pensão e dos Regimes Próprios de Previdência Social, os RPPS, a BNP Paribas Asset Management no Brasil mantém o crescimento junto a esses institucionais. “Somadas as entidades de previdência aberta e as seguradoras, chegamos e 56% do patrimônio e seguimos crescendo. Já vieram 18 novos mandatos de institucionais este ano até setembro, o mesmo número de novos mandatos conquistados em todo o ano de 2023, e temos expectativa de trazer mais seis deles nos próximos meses”, conta Aquiles Mosca, CEO da gestora. Os institucionais utilizam fundos abertos e exclusivos, com predomínio dos exclusivos e principalmente da classe de renda fixa, concentrada em crédito privado, explica.
Entre as razões para ampliar o número de mandatos desses investidores, avalia o gestor, está o desempenho da casa frente aos problemas ocorridos no mercado de crédito brasileiro recentemente. “Conseguimos evitar o impacto dos problemas ocorridos nesse mercado em 2023 e também no primeiro semestre de 2024 no setor de varejo, com o pedido de recuperação extrajudicial das Casas Bahia. Isso ajudou a trazer mais mandatos porque eles oferecem taxas de retorno superiores às das NTN-B dentro do perfil high grade, o que contribuiu para aumentar a captação e também a receita”, diz.
A gestora adequou sua carteira de crédito privado à conjuntura do mercado, com maior volume de recursos em caixa e menor duration dos ativos, reduzindo o prazo médio que era superior a dois anos para um ano e meio. “Fica difícil separar o joio do trigo nesse mercado com os spreads tão amassados como estão este ano”, explica Mosca.
Entre os novos mandatos, além da renda fixa e em especial do crédito privado, que prevalecem, começa a aumentar o interesse dos investidores institucionais pelos fundos de fundos (FoF), principalmente em fundos multimercados. “O apetite por essa classe de fundos cresceu de 2023 para cá porque tem havido muita troca de gestores entre os Fofs de multimercados, em meio à consolidação desse mercado”, diz Mosca.
A asset também está reforçando a oferta de fundos no exterior e acabou de abrir um fundo de investimento em ações de empresas voltadas às tecnologias disruptivas, que chegou ao Brasil em outubro. São ativos de mídias sociais, carros elétricos, transição energéticas. O fundo, que é gerido pela equipe de ações da asset em Boston, tem patrimônio de US$ 1,7 bilhão lá fora. No Brasil, é um feeder que investe 100% em ações globais, sendo que hoje 60% dos recursos estão alocados na bolsa americana. O fundo segue as exigências do Capítulo 8 da regulação europeia para investimentos sustentáveis, que obrigam a integração dos princípios ESG. A preocupação ESG continua central nos produtos da gestora, afirma o CEO da gestora.

Ranking - Data base 30/06/2024 (arquivo em pdf)

Raio X - Data base 30/06/2024 (arquivo em pdf)

Ranking Geral e Maiores (arquivo em pdf)

Por Segmentos (arquivo em pdf)

Por Classes (arquivo em pdf)

Por Estruturas Assets (arquivo em pdf)

Por Estruturas EFPCs (arquivo em pdf)

Empresas no Ranking (arquivo em pdf)