Na trilha do CDI
Melhor Consultor de Investimentos para RPPS • Ronaldo Borges

Edição 369

Em fevereiro de 1997, após receber a edição nº 7 de Investidor Institucional, publicação que tinha sido lançada um ano antes, a diretoria do extinto banco carioca Graphus incumbiu um membro da sua equipe de viajar a São Bernardo do Campo, município do ABC paulista, para se inteirar sobre o que eram exatamente aqueles institutos municipais de previdência citados na matéria de capa da revista.
A reportagem contava que tais institutos, que passariam a se chamar regimes próprios de previdência social a partir de 1998 com a Emenda Constitucional nº 20, já somavam cerca de 500 espalhados pelo Brasil. Um deles, o de São Bernardo do Campo foi destacado na reportagem por ter à época cerca de R$ 100 milhões de patrimônio e R$ 26 milhões em gestão terceirizada. Ronaldo Borges, da área comercial do Graphus, foi designado pela diretoria para ir à São Paulo contatar o RPPS.
Desde aquela época muita coisa mudou. Os institutos tornaram-se RPPS, passando de cerca de 500 para pouco mais de 2,2 mil, o Graphus foi comprado naquele mesmo ano pelo banco inglês Robert Fleming, adotando no Brasil o nome de Fleming Graphus, que por sua vez foi comprado pelo Chase Manhattan três anos depois.
Borges passou por várias casas de investimentos depois do Graphus e há nove anos montou sua própria empresa, a Mais Valia, especializada em dar consultoria de investimentos e treinamento para RPPS. A Mais Valia tem hoje cerca de 75 RPPS como clientes, sendo 30 no Rio de Janeiro, 8 no Paraná e o restante espalhados pelo Brasil. O patrimônio consolidado desses 75 institutos soma cerca de R$ 17 bilhões.

Cautela com CDI – O conselho dado por Borges aos institutos que assessora, nesse cenário macroeconômico de incertezas locais e globais, é que “canja de galinha e CDI não fazem mal pra ninguém”. Segundo ele, o CDI é sua recomendação para o segundo semestre, pois consegue bater sem dificuldades a meta atuarial dos institutos, que é de IPCA mais 5%, em média. Numa conta rápida, somando um IPCA de 4,20% com juros atuariais de 5%, em média, isso dá cerca de 9,20% de meta enquanto a Selic, que referencia o CDI, está pagando 10,50%. “Além de cobrir a meta, tem a vantagem de ser uma aplicação de curto prazo”.
“A gente tem sugerido, sistematicamente, o encurtamento das carteiras, com redução de exposição em fundos IMA-B, IMA-B 5, IDkA e IRF-M”, explica Borges. “Além disso, também estamos recomendando diminuir a exposição a pré-fixado. Como tem mais risco da inflação subir do que de cair, seja por causa de petróleo, de dólar, e nessa situação o pré-fixado sofre muito, nossa recomendação é também reduzir o pré”.
Em relação ao mercado acionário, ele considera uma incoerência a situação atual, que combina juros altos com Ibovespa batendo recordes em suas máximas históricas. Ele acha que no atual cenário, que inclui juros altos, eleições indefinidas nos Estados Unidos, guerra em dois teatros (Ucrânia e Gaza) as bolsas têm muito mais possibilidade de terem uma correção para baixo do que para cima, razão pela qual sugere reduzir a exposição no mercado acionário dos Estados Unidos, inclusive em BDRs e fundos ligados ao MSCI para quem tem, e não entrar em posições novas em ações no Brasil.

Qualificação – Ele avalia que o nível técnico das decisões de investimentos tomadas pelos RPPS tem melhorado muito nos últimos anos, seja em função de exigências que o regulador impôs através do programa Pró-Gestão ou de melhorias na qualificação dos dirigentes que vieram em decorrência dos cursos de formação e treinamentos. “Eu vejo claramente uma melhoria do perfil técnico, quer do comitê de investimentos ou dos dirigentes, pela exigência de certificação e dos cursos de capacitação”, explica.
Segundo ele, num evento recente onde esteve, observou dirigentes de RPPS fazendo perguntas muito pertinentes, e as vezes bastante incisivas, aos palestrantes dos painéis de renda fixa, títulos públicos, renda variável. “Perguntas tecnicamente muito embasadas. Sem dúvida, o nível de qualificação técnica dos RPPS melhorou muito nos últimos anos”, arremata.