Edição 369
No início deste ano, quando a Aditus começou a traçar a política de investimentos para seus clientes do segmento de fundos de pensão, a Selic vinha numa trajetória descendente e a maioria das fundações acreditava que 2024 terminaria com a taxa básica de juros em torno de 8,5% ou 9% ao ano. Ao invés disso, o que aconteceu foi uma mudança de rumos por parte do Banco Central e a trajetória descendente foi substituída por uma política de manutenção e até de alta da Selic. Atualmente, a projeção da taxa básica para 2024 é de 10,5%, mas há analista que já falam que pode chegar a 11% até o final do ano, 200 pontos base acima do que os investidores projetavam em janeiro.
Claro que uma diferença desse tamanho, de cerca de 200 pontos base, faz diferença na política de investimento das entidades. A primeira mudança é que o planejamento de tomar mais risco nas carteiras foi substituído pela manutenção do nível de risco das carteiras, com as fundações mantendo o máximo possível de NTN-Bs nas carteiras. “Em meados de agosto tivemos um vencimento enorme de NTN-Bs, de cerca de R$ 250 bilhões, e os fundos de pensão tinham cerca de 10% disso, o que dá algo em torno de R$ 25 bilhões. Mais da metade dos nossos clientes pediram estudos para ver se podiam alongar, comprando mais NTN-Bs quando aquelas vencessem, mas os estudos que fizemos mostraram que não havia mais espaço para alongar”, explica Benites.
O motivo? Desde o início de 2023, pelo menos, as Entidades Fechadas de Previdência Complementar vêm adotando em larga escala uma política que, na falta de um nome mais preciso, passou a ser chamada de “imunização” dos passivos. Essa política consiste na compra de títulos públicos longos para casar com as necessidades atuariais das carteiras, principalmente dos planos de Benefícios Definidos. Embora seja uma estratégia sem grandes sofisticações, é a mais adequada na situação atual, onde títulos de praticamente todos os vencimentos estão pagando 6% acima da inflação, permitindo às entidades cumprir com folga seus compromissos atuariais.
Frustração com multimercados – Além da atratividade dos juros, as EFPCs tiveram também uma frustração grande com os fundos multimercados nos últimos dois anos, que eram uma aposta de muitas entidades. Nos balanços mensais da Anbima, os multimercados são a classe de fundos que mais perde recursos mensalmente para a renda fixa. “O multimercado, até agora, tem tido uma frustração enorme em termos de resultado”, comenta Benites.
Outra estratégia que marcou as operações das EFPCs nos últimos dois anos foi a incorporação de crédito privado nas carteiras. Num primeiro momento, logo após o evento das Lojas Americana, os spreeds abriram bastante e as entidades reforçaram suas posições com esses ativos. Porém, a partir do segundo semestre de 2023, passado o efeito de Americanas, os spreeds voltaram ao normal e as entidade tiveram um grande trabalho para enquadrar esses papeis em suas novas realidades. “Eu diria que, a rigor, o crédito é um tema que nunca saiu de pauta”, diz Benites.
Perfis de investimento – Outro ponto que ele destaca como merecedor de atenção é o papel que os perfis de investimento dos planos de Contribuição estão desempenhando na definição das estratégias de investimentos das entidades. Como a maioria têm oferecido perfis aos participantes dos CDs, e 80 a 85% desses participantes têm preferido os perfis conservadores para aproveitar as taxas de juros altas, no final do dia são esses participantes que estão influenciando a estratégia da fundação.
“Acho que não é estrutural, é conjuntural, mas preocupa. Porque é a visão de investimentos do assessor da plataforma, que é uma visão de curto prazo, definindo os rumos de um investimento previdenciário de longo prazo”, comenta. “Eu acho ruim para o caráter previdenciário do investimento, porque se o participante trata o perfil da mesma maneira que ele está tratando o dinheiro dele que está em plataforma, no fim do dia a ideia do longo prazo do investimento previdenciário se perde”.
Benites tem mais de 20 anos de atuação na área de assessoria de investimentos à fundos de pensão, tendo começado em 2002 na consultoria Risk Office, que já não existe, e junto com outros sócios, vindos também da Risk Office, fundou a Aditus em 2011. É formado em matemática pela Universidade de São Paulo (USP).