Edição 369
Depois de um primeiro semestre bastante complicado para o cenário macroeconômico, os últimos movimentos relacionados à política monetária dos Estados Unidos indicam uma queda gradual dos juros naquele país e uma migração de moedas fortes para países onde os juros ainda estejam elevados, caso do Brasil, favorecendo uma recuperação do Real. É o que avalia o gestor de fundos de ações internacionais da Safra Asset, Lúcio Rebouças. “Acreditamos que estamos vivendo um momento com uma combinação muito boa para que tenhamos a valorização das moedas dos países emergentes, tanto por causa dos juros como também pela atratividade dos seus mercados acionários”, diz. “O Brasil está numa situação muito favorável.”
Formado em Engenharia de Computação pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Rebouças atua no Banco Safra desde 2014, após passagens por Duna Asset Management (atual BJP Capital) e Banco Santander. Vencedor da categoria Melhor Gestor de Ativos Cambiais do Troféu Benchmark de 2024 da revista Investidor Institucional, ele apresenta os motivos que o fazem confiar em um último quadrimestre menos conturbado para nossa moeda.
“A economia norte-americana, segundo o indicador que mede a confiança do consumidor daquele país, tem mostrado muita resiliência há dois, três anos. Tivemos a divulgação de dados mostrando que a economia por lá não está fraca, o que é importante para a parte de ativos de risco, inclusive a parte que está dolarizada. Outro ponto é que a inflação dos Estados Unidos finalmente está convergindo para a meta. No primeiro trimestre, o Fed se assustou com a não convergência da inflação e ficou desconfortável. Agora, está mais confortável, tanto que há expectativa de queda de juros, o favorece os ativos de risco dos países emergentes.”
O próprio dirigente, por outro lado, admite que para que haja uma valorização do Real não basta que os juros caiam nos Estados Unidos. É preciso que haja uma série de fatores internos, em nosso país, tranquilizando o mercado.
“O problema, quando tratamos de moeda, é que precisamos analisar tanto o que acontece do lado de lá como o que acontece do lado de cá. É verdade que a economia norte-americana tem mostrado resiliência, e que a expectativa de queda de juros nos Estados Unidos acaba favorecendo as moedas dos emergentes, mas por outro lado tem as questões locais de cada país. Então, há realmente a possibilidade concreta de valorização do Real, é uma tendência que pode acontecer, mas no meio do caminho sempre tem a volatilidade”, comenta.
Sobre os desafios específicos do mercado cambial, Rebouças afirma que “o mais difícil é não termos bola de cristal”. Segundo ele, “o dólar é a moeda mais difícil de fazer gestão, mas procuramos sempre o lado macro da coisa para analisar”, aponta.
“Tentamos olhar se há pressões estruturais acontecendo na parte de balanço de pagamentos, mas acontecem outros movimentos de curto prazo, como o comportamento do Banco Central, do governo em relação à parte fiscal. Estamos sempre discutindo isso com os times de economia, mas nossa análise foca nas variáveis de médio prazo.”