Edição 369
Depois de ter sido destaque em 2023 por um motivo ruim - a crise deflagrada pelos eventos de crédito da Americanas, da Light e de outras companhias -, o mercado de crédito privado brasileiro vive um ano de destaque também em 2024, porém desta vez por razões positivas, reflete Pedro Boainain, diretor de investimentos de crédito, renda fixa e indexados na Itaú Asset Management.
O desempenho deste ano reflete a evolução de uma classe de ativos agraciada com uma peculiaridade relevante que é a possibilidade de gerir o risco antes de assumi-lo. “O crédito nos permite fazer uma gestão melhor de riscos, amarrar garantias e negociar covenants de maneira a entregar uma experiência mais positiva ao investidor, com boa rentabilidade e sem volatilidade”, avalia.
Após a crise do ano passado, que fez os spreads aumentarem muito também para os créditos de empresas saudáveis, ele lembra que a asset tem mantido 12 meses de rentabilidade acima do CDI em qualquer uma de suas estratégias, “o que é importante se consideramos que o investidor gosta de olhar pelo retrovisor”, reflete.
“A casa tem protagonismo nesse mercado, que hoje ficou maior e mais profundo, com um número muito maior de empresas do que havia há alguns anos”, diz. Boainain ressalta que a asset foi a primeira a fazer derivativos de crédito no Brasil e hoje faz vinte vezes mais operações no mercado secundário do que fazia há três anos. “Hoje, 20% do que operamos é no secundário”, conta.
Juro é “bola dividida” – Responsável por um volume de R$ 400 bilhões em ativos de crédito sob gestão, que integram uma carteira total de renda fixa com AuM de R$ 700 bilhões, o gestor observa que o pano de fundo para o investimento em crédito é sempre baseado no patamar de juros, variável determinante para a renda fixa. “Ter retorno de 1% ao mês com baixa percepção de risco é muito diferente do que ver esse retorno cair para 0,3%, por exemplo. A discussão mais quente hoje, que reflete uma situação de “bola dividida” no mercado, é saber se a taxa Selic ficará estável, cairá ou chegará a ser elevada”, analisa.
Na asset, o cenário base fica entre a estabilidade e uma potencial elevação, levando em conta questões fiscais do País e as expectativas de inflação. “Olhando para esse cenário e considerando a questão da fronteira eficiente, se o fluxo de recursos para o mercado continuar positivo, ajudará a manter os spreads comprimidos no crédito”, acredita.
O gestor, porém, precisa usar a seletividade para mitigar riscos. “Aqui temos conseguido resolver problemas por meio de private placement das empresas, sem que elas precisem ir a mercado para fazer ofertas públicas. Metade de tudo o que fazemos é exclusivo”, diz. A aposta, explica Boainain, é que a renda fixa continuará aquecida, com os investimentos posicionados entre os riscos de crédito e de mercado, ainda que os níveis de rentabilidade do crédito em relação ao CDI tendam a cair porque o ponto de partida hoje é diferente do que foi há um ano e meio.
A iminência do início de um ciclo de corte do juro nos EUA , se ocorrer de forma organizada (soft landing), ou seja, sem o risco de que haja uma desaceleração excessiva da atividade econômica e recessão, indica que o corte do juro lá fora poderá começar a ser feito já em setembro. “O call do juro no Brasil também pode mudar de acordo com os EUA e o nosso Banco Central tem sido correto em anunciar suas decisões reunião por reunião”, pontua.
Visão institucional – Economista graduado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo – FEA/USP, Boainain é mestre em macroeconomia e finanças aplicadas pelo Insper, com especialização em gestão de investimentos e riscos pela Yale School of Management, e Inovação e Liderança pela Stanford School of Business. “Sempre estudei muito”, constata.
Sua carreira no mercado começou ainda no Unibanco, passando ao Itaú Unibanco após a união das duas casas. São 20 anos no Itaú, 17 dos quais na asset, incluindo passagens também como diretor de investimentos da Fundação Itaú Unibanco (2016 a 2018) e diretor de gestão da Itaú DTVM (2018 a 2021), além de ter sido head de crédito privado da asset até 2022 e head de global institutional solutions por dez anos.