Multimercados devem diversificar
Melhor Gestor de Multimercados • Fernando Monteiro

Edição 369

Em 2021, o diagnóstico feito pela Bradesco Asset Management na área de fundos multimercados já apontava a necessidade dessa indústria fugir da concentração de ganhos e perdas que foi registrada nos últimos cinco anos e caminhar cada vez mais para o modelo multiestratégia, multigestores e multiportfólios. É um conceito que endereça três questões, segundo explica Fernando Monteiro, superintendente de multimercados da casa: “Os gestores não podem ser reféns de uma única estratégia; quanto mais fontes de alpha, melhor; e, finalmente, buscar a total customização dos produtos.
Depois de feito o diagnóstico, a área de multimercados da Bram adotou mudanças importantes para não ficar refém de uma única estratégia, de uma única classe ou de um único gestor. “Também foi preciso despersonificar a gestão, além de nunca depender de uma única geografia”, lembra.
Essa fórmula permitirá à indústria migrar para um novo modelo de gestão, que tem uma diversificação mais efetiva e procura solucionar o problema da concentração. “Nem sempre se consegue diversificação plena, mas essa experiência com o novo modelo foi um importante aprendizado para nós porque a indústria teve ganhos e perdas muito concentrados ao longo dos últimos cinco anos e isso acaba tirando o apelo da descorrelação que os multimercados sempre tiveram. Ela ficou muito “betada”, mas isso vai mudar”, analisa Monteiro.
A urgência da mudança ficou ainda mais evidente durante os últimos três anos de ambiente particularmente hostil aos multimercados. “Estou nessa indústria desde 1994 e nunca vi um inverno tão rigoroso e prolongado”, afirma o gestor.
Ele observa que a classe dos multimercados é fundamental para compor carteiras no longo prazo e gerar alpha graças à descorrelação que mantém com outras classes, o que torna essencial passar a trabalhar de fato com portfólios diversificados. “Por mais que o gestor tenha convicção do cenário, é preciso que ele tenha três ou quatro estratégias rodando ao mesmo tempo”, diz.
“Vivemos um período de taxas elevadas de juros aqui e principalmente no resto do mundo. Mas já há alguns pontos luminosos à frente, com um movimento sincronizado em vários países para reduzir o juro”, diz. Apesar disso, ele estima que ficou para trás o período de sincronização absoluta dos países em relação aos juros, até porque as economias estão em estágios diferentes. “Mas o vento de cauda é favorável”, diz.

Moedas e juros – O relaxamento monetário nos EUA deverá ser mais acelerado do que está precificado na curva, num caminho mais tempestivo. A taxa terminal, que hoje está em 5%, teria espaço para recuar até 150 basis points, estima Monteiro. “O corte desse excesso de gordura pode começar em setembro, com reduções de 0,25% a cada reunião, o que exigiria seis reuniões para chegar a uma taxa de equilíbrio. Há também espaço para apreciação das moedas dos países emergentes, classe que ainda está muito atrasada nesse movimento de valorização contra o dólar”, afirma. Isso favorece as posições da asset compradas em real contra o dólar.
No Brasil, os ativos locais estão indo bem, a bolsa viveu um raid histórico e mesmo a curva de juros teve uma inversão, analisa o gestor. ”No arcabouço institucional, é importante visualizar que o País vai bem”. O call dos juros, porém, ainda é difícil de visualizar porque a inflação aponta que algum ajuste terá que ser feito, mas quando se considera o potencial de apreciação cambial, as conclusões vão em outra direção. “Se for necessário fazer algum ajuste monetário, com alta da Selic, ele será menor do que o mercado precifica hoje”, acredita.
À frente do time de fundos multimercados da Bradesco Asset Management desde 2022, Monteiro tem 30 anos de experiência no mercado financeiro. Com formação em Economia pela PUC-RJ, ele ficou entre 1994 e 1999 no Opportunity, onde montou a área de risco em juros e moedas, passando em seguida por Bank of America e JP Morgan, sempre com foco em juros e moedas, até 2003. Além disso, teve passagens pela Quest, Opus Gestão, Mauá Sekular e Sul América.