Edição 369
A evolução do investimento em ativos sustentáveis (ESG, na sigla em inglês para critérios de responsabilidade ambiental, social e de governança) no mercado brasileiro começa a entrar em novo ciclo, mais similar ao que acontece na Europa em termos de classificação das carteiras. A avaliação é de Henri Rysman de Lockerente, gestor e head da área de crédito privado e especialista em ESG da BNP Paribas Asset Management Brasil.
“Em sua maioria, os fundos europeus classificados como ESG estão incluídos no Artigo 8º e em seguida vêm os do Artigo 9º, categoria mais avançada na exigência desses princípios. Por aqui ocorreu o inverso e desde que a Anbima lançou sua classificação, em 2021, foram os fundos mais avançados, aqueles com sufixo IS (investimento sustentável), os preferidos pelos gestores”, explica. São fundos que precisam ter o investimento sustentável como objetivo.
Já a segunda categoria, a dos “relacionados”, ou seja, os fundos que apenas integram esses critérios aos seus processos de investimento, são um número bem menor. Segundo os dados da Anbima, existem atualmente 117 fundos IS registrados e 61 fundos relacionados (fundos que integram critérios ASG).
“De lá para cá o mercado cresceu mas o potencial ainda é enorme porque os gestores locais focaram mais na categoria mais avançada de exigências. Espero que agora o mercado olhe mais para os fundos que integram o ESG, o que dará espaço para fazer essa classe crescer mais rapidamente”, acredita. Ele observa que os gestores tiveram um aprendizado coletivo ao longo dos últimos anos, assim como também a Anbima. “Nós nos baseamos na legislação europeia, mas os gestores de lá também passaram por um processo de ajustes e precisaram fazer melhorias. Isso foi bom para o mercado brasileiro, que estava atrasado em ESG mas conseguiu avançar de modo mais acelerado ao aproveitar o aprendizado europeu”, avalia.
Pegada hídrica – Esse é um caminho sem fim, diz o gestor, mas com melhoria contínua em aspectos como os da qualidade dos relatórios de sustentabilidade e transparência das informações. “Os fundos têm como meta comunicar dados cada vez mais avançados, como por exemplo as informações sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho e, no lado ambiental, ir além das informações sobre a pegada de carbono das empresas para incluir também sua pegada hídrica”, explica.
A asset é considerada uma casa full ESG, diz Lockerente, então todos os fundos, mesmo os que não têm o sufixo IS, devem fazer a integração. “Queremos agora registrar todos os fundos abertos de crédito como ESG. Só falta o registro porque todos já estão adequados”, diz. Essa expectativa está em linha com o que há na operação da gestora na Europa, em que 95% dos fundos já são ESG.
Com R$ 90 bilhões de ativos sob gestão, dos quais R$ 3 bilhões são de fundos IS cadastrados, a asset quer prosseguir nesse processo até ter todos os seus fundos abertos, em todas as classes de ativos, cadastrados como ESG, nas duas diferentes classificações. “Estamos preparando o lançamento de dois novos fundos de crédito sustentável, o que deve ajudar a impulsionar ainda mais a categoria no mercado brasileiro”, afirma. Além disso, a gestora lançou o primeiro fundo IS de crédito em estrutura exclusiva, para um cliente institucional, uma seguradora.
Do total de R$ 90 bilhões sob gestão e 174 fundos, dez deles são IS, divididos em seis estratégias: três de renda fixa e três de renda variável, num total de R$ 3 bilhões. Na categoria que integra critérios ESG, há outros três fundos, todos de crédito privado, em fase de cadastramento, o que totalizará R$ 16 bilhões.
A partir de agora a expectativa é de que haja uma aceleração nos fundos que fazem integração. “Queremos ficar com os dois maiores fundos do mercado nas duas categorias de sustentabilidade”, diz Henri.
Graduado em direito pela Universidade de Aix-en-Provence e com pós-graduação e mestrado por escolas francesas, Henri começou sua carreira no banco Société Générale como especialista em produtos estruturados, em 2008, de onde foi para a seguradora BNP Paribas Cardif em 2011 e para a BNP Paribas Asset Management Brasil em junho de 2020.