Mainnav

Buscando alfa na bolsa local
Juros altos enfraqueceram a demanda por fundos de maior risco, mas o início do corte da Selic anima as áreas dedicadas aos FoFs de renda variável

Edição 361

A área de Fundos de Fundos (FoFs) da BNP Paribas Asset Management respondeu por 30% de todos os processos seletivos dos últimos 12 meses, conta o líder de fundos de fundos, João Uchôa Borges Filho. Segundo ele, a área tem atualmente R$ 6 bilhões sob gestão em recursos de institucionais.
Enquanto o maior filão dessa área vem da renda fixa, em consequência do cenário de risco mais baixo e juros altos, os FoFs de renda variável sofreram bastante nos últimos anos, diz Borges Filho. Segundo ele, isso ocorreu principalmente por conta dos juros elevados no cenário local e, desde 2022, pelos movimentos altistas do Fed e de outros bancos centrais. “Isso reduziu a demanda por renda variável, mas em 2023 já vimos uma melhora para a classe. Este final de ano parece mais tranquilo graças à indicação de juros mais controlados nos EUA”, afirma.
Apesar dos sustos ao longo do ano, com a correção das taxas de juros americanas, a crise bancária naquele país e a inflação ainda alta, a perspectiva ficou um pouco mais clara em relação à atuação do Fed.
“Os clientes institucionais, no entanto, ainda mantêm forte interesse pelas NTN-Bs, em função das altas taxas de juro real, mas o cenário está mais positivo no exterior e também no que diz respeito à questão fiscal aqui”, avalia Borges Filho. Para ele, se houver um alento nesses dois quesitos, a renda variável tende a viver um ambiente bastante positivo em 2024.
Atenta à demanda dos fundos de pensão, a asset pretende aumentar sua equipe de fundos de fundos, passando de três para quatro profissionais dedicados a atuar exclusivamente nos processos de alocação e seleção. “O interesse pelos FoFs casa bem com o tipo de cliente que já conhecemos bem. O objetivo é ter mais uma pessoa para participar desses processos e dos calls mensais que fazemos com a equipe do BNP Paribas lá fora, para discutir cenários e estratégias. Há também um call mensal só para os emergentes da América Latina”, conta Borges Filho.

Delegando decisões - O movimento de internacionalização dos investimentos dos institucionais brasileiros em renda variável e estruturados ajudou a fazer crescer o bolso dos FoFs nos últimos anos, à medida que os investidores passaram a delegar decisões aos alocadores dessas carteiras, explica Rafael Mazzer, sócio do BTG Pactual e responsável pela área de Portfólio Solutions, que tem ao todo R$ 145 bilhões sob gestão discricionária. “Os institucionais passaram a delegar mais o processo de seleção de fundos, mas ainda não vemos tanto a delegação dos percentuais de alocação nas diversas classes”, diz.
A atratividade dos FoFs é, em grande parte, baseada no compliance, acredita Mazzer, justamente porque o investidor delega o acompanhamento ao alocador. Com aproximadamente metade da base de ativos da área de portfólio solutions em FoFs exclusivos, grande parte dessa alocação é feita em cotas de fundos. Há também alguns fundos condominiais, de EFPCs e RPPS.
Outro fator que ajudou a dar impulso aos FoFs foi o acesso aos produtos estruturados. “Por maior que seja a fundação, ela sempre será menor do que um gestor alocador. Com esse ganho somado à reversão de taxas, em muitos casos o fundo exclusivo tem um custo menor do que o de acessar diretamente os fundos no mercado”, afirma.
“Os anos de 2021 e 2022 foram muito difíceis para a bolsa e para a indústria de fundos de ações, com impacto especial sobre os gestores mais fundamentalistas, que tiveram performance pior do que a do Ibovespa, muito concentrado em Vale e Petrobras”, observa José Tolipan, portfolio manager senior da asset.
Em 2023, a Petrobras tem tido retornos extraordinários e sozinha explica boa parte do desempenho positivo do índice da bolsa local. “Os gestores têm conseguido gerar alfa em papéis específicos e com market timing”, explica.
Nos FoFs de ações, o número de gestores considerado razoável para garantir a diversificação fica entre oito e dez, mas é preciso levar em conta também o estilo de gestão dessas casas. Tolipan lembra que as estratégias fundamentalistas têm buscado boas empresas que são também boas alocadoras de capital, mas é importante encontrar diferentes estilos nas carteiras. “O Ibovespa é mais pesado em commodities, então temos gestores também com uma abordagem mais ativa e top down, por exemplo”, diz o gestor.
“A perspectiva agora é de que haja aceleração do fluxo para a bolsa assim que o investidor começar a enxergar a oportunidade de ganho de capital mas nós, como alocadores, acreditamos que ainda irá demorar um pouco para vermos um fluxo maior, até porque os portfólios devem ter um atraso nessa reacomodação”, ressalta Mazzer. O momento, diz ele, é bom para os fundos locais de ações gerarem alfa.
Nos fundos exclusivos, a responsabilidade final da seleção é da asset, lembra o gestor. “Mas gostamos de sentar e discutir o assunto com os clientes, é um pouco do nosso serviço agregado à estrutura de gestão exclusiva, um diferencial que dá mais conforto ao nosso interlocutor e ajuda até na disciplina do investimento”, observa.
No exterior, a renda fixa parece muito mais interessante do que as bolsas e na comparação entre as duas classes o prêmio da renda variável não paga o risco. “Não dá para não ter bolsa internacional na carteira; é preciso seguir a mesma lógica e a disciplina que seguimos nos fundos estruturados e, em momentos como este, preferimos estar sub-alocados em exterior mas não zerados”, afirma Mazzer.

Complexidade ajuda - Com mais de R$ 1 bilhão sob gestão em FoFs de diferentes fundações, dos quais a maior parte dos recursos está em de fundos de ações, a 4UM quer consolidar posição nesse mercado como uma casa de soluções, além da gestão dos fundos em si. “O objetivo é atender o perfil da entidade, a depender do número de planos e de suas características, se tem perfis de investimentos ou não, estratégias e outros aspectos”, diz o diretor Luciano Magalhães. Quanto maior for a complexidade da entidade e o modo como ela está organizada, mais importante fica a estrutura dos FoFs.
Nas decisões de alocação, a gestora utiliza análises feitas pela própria equipe, sem recorrer a relatórios de outras casas, o que ajuda a desenvolver as próprias convicções. “Nossa equipe é grande e faz as necessárias correções nos principais fundos de ações - de dividendos e de small caps -, que têm ficado sempre no primeiro quartil de rentabilidade”, diz.
A descorrelação entre os gestores é um dos fatores mais importantes, sem limitar a alocação aos fundos próprios mas procurando diversificar. “Os gestores que selecionamos têm que ser aprovados pelo comitê de investimentos por unanimidade”, informa.
Neste último trimestre, a percepção é de que as EFPC clientes já garantiram suas metas por terem sido bastante conservadoras ao longo do ano e começam agora a fazer reposicionamentos em renda variável porque têm alguma gordura em relação às metas.
“Há a perspectiva de redução do juro, que ajuda a bolsa, mas temos visto um reposicionamento neste trimestre em favor da renda variável, uma vez que isso não vai mais comprometer as metas do ano”, acredita Magalhães.
A asset consolida sua gestão de renda variável num único fundo, que aloca em quatro fundos abertos, além de uma carteira própria. “Se você consegue encapsular tudo num exclusivo, cria a oportunidade de ter rebates das taxas de administração e performance”, observa.
Em relação aos rebates, ele lembra que a Resolução CVM 175 traz uma mudança relevante ao deixar claro que todo benefício gerado por um fundo deve ser revertido para dentro do próprio fundo. O que muda é que o gestor não poderá mais ficar com o rebate, que muitas vezes entrava como sua receita adicional. “Na 4UM já repassávamos o rebate aos cotistas mas no mercado isso poderá agora causar um aumento de taxas de administração dos fundos para compensar a perda de receita dos gestores”, avalia Magalhães.
Na avaliação da casa, a utilização de FoFs pelos fundos de pensão tende a crescer por fatores que vão desde o fomento, pela facilidade de “plugar” os planos às estratégias, como seus cotistas, até a simplificação da estrutura de contabilização de cotas e de controle, além de solucionar eventuais atritos entre os participantes. “É difícil comprar ações sempre na mesma proporcionalidade e os participantes podem questionar os diferentes retornos obtidos na renda variável, mas com os FoFs todos viram cotistas do mesmo fundo, com rentabilidade igual, então elimina esse problema e facilita rebalancear as carteiras”, diz Magalhães.
Uma desvantagem seria a perda de poder da EFPC sobre a tomada de decisões de investimento, que incomoda algumas entidades. Para resolver isso, a asset criou, dentro dos planos exclusivos, um comitê de investimentos do qual participam o gestor e a entidade. “Há uma discussão sobre o que está sendo executado, então a fundação não perde o seu expertise, mas isso precisa estar previsto no regulamento do fundo, caso a entidade queira participar do comitê”, explica.
Dessa maneira a gestora não perde a discricionariedade do mandato mas oferece uma solução para as fundações que não querem perder o expertise de suas equipes técnicas e apenas usar a estrutura do FoF.