Edição 361
Com R$ 70 bilhões em fundos de fundos (FoFs) exclusivos, a Bradesco Asset Management conseguiu aumentar em R$ 1,2 bilhão sua captação em produtos dessa classe junto às Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs) no último ano, para R$ 10 bilhões. Os demais investidores da área são fundos-espelho e multigestores, com R$ 30 bilhões, fundos exclusivos de private bank, com R$ 25 bilhões, e fundos internacionais, com R$ 5 bilhões.
Segundo o head da área de soluções de investimento da Bram, Adilson Ferrarezi, do total de R$ 70 bilhões em FoFs, 50% estão na estratégia de renda fixa (crédito e gestão ativa), 25% em multimercados, 10% em ações, 5% a 7% em investimentos globais e 2% em alternativos.
Na renda fixa, a área de crédito tem evitado incluir muitas empresas e tem sido criteriosa na seleção, diz o gestor. “Em 2024 a indústria deve viver uma acomodação de spreads no crédito, em paralelo com a queda da taxa Selic e maior número de emissões, o que será saudável para a classe”, estima. A diretriz é manter a diligência na seleção de fundos proprietários e de outros gestores, além de garantir uma diversificação relevante entre high grade e high yield. “Gostamos bastante de crédito, principalmente o high grade, e avaliamos constantemente o processo de investimento dos gestores”, afirma Ferrarezi.
Fora do crédito, os fundos de renda fixa ainda precisam lidar com a alta volatilidade iniciada com a abertura das taxas em outubro. “Nos próximos seis a 12 meses preferimos ficar posicionados em inflação, de modo estrutural. O objetivo é sermos um pouco mais táticos nas estratégias de gestão ativa prefixada porque haverá o desafio da abertura dos juros, principalmente nos EUA, então optamos por portfólios com gestores operando mais na renda fixa ativa, que é mais dinâmica e tem maior agilidade”, explica Ferrarezi. O cenário da casa é de ter ciclos curtos de mudanças rápidas e maior sensibilidade do Brasil a ruídos locais e globais, como os do Fed.
Potencial de crescimento - A área de investments solutions da Bram, que cuida desses R$ 70 bilhões, cresceu de oito para 35 pessoas nos últimos anos, fazendo atualmente a gestão de cerca de 50 fundos de entidades fechadas de previdência complementar. De acordo com Ferrarezi, a área tem potencial para ampliar suas operações, principalmente junto aos clientes institucionais.
“A indústria de previdência complementar fechada tem R$ 1,2 trilhão em ativos, com planos de Contribuição Definida e de Contribuição Variável já maduros”, observa Ferrarezi. Hoje 60% desses investimentos estão em renda fixa (crédito, inflação e prefixados), além de 30% em fundos estruturados e 8% em ações, entre outros. Em private equity haveria capacidade bem maior do que os 0,7% atuais, assim como para investimentos no exterior, que está em 1%”, avalia.
Dentro da estrutura da asset, a área de portfolio solutions faz a gestão de fundos exclusivos para o segmento private e para os fundos de pensão. Há uma equipe de seis pessoas com dedicação exclusiva ao segmento de fundos de pensão. O time, frisa o gestor, é composto por profissionais que saíram, todos, de EFPCs ou de consultorias especializadas. Ao todo, há doze pessoas só para cuidar dos fundos exclusivos, entre as quais os seis profissionais voltados para as fundações.
O prolongamento do período de taxa mais elevadas de juros nos EUA tende a produzir maior espaçamento da queda do juro no Brasil, com uma pressão adicional pela reprecificação de ativos. Nesse ambiente, a renda fixa continuará relevante para que os fundos de pensão batam suas metas em 2024. “A visão aqui, nos portfólios de fundos de fundos exclusivos, é de que o expertise da asset é particularmente importante nessa classe, com uma reavaliação mensal de preços, prêmios e duration, assim como a reavaliação dos gestores para os mandatos de gestão ativa, explica Ferrarezi.
Queda da Selic e FIIs - Com R$ 23 bilhões de AUM e um total de 47 veículos, sendo 23 mandatos exclusivos dos quais 17 são de fundos de pensão e de gestores de patrimônio, o forte da Capitânia Investimentos nesse segmento são os fundos de renda fixa/ crédito privado, informa Carlos Simonetti, responsável pela área de relações com investidores. Os FoFs investem em ativos do setor imobiliário, entre fundos de tijolo (imóveis físicos) e de “papel” (fundos de recebíveis imobiliários), porém com maior peso em fundos de tijolo.
Há quatro mandatos discricionários de FoFs de fundações e um quinto mandato a caminho, em fase final de negociação e que deverá vir até o final do ano. Será o primeiro mandato novo de fundação a chegar à casa depois de dois anos, conta Simonetti.
Segundo ele, um dos quatro mandatos existentes impõe uma trava à casa, limitando os investimentos aos fundos imobiliários (FIIs) que compõem o IFIX. “Isso faz com que ele performe pior, pois tem menos ferramentas. Os outros mandatos são muito similares, porém sem limitações a percentuais de tijolo ou de papel, mas são todos taylor made”, explica.
A carteira da asset hoje é pouco aderente ao IFIX, porque o índice dá peso de 48% para os fundos de papel e os fundos da casa estão com 90% a 92% em tijolo diante da perspectiva de queda do juro no próximo ano.
Depois de três anos em que o desempenho dos fundos de recebíveis superou a performance dos imóveis físicos, esse mercado parece pronto para completar uma reversão de tendência em 2024. “Se a Selic cair até 9%, ou se chegar a 10% ou 11% no final do próximo ano, isso será bastante benéfico para os investimentos em tijolo e o mercado já está precificando isso. Alguns shoppings já estão com faturamento acima do nível pré-pandemia”, diz Simonetti.
Os FoFs da casa têm em média 50 a 60 posições mas as 15 maiores posições representam dois terços do patrimônio. As demais são montadas e desmontadas aos poucos. Um dos pontos mais relevantes é a governança dos fundos investidos. “Nas quatro estratégias de investimento em cotas de FII, a governança desses fundos é até maior do que a das companhias abertas. Os relatórios têm um disclosure robusto e não há problemas para obter informações porque os FIIs são muito padronizados”, explica.
Indústria e FIDCs - A demanda por FoFs de FIDCs e reflete o crescimento da renda fixa nas carteiras de investimentos. Segundo Ricardo Binelli, diretor da Solis Investimentos, “nossa estratégia de fundo com foco em FIDCs já captou R$ 1 bilhão líquido, na contramão da indústria de fundos”.
Segundo ele, essa captação é resultado das elevadas taxas de juros combinadas com a rentabilidade e baixa volatilidade dos FIDCs. Com um histórico de mais de 11 anos nessa estratégia, a casa tem R$ 326 milhões em exclusivos com fundações, dos quais R$ 200 milhões já investidos e R$ 126 milhões em fase de investimento.
Além disso, há R$ 800 milhões em exclusivos com family offices, dos quais R$ 600 milhões investidos e R$ 200 milhões em fase de investimento. “O total de exclusivos é de R$ 1,12 bilhão, o que corresponde a 25% da estratégia de fundos com foco em FIDCs da Solis, que soma R$ 4,5 bilhões.
A continuidade do processo de redução da taxa de juros deve começar a motivar os investidores a olharem para os ativos de risco, acredita Binelli. “Entretanto, dado o passado recente de muita volatilidade na bolsa e mesmo nos fundos multimercado, a migração da renda fixa para outros ativos será bastante gradual. Até porque em 2024 os juros tendem a cair, mas não de forma abrupta, preservando uma parcela importante da sua atratividade”, explica.
No caso dos FIDCs, ele vê a possibilidade de um ritmo menor de captação a partir de 2024 mas não uma saída relevante de recursos. ”Isso porque os FIDCs estão entre as alternativas de renda fixa que melhor remuneram.
As mudanças trazidas ao mercado pela Resolução CVM 175 devem contribuir positivamente para a indústria de FIDCs, avalia o gestor. “Acho que vai melhorar a governança e a transparência dos fundos”, diz.