Edição 361
A despeito de um ano particularmente complicado para a rentabilidade dos fundos de fundos (FoFs na sigla em inglês), a diversificação, o expertise dos gestores e alocadores, assim como as vantagens operacionais dos FoFs exclusivos mantêm esses veículos como uma opção em alta junto aos fundos de pensão, em especial no caso das entidades que têm planos de Contribuição Definida e aquelas que oferecem perfis de investimento. Renda variável e multimercados são as classes em que há maior busca pela diversificação por meio de FoFs.
Ao transferir sua carteira própria de renda variável integralmente para dois fundos de fundos, em decisão tomada em junho de 2021, a Inovar Previdência viu a oportunidade de diversificar mais sua alocação ao mesmo tempo em que passou a explorar o expertise dos alocadores. São dois fundos exclusivos, com dois gestores diferentes, que permitem modular a alocação entre gestão ativa e passiva, explica Cleber Nicolav, diretor-superintendente da entidade.
A entidade opera com uma estrutura interna enxuta, responsável pela gestão de R$ 1,114 bilhão em ativos, dos quais R$ 1,108 bilhão estão no plano multipatrocinado. Atualmente, uma fatia de 73% do patrimônio total está alocada em renda fixa; 12% em renda variável por meio dos FoFs, 5,5% em exterior e 10% em multimercados estruturados.
“Uma parcela de 30% dos recursos dos FoFs está aplicada em cotas de fundos de gestão ativa - fundos de valor e de retorno absoluto -, que buscam superar os índices e gerar resultado excedente em relação ao benchmark, enquanto os demais 70%, estão sob gestão passiva”, diz.
Como vantagem adicional desse modelo, uma parte da gestão passiva usa o aluguel de ações, o que ajuda a pagar o custo de administração com folga suficiente para gerar uma receita extra. Os dois veículos exploram ainda proteções de mercado que atenuam impactos sobre os portfólios, seja por meio de posições de caixa ou pela utilização de contratos de opções, um diferencial que foi incorporado às estratégias de renda variável.
A Inovar mantém ainda um fundo com alocador para aplicar em exterior, com um portfólio diversificado que investe em diferentes classes de ativos, conta Nicolav.
“Se é que existe alguma desvantagem no modelo de FoFs está no fato de não acompanharmos mais o dia a dia dos gestores como fazíamos na carteira própria, mas buscamos os melhores especialistas em cada nicho de mercado para fazer isso por nós, e monitoramos sua atuação”, afirma. O que, por outro lado, traz uma vantagem operacional importante ao permitir que os fundos sejam acompanhados por meio de reuniões ordinárias quadrimestrais.
A facilidade operacional faz com que a entidade estude agora a possibilidade de levar também os multimercados para o modelo de FoFs, conta Nicolav.
Hoje a carteira própria de multimercados, que compra cotas de fundos abertos, tem um histórico positivo de resultados, com desempenho relativo superior ao do mercado, mas apesar disso a mudança para uma estrutura de fundos de fundos é considerada interessante sob o ponto de vista operacional. “Estamos avaliando essa possibilidade mas ainda não encontramos no mercado players que agreguem valor ao que já fazemos na carteira própria”, diz.
Acesso com transparência - Com patrimônio total de R$ 4,2 bilhões, um plano CD e dez perfis data-alvo que investem em diferentes classes, a Vexty mantém uma parte desses recursos sob gestão própria e uma parte alocada por meio de FoFs, tanto em renda variável quanto na carteira de ilíquidos.
Os fundos de fundos respondem por 40% dos R$ 400 milhões que estão na carteira de renda variável Brasil, explica Vinicius Romboli Narcizo, diretor de Investimentos. Há dois Fofs de renda variável, um deles exclusivo e o outro, condominial. “É interessante porque essa estrutura aumenta a nossa capacidade de acesso a gestores especializados, o que é importante porque a estrutura interna é enxuta”, diz.
Os mandatos são discricionários, ou seja, a entidade delega aos responsáveis pelos FoFs tanto a seleção dos gestores como a própria gestão. Uma das exigências feitas a eles é que mantenham proximidade com os gestores finais dos fundos e assegurem informações sobre as performances e estratégias dessas casas. “Queremos saber se os fundos alocam em novos gestores, ou seja, se funcionam como incubadoras de novos fundos ou não, por exemplo”, diz. Um dos seus FoFs de renda variável é, de fato, uma incubadora.
É fundamental entender cada um dos FoFs e o que está sob sua estrutura. “Se houver um bom processo de seleção e governança robusta, nós também ganhamos com isso. Buscamos sempre parceiros que tenham dinamismo e flexibilidade, mas é essencial que tenham boa governança”, explica.
Além disso, o modelo está presente também na carteira de ilíquidos da entidade, por meio de um gestor de FoF de Private Equity que compra não só cotas de fundos também ativos finais, num desenho híbrido. “Estamos testando esse desenho em ilíquidos, com 15% da carteira, que tem ao todo R$ 130 milhões”, informa.
Os FoFs de renda variável seguem estratégias diferentes, e é difícil escaparem da sobreposição de ativos dada a limitação da bolsa local. “Por isso não faz sentido ter muitos gestores dentro dos fundos de fundos nessa classe. É preciso ter cuidado com esse aspecto para não diversificar e, no final do dia, descobrir que estamos investindo nas mesmas coisas”, diz.
A intenção é ampliar o uso de fundos de fundos para avaliar sua aderência não só em renda variável mas nas estratégias das demais classes, em especial naquelas que têm acesso a diversos mercados.
Flexibilidade menor - Na renda fixa, diz Narcizo, a flexibilidade é menor e nem sempre faz sentido trazer outros gestores para tratar daquilo que pode ser feito pela equipe interna. “Já nos multimercados e nos investimentos globais o modelo de FoFs pode fazer mais sentido porque, ainda que haja alguma sobreposição, conseguimos maior eficiência na diversificação graças à gama mais ampla de mercados”, afirma.
Ao observar as diferentes vantagens do uso de um FoF exclusivo e de um condominial, ele lembra que no exclusivo há maior flexibilidade para discutir eventuais adequações das estratégias macro com o gestor.
O ganho de escala, por outro lado, pode não ser tão interessante quanto nos condominiais uma vez que o custo fixo é maior. “Mas ambos são complementares, então precisamos olhar as estratégias macro para garantir que haja essa complementaridade”, aponta Narcizo.
Outro aspecto a ser olhado com atenção é o uso de fundos da própria casa gestora dentro da carteira dos FoFs, uma vez que a seleção é delegada a eles. “Em alguns casos eles acabam investindo em fundos próprios, o que é um ponto de atenção e um desafio para nós porque pode trazer à tona uma discussão sobre conflitos de interesse”, diz.
A alocação em fundos da própria casa não é ruim em si, desde que isso seja feito em parcelas pequenas, mas pode comprometer os ganhos, independentemente dos resultados. “Compromete porque o que nós buscamos é a diversificação e o acesso a mercados diferentes, então é preciso ter atenção na hora de selecionar ”, diz.
A discussão tem que ser cuidadosa, sem impor uma vedação ao uso de fundos próprios, o que poderia levar a uma interferência na estratégia do gestor do FoF. “O nosso objetivo é sair do micro e não entrar nos detalhes dos ativos que estão sendo investidos. Eu tenho que olhar a minha estratégia de acordo com o mandato porque se vou comprar um FoF não é interessante limitar sua carteira a determinados gestores”, diz.
O assunto está em discussão na Vexty para ser considerado em futuras seleções de fundos de fundos. Nos dois FoFs de renda variável da entidade essa questão não chegou a ser um problema até agora, afirma Narcizo, mas a entidade faz questão de monitorar de perto o assunto para verificar eventuais aumentos de alocação que estejam “fora do racional”.
A transparência total das informações sobre o portfólio é outro ponto essencial, ressalta Narcizo. “Quero saber no que os gestores alocam, quais são os percentuais e ter condições de monitorar sua performance”, diz. A liquidez também é um ponto de atenção na hora da seleção. “São eles que fazem sua própria liquidez mas é preciso saber quanto vou perder de liquidez com as movimentações, o que não é um problema desde que se conheça a dinâmica”, afirma.
Padronização para crescer - Os fundos de fundos exclusivos fazem parte do desenho encontrado pela Néos Previdência para equacionar a estrutura de sua gestão de investimentos desde a criação da entidade, em 2020. Na ocasião vieram para a fundação as carteiras dos três planos CD e dos três planos BD dos fundos de pensão que a compuseram – Faelba, Fasern e Celpos -, além de ter sido criado um plano CD Néos, o único atualmente aberto. “Recebemos na época 53 fundos de investimento de todos os tipos e formatos, exclusivos e abertos, que apresentavam muitas sobreposições de produtos e estratégias”, conta Alexandre Vita, diretor de Investimentos.
Essa estrutura foi enxugada e hoje conta com 16 fundos, em sua maior parte exclusivos, incluindo três FoFs que são acessados por todos os planos. O modelo aberto só foi mantido para o investimento no exterior, que ainda não tem volume para estruturar um FoF ou um fundo exclusivo.
“A motivação veio da necessidade de padronizar porque não fazia sentido que os planos CDs tivessem alocações em produtos diferentes e a forma que encontramos foi adotar FoFs ou fundos exclusivos que fossem acessados por todos”, explica Vita. Hoje há três FoFs – um em renda fixa, que investe em crédito privado; um em renda variável de gestão ativa e um para multimercados estruturados. Os três reúnem R$ 550 milhões em ativos, frente ao patrimônio total de R$ 3,6 bilhões da entidade, dos quais R$ 2 bilhões em planos CD.
A estrutura foi montada há um ano e meio e a grande mudança foi a gestão discricionária nos gestores alocadores, um passo importante porque a entidade tem planos com tamanhos diferentes e no FoF isso fica melhor equacionado, avalia o diretor. No lado operacional, há uma centralização e a estrutura ganha em controle. “O fechamento do dia a dia fica mais rápido mas nós mantemos o acompanhamento”, diz.
Os gestores alocadores conseguem maior capacity junto às assets e maior agilidade para alocar do que a fundação tinha em alguns fundos abertos, em janelas mais curtas de tempo. “Os fundos de fundos são mais ágeis para fazer isso e a especialização dos gestores contribui também. A nossa equipe interna tem um bom nível de maturidade e mas o gestor alocador especializado traz vantagens adicionais no longo prazo”, afirma Vita.
O aspecto menos atraente é a perda de contato direto com as casas gestoras e a consequente perda de protagonismo no relacionamento. “Não há qualquer impedimento quanto a isso mas é natural que se perca um pouco desse protagonismo”, diz. Também se perde a comparabilidade de performance, uma vez que os FoFs exclusivos são montados de acordo com as peculiaridades de cada fundação, o que dificulta a comparação.
“Nada impede que no futuro façamos mais alocação em fundos abertos, mas a Néos deve incorporar novos planos de benefícios e a atual estrutura dá maior agilidade e praticidade, deixa a entidade preparada para crescer”, afirma.
100% em FoFs - O desenho dos FoFs utilizado pela Sebrae Previdência, que começou a ser estruturado no modelo exclusivo ainda em 2018, tem mandatos definidos de acordo com cada um dos perfis de investimento da entidade: arrojado, moderado e conservador. “O que era uma novidade na época, tanto que outras entidades até estranharam o nosso modelo”, explica Victor Hohl, diretor de Administração e Investimentos.
Hoje 100% dos recursos da entidade são investidos por meio de FoFs exclusivos, com gestores que executam toda a política de investimentos. “O mais normal no mercado na ocasião era ter mandatos só de renda variável, ou de renda fixa ou estruturados, mas nós montamos um portfólio completo que executa toda a nossa política de investimentos, nas diversas classes de ativos”, diz. Os limites e parâmetros de risco de cada um dos três perfis são transmitidos para os gestores.
Outro aspecto diferenciado está na manutenção permanente de dois gestores com o mesmo mandato para o perfil arrojado e a mesma coisa no perfil moderado . Já no mandato do perfil conservador, um único gestor cuida de estratégias de renda fixa ativa e passiva, além de gerir uma parcela de multimercados estruturados. Com isso, os gestores tendem a exercer seus mandatos da melhor forma possível”, avalia. São ao todo cinco fundos exclusivos de cinco gestores.
Entre os aspectos diferenciados que têm facilitado a gestão, diz Hohl, está o fato de que o gestor tem discricionariedade, mas, como o apetite da entidade ao risco pode variar, nem sempre há um consenso entre os dois lados sobre a alocação. “Quando há uma divergência mais expressiva nesse sentido, usamos as cotas do perfil arrojado para comprar cotas do perfil conservador, ou vice-versa, de modo a tirar ou acrescentar risco, fazendo o papel de macroalocação”, explica.
A preferência é por chegar a um consenso mas, se não for possível, essas movimentações, que são feitas de maneira não concentrada, permitem calibrar o nível de risco sem afetar a discricionariedade do mandato.
Além disso, no modelo de FoF adotado, é possível comprar cotas de fundos ou ativos diretos. “Às vezes usamos a estrutura do gestor para analisar risco de crédito, executar estratégias de proteção ou aproveitar oportunidades no mercado”, explica. Em março, por exemplo, quando o mercado de crédito estressou e surgiram oportunidades com spreads muito altos, o gestor comprou e colocou dentro do fundo. “Não é nunca uma imposição nossa, até porque damos os parâmetros de risco mas exigimos que o gestor decida e tenha um mandato bem ativo no FoF”, diz Hohl.
Ativos reais e private equity - Na Fundação Copel, que utiliza FoFs de renda variável e de multimercados e adota a gestão própria desses veículos, a novidade desde o final de 2022 foi a montagem de um FoF de ilíquidos,que investe em cotas de FIPs (Fundos de Investimento em Participações), conta José Carlos Lakoski, diretor Financeiro.
São dois FoFs ilíquidos, um voltado à alocação em ativos reais, por meio de quatro fundos florestais e cinco de infraestrutura, num total de nove fundos, e um FoF específico de private equity. “A divisão entre esses dois segmentos foi feita para diferenciar um pouco as estratégias utilizadas. É importante entender as características dos diferentes ativos e com a separação isso fica melhor compreendido”, diz.
O investimento florestal tem características mais de renda fixa, enquanto o de infraestrutura é voltado a projetos brownfield (que já tem uma produção em andamento).O FoF de private equity, por sua vez, tem 15 fundos em seu portfólio, dos quais cinco são outros FoFs dessa classe. Ao todo, 30% da carteira de ilíquidos da fundação está em ativos reais e o restante em private equity, informa Lakoski.
No segmento de renda variável, o primeiro a incorporar o modelo de FoFs, entre fundos exclusivos e abertos, há hoje dez gestores e R$ 700 milhões nesses veículos, enquanto no FoF de multimercados há 12 fundos investidos e R$ 800 milhões. Com patrimônio total de R$ 14 bilhões, a fundação tem R$ 750 milhões de valor comprometido nos ilíquidos, R$ 450 milhões integralizados e R$ 283 milhões já devolvidos.
A opção por fazer gestão própria, diz Lakoski, é decorrente do porte da entidade e de haver uma equipe de investimentos qualificada. “Gostamos de manter a estratégia toda sob nossa coordenação”, afirma. A fundação tinha planos para montar um FoF na área de crédito privado, mas acabou por desistir, entre outros motivos porque está na dependência dos números do PDV (Plano de Demissão Voluntária) da patrocinadora, o que deverá acarretar em desinvestimentos nessa classe, que não é prioritária.
Ganhos nos exclusivos - No Postalis, os FoFs respondem por duas estratégias, uma de investimento no exterior e outra de renda variável Brasil, em vigor desde 2021. “É um modelo interessante porque selecionamos os gestores a partir dos fundos abertos que eles têm no mercado. A diferença é que nos abertos poderíamos ficar desenquadrados. Outra vantagem é que nos FoFs podemos replicar a mesma estratégia dos abertos e, além disso, os fundos de fundos exclusivos têm custos mais baratos porque o gestor tem ganho de escala”, explica Carlos Alberto Zachert, diretor de Investimentos.
A depender da estratégia utilizada, a entidade pode alocar no FoF o que tiver disponível em cada plano de benefício, de acordo com a sua política e grau de maturidade. “Hoje 3% dos recursos estão no FoF de exterior, que segue a bolsa lá fora porém com gestão ativa, e 9% estão na renda variável local, com gestores que mostrem capacidade de superar o índice”, explica.
Esse modelo faz muito sentido, no caso de exterior pela descorrelação e na renda variável local pela performance da gestão ativa, que tem garantido ganho acima da bolsa. A seleção é uma etapa fundamental, diz Zachert, porque a gestão é discricionária, com um mandato de retorno e um mandato de risco. “Aplicamos um filtro de rentabilidade e de risco, além de considerar as taxas de aplicação, o nível de patrimônio da casa gestora, entre outros critérios, além de uma avaliação qualitativa e da due diligence.
Para 2024, a revisão que está sendo feita da política de investimentos aponta um aumento do apetite ao risco, o que significa um pouco mais de multimercados, crédito e renda variável, o que deverá ser feito por meio de fundos exclusivos. “Há muitos gestores eficientes em nichos específicos. Podemos até entrar em fundos abertos mas a preferência é pelos exclusivos, por conta da gestão centralizada no nosso foco; pelas taxas e custos e porque não corremos o risco de desenquadramento”, explica.
Para entender o ranking
Este ranking analisa apenas fundos de fundos (FoF, na sigla em ingês), com aplicações de investidores institucionais, sejam fundos de pensão ou RPPS, a partir de pesquisa realizado pela empresa ComDinheiro. A análise e classificação é feita de acordo com os seguintes critérios:
1 - Foram analisados apenas fundos de Renda Fixa, Ações e Multimercados com 12 meses na base Anbima na data de 30/09/2023.
2 - Foram analisados apenas fundos com um máximo de cinco cotistas, dos quais pelo menos um deve ser institucional, seja fundos de pensão ou RPPS
3 - Foram analisados apenas fundos com um máximo 25% do seu Patrimônio Líquido (PL) aplicados em produtos da própria gestora
4 – O ranking não segue um critério de desempenho, como Sharpe por exemplo, apenas apresenta a rentabilidade e a volatilidade do fundo.
Gestoras e nº de fundos (em pdf)
FOFs Ranking (em pdf)