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ManausPrev ajustará sua carteira
RPPS da capital do Amazonas quer reduzir alocações no exterior para aumentar investimentos em crédito privado e fundos de duration

Edição 365

Castro,FlavioRodrigues de(ManausPrev) 24abr 06Com uma carteira de investimentos de R$ 1,69 bilhão em março, o Regime Próprio de Previdência Complementar (RPPS) de Manaus, o ManausPrev, está finalizando estudos para redefinir a posição de alguns ativos no seu portfólio. Segundo o presidente do comitê de investimentos da entidade, Flávio Rodrigues de Castro, um dos ativos que deve sofrer alteração significativa é investimentos no exterior, cuja rentabilidade no ano passado elevou sua participação no portfólio a ponto do instituto caminhar para uma situação de desenquadramento passivo, que é quando a entidade ultrapassa os limites de investimento permitidos pela legislação por conta da valorização de mercado e não por conta de comprar mais daquela classe de ativos. A Resolução 4.963, que regula os investimentos dos RPPS, estabelece como limite de alocação para investimentos no exterior o percentual de 10%, e a ManausPrev já está com 8,90%.
De acordo com Castro, ainda não há uma definição sobre quanto vender de exterior e o quanto permanecerá na carteira. “Vai depender das discussões no comitê de investimentos, mas sinto que há uma propensão para um corte bem significativo”, diz. Segundo ele, a ManausPrev adota um modelo de funcionamento no qual as decisões de investimentos são discutidas e votadas entre os sete membros do comitê.
O comitê, segundo Castro, é formado por funcionários públicos da prefeitura de Manaus e da Câmara de Vereadores da cidade, dos quais cinco possuem certificação intermediária em finanças e dois, o próprio Castro e o gestor de risco Fernando Santos, a certificação CGA da Anbima. “Incentivamos todos para que estejam sempre aprimorando seus conhecimentos na área financeira”.
A Manausprev, inclusive, tem o nível 4 no Pró-Gestão, o mais alto da escala dessa classificação criada pelo Ministério da Previdência Social para atestar boas práticas de gestão dos RPPS. Quanto mais alta é a classificação no Pró-Gestão mais liberdade têm o instituto para investir em ativos de risco, como exterior por exemplo, que é vedado a institutos que estão na parte inferior da escala.
A decisão de reduzir a classe de exterior na carteira da ManausPrev deve acontecer na próxima reunião do instituto, até porque o problema do desenquadramento passivo precisa ser resolvido. E também porque hoje existem boas oportunidades de alocação no mercado local. “Os múltiplos das empresas lá fora estão bem acima da média histórica e nossa avaliação é que a bolsa no exterior, e particularmente a dos Estados Unidos que é onde estão a maior parte dos fundos globais nos quais investimos, hoje está cara em comparação com a bolsa brasileira”.
As alocações externas da ManausPrev são feitas através de fundos de ações globais, que alocam em média 60% dos seus recursos no mercado norte-americano. A entidade tem aplicações em fundos da MAG, Genial, Morgan Stanley, Franklin Templeton e também Western, através de um fundo de BDRs.
Segundo Castro, uma parte dos recursos que serão internalizados com a redução da exposição à exterior deverão ser direcionados para investimentos em crédito privado hight grade e outra parte para alocação em fundos de renda fixa atrelados a IMA-B e IRFM, conhecidos como fundos de duration, com marcação a mercado. “Acreditamos que a queda da Selic vá beneficiar essas duas classes de ativos”, diz.

Selic segue caindo - A ManausPrev está trabalhando com uma taxa Selic próxima de 8% ao final de 2024, numa visão bem mais otimista do que o resto do mercado. “Uma Selic num nível próximo de 8% traria uma valorização não só para a renda variável no Brasil mas também para os fundos de duration de curto prazo. Bom, se essa redução da Selic vier acompanhada de um ajuste fiscal sério por parte do governo, comprometido e que seja realmente entregue, os fundos de duration de médio e longo prazo também devem se beneficiar bastante”, diz Castro.
Mas o mercado não está tão otimista quanto o instituto em relação ao ritmo de queda da Selic. Embora a maioria das instituições financeiras que participam do Boletim Focus, pesquisa semanal feita pelo Banco Central sobre as principais variáveis macroeconômicas do País, ainda mencione uma taxa terminal de pouco mais de 9% para 2024, várias casas já consideram que está mais para perto de 10%. A ata da última reunião do Copom deixou de mencionar a perspectiva de duas quedas seguidas na taxa Selic, de 0,5 ponto percentual cada, passando a apontar a perspectiva de apenas uma queda e mesmo assim com várias ressalvas.
Além disso, declarações recentes do presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicam que o cenário global está torna-se mais nebuloso e o banco deve levar em conta a nova situação do mundo ao tomar a decisão sobre a taxa Selic. Para Castro, no entanto, no frigir dos ovos o que contará será mesmo a visão estratégica do governo federal, de que os juros devem cair. “Nossa visão é que, ao encerrar-se o mandato do atual presidente do BC, no final deste ano, o presidente Lula vai nomear alguém mais condizente com sua visão estratégica de redução da carga de juros. Além disso, o governo terá um Copom com maioria de diretores acompanhando o entendimento do Ministério da Fazenda sobre a redução da taxa Selic”, explica Castro. “Então, a gente espera uma taxa terminal para 2024 que deve ficar mais próxima de 8%”.
Ele avalia que o processo de queda de juros no Brasil tende a ser estimulado pelo sucesso da política de juros norte-americana. Segundo ele, o banco central dos Estados Unidos (Fed) está conseguindo viabilizar sua política de “pouso suave” da economia, reduzindo a inflação sem colocar o País em recessão, devendo iniciar seu ciclo de redução dos juros a partir de julho/julho próximos. “E como o mercado se antecipa, é possível que esse pouso suave da economia norte-americana beneficie a renda variável no mundo todo, inclusive no Brasil”, diz Castro.

Imunização - Além de ampliar a participação de fundos de duration, a entidade também quer aumentar NTN-Bs na carteira para implementar uma estratégia chamada de “imunização”, já seguida por vários fundos de pensão, que consiste ter na carteira títulos públicos de longo prazo marcados na curva, ou seja, que serão levados até o vencimento que é o momento de pagar as aposentadorias dos participantes. Segundo Castro, hoje cerca de 35% da carteira está em títulos públicos marcados na curva. “É uma recomendação da maioria dos nossos estudos de ALM”, conta. De acordo com ele, a ManausPrev tem atualmente 25,3 mil servidores ativos, dos quais a maioria está na faixa dos 40 anos.
Da carteira de investimentos da fundação, de R$ 1,69 bilhão em março, R$ 1,59 bilhão está no plano capitalizado e R$ 100 milhões divididos entre o plano financeiro e recursos para taxa de administração. O plano capitalizado fechou o primeiro trimestre do ano com uma rentabilidade de 3,45% para uma meta atuarial de 2,64%. O instituto fechou o ano passado com uma rentabilidade de 15,87% para uma meta atuarial de 9,73%.
A composição da carteira do fundo capitalizado tinha em março 61,36% em renda fixa, dispostos da seguinte maneira: 31,23% em títulos indexados à inflação, 11,55% em títulos pré-fixados, 10,33% em fundos de renda fixa, 5,18% em crédito privado, 2,52% em fundos DI e 0,54% em Fidcs. Dos 38,64 restantes, 21,60% estavam em bolsa, 8,90% em exterior, 7,31% em FIPs, 0,83% em fundos imobiliários.