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O trunfo da especialização
Tanto na gestão de FIPs quanto de fundos de ações, estratégias e produtos especializados são a chave para conquistar e manter clientes

Edição 365

Bassani,Rafael(Spectra) 24abr 02A Spectra, uma das gestoras mais ativas do mercado de investimentos alternativos, fechou o ano passado em sua melhor forma. “O ano de 2023 foi de longe o nosso melhor, em originação de oportunidades, negociação e conclusão de transações”, diz o sócio sênior da gestora, Rafael Bassani. Segundo ele, como os fundos de participações (FIP) vinham de um período de baixa atividade, há anos tendo pouca alocação dos fundos de pensão, a disputa nesse mercado estava baixa e gerou oportunidades.
“Além disso, esse mercado mudou de perfil porque os gestores passaram a ser mais especializados. Ao longo dos últimos vinte anos eles faziam de tudo, eram mais generalistas, e hoje temos bons gestores de nichos”, diz. Essa especialização chegou ao auge em 2023 e, segundo Bassani, deve ser até maior neste ano.
A casa explora diferentes categorias de fundos, aproveitando a especialização dos gestores parceiros para flexibilizar seus negócios. “Montamos programas de investimentos em FIPs com flexibilidade e parceiros especializados em todos os nichos”, conta. Os mandatos são amplos e irrestritos.
Atualmente a casa investe 10% com gestores de venture capital, 10% com gestores de special situations e 10% em fundos de busca (search funds ), um nicho adicional que investe em pessoas dispostas a comprar ativos de pequeno ou médio porte e podem virar CEOs , ganhando um pedaço do equity se gerarem retorno. “Hoje temos 40 fundos de busca com mais de R$ 1 bilhão”, explica Bassani.
O ano de 2024 está sendo muito parecido com o que aconteceu em 2023 em termos de tendências, com o nicho de venture capital desacelerando um pouco e o de special situations subindo.
Nos fundos que operam exclusivamente em negócios secundários, um nicho ainda pequeno no Brasil, a asset tem investido historicamente 35% de seu patrimônio e este ano deve chegar a 40% porque novas oportunidades têm surgido. Além disso, há 20% a 30% que são investidos em fundos de private equity tradicionais. Ao todo as parcerias envolvem 55 gestores investidos, além de outros 20 com os quais há uma relação de proximidade.

Rocha,Carol(Perfin) 24abrRegulação favorece FIPs - O ambiente de investimento em fundos alternativos começou a dar sinais de melhora em 2023, mas ainda com cautela, observa Carolina Rocha, COO da Perfin, gestora voltada à fundos de infraestrutura. “Buscamos a infraestrutura porque é o setor de maior previsibilidade, graças aos contratos longos e que já passou por mudanças importantes com novas empresas brasileiras e estrangeiras”, diz.
O setor também viveu nos últimos anos os reflexos positivos do marco regulatório do saneamento e da entrada da economia na era da transição energética, dois temas que são impulsionadores de investimento.
No ano passado, a asset fez uma captação específica para rodovias, num fundo co-investido que fez captação adicional. Em 2024, afirma Rocha, a vantagem é que o ano já abriu com a ideia de queda do juro, embora o ritmo esteja um pouco oscilante interna e externamente. “Apesar disso, a tendência é baixista e a nossa visão é otimista para os alternativos este ano. Seguimos animados com a infraestrutura porque a iniciativa privada deve ajudar a dar suporte ao plano de desenvolvimento do governo”, diz.
Para os investidores institucionais, há novos incentivos para alocar em FIPs desde que a Previc trouxe a melhor separação das responsabilidades entre os gestores e os executivos dos fundos de pensão “Isso ajuda a evitar penalizações indevidas das fundações. Há também a mudança trazida pela CVM 175, que contribui nesse sentido com a figura da responsabilidade limitada e a definição das responsabilidades do gestor”, observa.
Na Perfin, o foco está nos setores de saneamento, rodovias e energia – em transmissão, que tem tido grandes leilões nos últimos dois anos, mas também em distribuição. O ano também está agitado para os projetos de rodovias, graças aos planos do governo para o setor. Nos próximos 24 meses há expectativa de novidades também na área de saneamento. Ao todo, os investimentos em infraestrutura representam hoje mais de um terço do volume total de ativos sob gestão na casa.

Fundos de Ações - A adaptação do mercado à agenda fiscal do ministro Haddad foi um dos marcos da guinada do mercado de ações em 2023, lembra o sócio-fundador e gestor da Navi Capital, Waldir Serafim. “Havia muita incerteza política no início do ano passado e a inflação ainda não sinalizava claramente uma tendência”, diz. Ainda mais importante do que a redução das incertezas fiscais, o fato da inflação ter começado a ceder ajudou a deixar para trás, rapidamente, o cenário de terra arrasada.
“Conseguimos conservar bem o patrimônio, até porque a nossa base é institucional e longo prazista, e as carteiras procuram capturar papéis de empresas de boa qualidade, com um TIR real de 10% a 12%”, diz. O portfólio também inclui papéis de bancos, principalmente Itaú, e de utilities (Petrobrás), com carrego e dividendos positivos. A Sabesp foi outro case e carrego interessante. A asset mantém fundos master e feeders em três estratégias diferentes: long only, que é a maior, e também long biased e long and short.
“Em 2024 não vemos perspectiva de queda do juro para o patamar de 8%. As EFPC ainda estão leves em ações e, embora a tendência seja de crescimento de suas alocações nessa classe, o ritmo e a intensidade desse movimento serão moderados”, acredita Serafim. A casa tem em seu passivo fundos de pensão, que representam 50% dos ativos totais sob gestão, fundos soberanos estrangeiros e alguma coisa em RPPS.
Além dos fundos de ações, há R$ 1 bilhão sob gestão em fundos de investimento imobiliário e de infraestrutura. A área de real estate, com R$ 900 milhões em FII, tem ficado mais relevante, explica Serafim. Há ainda um fundo de infraestrutura, que investe em debêntures incentivadas, e um fundo de private equity de infraestrutura.

Aversão ao risco - A expansão do patrimônio sob gestão em fundos de ações – Brasil e offshore – da Opportunity veio principalmente por conta da rentabilidade obtida, afirma a sócia Gabriella Bouquerel. Boa parte do retorno nas carteiras de ações locais veio dos setores de petróleo e gás e utilities (energia elétrica), enquanto os retornos internacionais vieram dos papéis de empresas de tecnologia, como Google e Microsoft, entre outras. “A captação, por outro lado, não foi fácil porque os clientes ainda estão muito avessos ao risco e o retorno positivo não foi convertido em captação”, conta.
Em 2024, o comportamento avesso ao risco continua, mas a expectativa de queda do juro e do “aperto” da legislação nos ativos incentivados poderá ampliar o apetite ao risco.
O fundo de equities globais, adaptado ao investidor institucional, tem uma carteira mais concentrada do que a média do mercado, com apenas 20 papéis e tem batido o S&P no longo prazo. A carteira tem muita tecnologia e inteligência artificial, mas também inclui empresas de outros setores, como a Canadian Pacific e o JP Morgan. “A classe de equities globais é onde vemos maior possibilidade de crescimento este ano e é nela que vamos concentrar esforços”, afirma.

Classes de FIPs (arquivo em pdf)