O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou durante seminário promovido pela Bradesco Asset Management (Bram) que o ritmo de corte da taxa de juros adotado nas três últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de 0,50 ponto percentual, é “apropriado” para as duas próximas reuniões. Segundo ele, o Copom têm usado a palavra “próximos passos” em seus comunicados para referir-se sempre à um horizonte de duas reuniões, que é até onde o órgão considera prudente dar indicações.
Além desse horizonte o BC prefere não sinalizar, devido às incertezas dos cenários que envolvem fatores diversos como o ritmo da desaceleração da inflação, tanto local quanto global, a desaceleração da economia norte-americana, o peso da desaceleração da economia chinesa na atividade brasileira, a agenda de reformas no Congresso, etc... “Até duas reuniões conseguimos avaliar o comportamento dos fatores, acima disso as incertezas crescem”.
As declarações de Campos Neto foram feitas no mesmo dia em que o BC divulgou a ata da reunião do Copom ocorrida na semana passada, entre 31 de outubro e 1º de novembro, que cortou a taxa Selic de 12,75% para 12,25% ao ano. A ata diz que “com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.
Desinflação - O presidente do BC afirmou que, na prática os processos que nos últimos anos sustentaram a convicção sobre uma desinflação global “se mostraram bem mais difíceis na prática”. Entre as dificuldades apontou que, globalmente, o mercado de trabalho se manteve aquecido, o consumo pós-pandemia não caiu como se esperava, as commodities de energia não baixaram por conta de conflitos globais e o preço dos alimentos tornou-se mais volátil por conta de catástrofes climáticas naturais, embora no Brasil, nesse último caso, tenha ocorrido o contrário, com os alimentos contribuindo para a desinflação.
Além disso, Campos Neto apontou os processos que estão adicionando custos para as empresas, como a transição para uma economia verde, as incertezas advindas de novos conflitos globais, e os processos de nearshoring e friendshoring. O presidente do BC afirmou que “o cenário global de desinflação desacelerou um pouco e, hoje, tem mais perguntas que respostas”.
Liquidez global - Campos Neto mostrou como a dívida pública dos países avançados, principalmente Estados Unidos, aumentou muito com a pandemia e posteriormente não retornou aos padrões anteriores. E isso veio com um agravante. Ao subirem suas taxas de juros nos últimos anos para conter a inflação, esses países passaram a gastar mais para a rolagem de suas dívidas internas.
Nos Estados Unidos, onde a dívida cresceu para 100% do PIB e os juros definidos pelo Fed já superam a taxa de 5%, o custo de rolagem da dívida interna norte-americana, segundo Campos Neto, "já representa nove vezes o que representava alguns anos atrás". De acordo com ele, “daqui para a frente um terço da liquidez mundial vai ser gasta para rolar a dívida dos países avançados”.