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Abipem se reúne com Lupi e entrega carta-aberta com demandas

Carlos Lupi e João FigueiredoRepresentantes da Associação Brasileira das Instituições de Previdência Estaduais e Municipais (Abipem) estiveram reunidos na última quarta-feira (1/2) com o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, ocasião em que lhe entregaram uma carta-aberta com considerações acerca da recriação da pasta  e também demandas dos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). A carta-aberta da Abipem tinha a assinatura do presidente da entidade, João Carlos Figueiredo, e de outros 15 dirigentes de entidades de RPPS.
A carta enfatiza a importância dos mais de 2.100 RPPS existentes no País, com mais de R$ 250 bilhões em ativos, ao mesmo tempo em que o déficit atuarial dos estados e municípios excede R$ 3,4 trilhões, ultrapassando os R$ 4,5 trilhõese quando se considera também o RPPS da União.
Segundo a carta da Abipem, a recriação do Ministério da Previdência Social representou uma importante notícia para as políticas previdenciárias. “Mas o novo MPS foi criado com uma estrutura muito reduzida em várias áreas, de forma especial na Secretaria de Regime Próprio e Complementar, cujos departamentos perderam grande parte dos cargos que existiam nas antigas Subsecretarias do Ministério do Trabalho e Previdênciaâ€. A carta ressalta ainda que, “desse modo, o que seria um motivo de comemoração, tornou-se fator de grande preocupaçãoâ€.
Outro ponto ressaltado pelo documento é a necessidade de criar uma Lei de Responsabilidade Previdenciária, já que a atual Lei ordinária 9.717 teria algumas limitações. Também apresenta demandas dos RPPS sobre a taxação dos recursos dos RPPS, pedindo isonomia com as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs) na aplicação dos investimentos.
O documento também critica as disparidades das regras de benefícios trazidas pela Emenda Constitucional 103, que criou um sistema com mais de 2000 modelos atualmente. A carta alerta que “em um momento futuro poderemos ainda nos depararmos com dificuldades na Compensação Previdenciária ou em batalhas jurídicas buscando isonomia com os sistemas previdenciários mais benéficosâ€.
E na questão militar critica a ampliação da competência da União para legislar acerca de normas gerais de inativação e pensões da polícia militar e do corpo de bombeiros militar, que ocasionou “elevado desequilíbrio financeiro para os entes subnacionais e retirou a autonomia para buscar mecanismos de equacionamento do déficit atuarialâ€.
Segue abaixo a íntegra da carta-aberta entregue pela Abipem ao ministro da Previdência Social, Carlos Lupi:

CARTA ABERTA AO EXMO. SR. MINISTRO DE ESTADO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
Senhor CARLOS LUPI,
“A ABIPEM nasceu há 42 anos e durante toda sua existência procura auxiliar na construção de uma previdência do servidor público com gestão mais profissional, a fim de que os milhões de servidores e seus familiares sejam protegidos por uma previdência moderna, equilibrada e com governança, onde se mantenha o bom controle sobre os ativos, que hoje somam mais de R$ 250 bilhões, e cujos benefícios sejam efetivamente concedidos.â€
“Não foram poucos os ataques ao patrimônio dos servidores e não são poucos os que militam para solapar esta realidade, construída nas últimas décadas, com o esforço de milhares de pessoas que se dedicaram a ser gestores, servidores dos RPPS, seus conselheiros administrativos e fiscais.â€
“Cumpre reforçar que, entre os entes federativos, atualmente existem mais de 2.100 Regimes Próprios de Previdência que concentram a grande maioria dos servidores públicos em todas as suas esferas.â€
“Ainda, necessário ressaltar que o déficit atuarial dos Estados e Municípios excede os R$ 3,4 trilhões de reais, o que apenas reforça a importância de um trabalho sério, mas que também leve em consideração as dificuldades enfrentadas pelos gestores públicos. Considerado o déficit do RPPS da União, a soma ultrapassa R$ 4,5 trilhões de reais.â€
“Em vidas, os RPPS instituídos protegem mais de 70% de todo o universo de servidores públicos brasileiros, bem como as suas famílias. São milhões de cidadãos espalhados por todas as unidades da federação.â€
“A recriação do Ministério da Previdência Social, como pasta distinta do Ministério do Trabalho e Emprego, representa uma importante notícia para as políticas previdenciárias.â€
“No entanto, da análise da estrutura regimental estabelecida pelo Decreto nº 11.356/2023, observamos que o novo MPS foi criado com uma estrutura muito reduzida em várias áreas, mas de forma especial na Secretaria de Regime Próprio e Complementar, cujos Departamentos perderam grande parte dos cargos que existiam nas antigas Subsecretarias do Ministério do Trabalho e Previdência.â€
“Desse modo, o que seria um motivo de comemoração, tornou-se fator de grande preocupação quanto ao futuro das áreas responsáveis pelas políticas voltadas aos Regimes Próprios e à Previdência Complementar.â€
“Indispensável que se diga que todos os interessados se unam em defesa da Previdência Nacional, e no nosso caso, em especial, da Previdência dos servidores.â€
“Resta dizer ainda que das 17 associações estaduais de RPPS existentes no Brasil, 14 fazem parte da diretoria e conselhos da ABIPEM através de seus presidentes, o que faz com que nossas reinvindicações representem a da grande maioria dos RPPS do Brasil.â€
“Dentre as estruturas que entendemos serem necessárias para a democratização das decisões sobre previdência dos servidores, destacamos duas que mantêm grande representatividade e ajudam sobremaneira nesta construção.â€
“O CONAPREV, Conselho Nacional de Dirigentes de Regimes Próprios de Previdência social, cuja criação já perfaz mais de 20 anos e que tem a representatividade de todos os estados e DF, das principais capitais, de alguns municípios e associações, e cuja construção vem se dando nestas duas décadas de existência.â€
“Também temos o CNRPPS, criado há três anos e cuja representatividade extrapola os gestores e agrega entes e segurados, que é o responsável pela definição das políticas dos RPPS nos últimos anos.â€
“Em face destes dois órgãos gravita a estrutura dos RPPS neste momento e entendemos que toda discussão sobre o aperfeiçoamento que com certeza V. Exa. pretende trazer, pode e deve navegar por estes colegiados.â€
“Outras questões também deveriam, s.m.j, ser objeto de cuidado e solução, e nos permitimos trazê-las abaixo:â€
Da parceria histórica do MPS com a ABIPEM e associações estaduais
“Nestes últimos anos houve enorme esforço na formação da cultura previdenciária e na regulamentação das atividades dos RPPS, especialmente ante a promulgação da Emenda Constitucional 103, que efetivou a reforma da previdência.â€
“Levar conhecimento aos mais de 2100 RPPS no Brasil não é atribuição fácil de se desempenhar, e o Ministério e sua então Secretaria de Previdência entenderam ser imprescindível a participação em eventos, presenciais ou através de programas da TVABIPEM, que foram feitos às dezenas nos últimos anos.â€
“Esta parceria acabou por fortalecer a posição de vanguarda da SPREV e atingiu a praticamente a todos no Brasil. A ABIPEM, através da TVABIPEM transmite os programas e os deixa vinculados em suas plataformas, com acesso gratuito aos interessados, associados ou não.â€
“Nos eventos presenciais, há sala de atendimento montada onde os gestores são atendidos pessoalmente, tirando dúvidas e resolvendo pendências, onde tivemos enorme êxito nos atendimentos, tanto para desafogar a Secretaria de Previdência, como para ajudar os gestores em suas pendências.â€
“Neste sentido, solicitamos sejam mantidas estas parcerias, nos colocando à disposição para tudo o que for necessário para disseminação das informações oriundas deste Ministério aos RPPS de todo o Brasil, estendendo-se estas parcerias às associações estaduais.â€
Da necessidade de uma Lei de Responsabilidade Previdenciária
“Com o advento da EC 103, foi estabelecida a necessidade de edição de Lei Complementar a fim de regulamentar o que tratado no texto constitucional. Enquanto perdurar a inexistência da referida Lei, foi excepcionalmente dada à Lei ordinária 9.717 o caráter de Lei Complementar, para que se evitasse inexistir regulamentação infra constitucional adequada.â€
“O Conteúdo da LRP foi objeto de discussão no âmbito dos RPPS, através da participação em grupo de trabalho formalmente organizado para tanto. O debate fez com que fosse construída minuta cujo conteúdo teve a participação efetiva dos membros indicados pelo CONAPREV, todavia no trâmite interno do Ministério da Economia e do Ministério do Trabalho e Previdência houve alguns ajustes que consideraram a visão do governo federal quanto à forma e conteúdo corretos, sem uma nova apreciação pelos representantes dos entes subnacionais.â€
“Embora não descaracterizado o objeto, ante a entendimentos técnicos de várias áreas, alguns interesses dos RPPS sofreram redução, restando situações pontuais desejadas pelos entes subnacionais que demandam discussão, no âmbito do Executivo Federal ou durante a tramitação no Congresso Nacional. De qualquer modo, vale asseverar o apoio ao prosseguimento do projeto, para que a LRP possa fortalecer a proteção à previdência dos servidores públicos.â€
“Acredita-se que no processo formalizado pelo Governo federal encontre-se disponível a versão aprovada pelo CONAPREV e CNRPPS e as versões produzidas posteriormente, durante sua tramitação.â€
Do PASEP
“Como se depurará da leitura da minuta enviada, haveria a mesma que tratar sobre o PASEP sobre as verbas previdenciárias. Hoje pretende a União que os RPPS paguem contribuição sobre os repasses patronais e até sobre o rendimento dos investimentos dos RPPS.â€
“Há ainda um tratamento diferenciado, não exigindo pagamento do repasse se a gestão do RPPS é feita via fundo previdenciário, ao invés de autarquias, fazendo como que os recursos previdenciários sejam tratados sem qualquer isonomia.â€
“Além disto, os recursos previdenciários dos servidores são taxados de forma diferente aos recursos da previdência da iniciativa privada, via PIS das EFPC.â€
“Esta absurda taxação aumenta a necessidade de aporte pelos entes subnacionais, em detrimento do custeio de outras necessidades que o tesouro precisa suportar, inclusive no que tange ao aumento dos salários dos servidores, aposentados e pensionistas.â€
“Neste sentido tramita no Senado Federal Projeto de Lei 4809/2019, do Senador Lasier Martins, ajustando o PASEP sobre os RPPS, cujo projeto também poderá ser objeto de remessa eletrônica.â€
Da quebra de paradigma quanto a uma única previdência do servidor
“A EC 103 acabou por trazer ao mundo jurídico a possibilidade de que cada ente formalizasse ao seu bel prazer regras de benefícios previdenciários, possibilitando que o sistema que era único até a emenda, possa ter hoje mais de 2000 modelos.â€
“Tal situação impede que continue a existir um sistema universal de previdência dos servidores públicos, o que possibilita ainda que muitos entes não se adequem as normas constitucionais de equilíbrio atuarial do seu sistema, ante a impossibilidade de realizar sua reforma previdenciária, por questões de gestão de interesses locais, ou de falta de apoio das assembleias estaduais ou das câmaras de vereadores municipais.â€
“Em um momento futuro poderemos ainda nos depararmos com dificuldades na Compensação Previdenciária ou em batalhas jurídicas buscando isonomia com os sistemas previdenciários mais benéficos.â€
“A possibilidade de legislar, ao contrário do que se pregou na aprovação da emenda, acabou por prejudicar o sistema como um todo. Indispensável se pensar em tornar novamente único o sistema de benefícios previdenciários.â€
Da questão da proteção aos militares
“Por força da Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro de 2019 (Reforma da Previdência), foi ampliada a competência privativa da União, que passou a ter capacidade para legislar acerca de normas gerais de inativação e pensões da polícia militar e do corpo de bombeiros militar, trazendo reflexos aos Estados-Membros.â€
“Com isso, foi sancionada a Lei nº 13.954/19, que, dentre outras, que estabeleceu tais regras gerais e se constituiu o Sistema de Proteção Social dos Militares (SPSM) também nos Estados. A Lei nº 13.954/19 trouxe modificações nas Leis nºs 6.880/80 (Estatuto dos Militares), 3.765/60 (Lei de Pensões), 4.375/64 (Lei do Serviço Militar), 5.821/72 (Lei das promoções dos oficiais da ativa das Forças Armadas) e 12.705/12 (Lei de requisitos para ingresso nos cursos de formação de militares de carreira do Exército).â€
“Para o custeio do SPSM, incide contribuição de 10,5% sobre toda a remuneração do militar ativo1, inativo e do pensionista. A cobertura de eventuais insuficiências financeiras cabe ao ente federativo.â€
“O tempo mínimo de contribuição para será de 35 (trinta e cinco) anos de serviço, dos quais no mínimo 30 (trinta) anos de exercício de atividade de natureza militar. Nesse caso, a remuneração na inatividade será igual à do posto ou da graduação que o militar possuir por ocasião da transferência para a inatividade remunerada (integralidade). Seu valor deve ser revisto, automaticamente, na mesma data da revisão das remunerações dos militares da ativa (paridade).â€
“A pensão militar é igual ao valor da remuneração do militar da ativa ou em inatividade (integralidade). Também deve ser revisto, automaticamente, na mesma data da revisão das remunerações dos militares da ativa (paridade).â€
“As regras atuais ocasionaram elevado desequilíbrio financeiro para os entes subnacionais e retiraram a autonomia para buscar mecanismos de equacionamento do déficit atuarial. Além disso, implicou elevada assimetria de regras e cálculo de benefícios com os servidores civis.â€
“Todos os quatro temas acima descritos foram objeto de encaminhamento para a comissão de transição, via comissão do CONAPREV, valores estes aos quais nos somamos.â€
“A ABIPEM tem sido parceira do então MPS, e especialmente das então subsecretarias de RPPS e Previdência Complementar na divulgação de temas de interesse do órgão governamental federal, agora este Ministério da Previdência, através de programas da TVABIPEM e de nossos congressos, o que desde logo fica a disposição para que possamos continuar juntos na construção da previdência dos servidores.â€
“Esta visita, além de apresentar nossa Associação, serve para dizermos que estaremos ombreados na construção da previdência pública, na luta pela estrutura imprescindível a este Ministério para que não ocorra um colapso ante aos parcos recursos de pessoal que foram de forma inadequada atribuídos quando da partilha entre Trabalho e Previdência, bem como na luta perene pela profissionalização da gestão dos RPPS, para que os conhecimentos e boas práticas sejam por eles incorporados, bem como na defesa do patrimônio acumulado durante décadas, e que têm sido objeto de cobiça de quem pouco respeita este ativo dos milhões de beneficiários brasileiros.â€
“São estas as primeiras demandas e propostas que apresentamos neste primeiro contato, desejando à V. Exa. e a todo o novo Ministério da Previdência Social sucesso na empreitada.â€