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“Há pouca margem para novos cortes na Selic”, avalia Campani

Com a manutenção da Selic em 2% ao ano, decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na última quarta-feira (16/09), os ativos de risco seguem com espaço para valorização, mas a manutenção dessa tendência no próximo ano dependerá de medidas além da esfera da política monetária. A avaliação é de Carlos Heitor Campani, professor do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead-UFRJ), que considera essenciais sinalizações da retomada das reformas estruturais, por parte do governo federal, e a recuperação no nível de atividades, para evitar turbulências econômicas e políticas.
“Há pouca margem para a continuidade dos cortes na Selic, talvez 0,25 ponto a mais, e também há dúvidas sobre a eficácia de novas reduções”, observa Campani. “Um dado relevante é que os agentes econômicos e o mercado já demonstram preocupação com os elevados gastos públicos para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. É crescente o temor de que a deterioração da área fiscal possa resultar, mais à frente, em uma elevação da taxa de juros.”
O quadro, assinala o acadêmico, é semelhante ao redor do planeta. Os governos das principais nações, em sua grande maioria, adotaram políticas monetárias expansionistas e injetaram volumes expressivos de recursos na economia, abrindo mão, momentaneamente, de controles e metas de equilíbrio das contas públicas. No caso do Brasil, contudo, um efeito colateral dessa estratégia, destaca Campani, é a recente alta dos índices de preços. “O IGPM, por exemplo, subiu 4,41% nos dez primeiros dias de setembro. Ainda que boa parte dessa evolução deva ser creditada à pressão exercida pelo câmbio, é um índice preocupante”, diz ele. “Ou seja, o Brasil corre riscos de voltar a conviver com a inflação, apesar de continuar com o freio de mão puxado.”
Campani traça dois cenários para o mercado acionário em 2021. Um mais otimista, com o Ibovespa no patamar de 120 mil pontos, quase atingido em janeiro, que estimulará novos IPOs e a ampliação do contingente de investidores pessoas físicas, e outro com o índice da B3 recuando para a casa de 90 mil. A diferença, a seu ver, será determinada pelo retorno ou não às pautas do Executivo e do Legislativo dos projetos de reformas estruturais, a começar pela tributária e a administrativa. “Sem reformas, a crise econômica se estenderá à área politica, com a retomada do debate sobre o impeachment do presidente da República”, diz o professor da Coppead.