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Dólar dispara e bolsas caem com discurso de Lula à base aliada

Lula ccbbO mercado financeiro reagiu muito mal ao discurso desta quinta-feira (10/11) do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou a tocar em temáticas que estiveram presentes em seus primeiros pronunciamentos, no início da campanha eleitoral, mas foram sendo suavizados à medida que angariava apoios de outros partidos políticos. O resultado desse mau humor do mercado foi uma alta de 4,14% no dólar comercial, que fechou a R$ 5,397, e uma queda de 3,35% no Ibovespa, o principal índice da B3, que fechou aos 109.775 pontos.
Em pronunciamento pela manhã a deputados da base aliada reunidos no Centro de Convenções do Banco do Brasil, Lula disse que a responsabilidade fiscal não deve ser vista como a única meta a ser perseguida pelo governo, e que o seu governo tem compromissos também com a responsabilidade social. Ele se emocionou, chegando a chorar, ao dizer que considerará cumprida sua missão se, ao final do seu terceiro mandato, “cada brasileiro estiver tomando café da manhã, almoçando e jantando”.
Lula voltou a questionar o teto de gastos, como aliás já tinha feito várias vezes durante a campanha eleitoral. Só que dessa vez os questionamentos não partiram de um candidato, mas de um presidente eleito. “Por que que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gastos não discutem a questão social desse país? Por que que o povo pobre não está na discussão da planilha da macroeconomia? Por que a gente tem meta de inflação, mas não tem meta de crescimento?
O presidente eleito questionou também as reformas previdenciária e trabalhista, dizendo que a primeira reduziu a pensão de viúvas de R$ 2 mil para cerca de R$ 1,3 mil e a segunda teria que ser rediscutida  em alguns aspectos. “Os empresários ficaram chateados porque falamos que vamos rediscutir a legislação trabalhista, (mas) a verdade é que nós vamos ter que discutir a relação capital e trabalho no século 21”, disse.

Reação do mercado - Nos minutos seguintes ao discurso de Lula o mercado já começou a responder à sua maneira, com a alta do dólar e a queda do Ibovespa. Às 10h45 a moeda norte-americana estava a R$ 5,26 e ganhou força a partir dai, fechando próxima das máximas do dia, à R$ 5,397. É o maior nível desde 22 de julho, quando tinha fechado a R$ 5,50. No restante do planeta, o dólar teve um dia de queda após a divulgação de dados que mostram a desaceleração da inflação nos Estados Unidos, o que reduz as pressões para que o Federal Reserve mantenha os juros altos por longo tempo.
No mercado de ações, a queda de 3,35% do Ibovespa levou o índice ao seu nível mais baixo desde 29 de setembro, na semana anterior à realização do primeiro turno das eleições. No pior momento do dia, por volta das 16h30, o indicador chegou a despencar 4,46%. No exterior, ao contrário do que ocorreu no Brasil, o índice norte-americano Dow Jones fechou o dia com alta de 3,7% e o inglês FTSE 100 subiu 1,1%.

Alckmin - Logo após o discurso de Lula, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin fez um pronunciamento no qual tentou relativizar as palavras de Lula. Alckmin afirmou que Lula, nos seus dois primeiros mandatos, agiu com responsabilidade fiscal, reduzindo a dívida pública como percentual do PIB de 60% para 40%, além de ter gerado superávits primários em todos os anos do seu governo. O vice-governador eleito afirmou ainda que “a responsabilidade fiscal não é incompatível com a questão social". Alckmin defendeu a necessidade de ajustes no Orçamento de 2023 para acomodar despesas das promessas de campanha, como o Bolsa Família de 600 e mais R$ 150 por filho até 6 anos de idade.
Ao deixar o prédio do Centro Cultural Banco do Brasil, no fim da tarde, quando perguntado por repórteres sobre o que achava da disparada do dólar e da queda do Ibovespa, Lula ironizou a reação do mercado financeiro. “Nunca vi um mercado tão sensível como o nosso", afirmou.