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Mais demanda por crédito privado
Fundos de pensão canadenses ampliam alocações em crédito privado para compensar a queda nas taxas de juros dos títulos públicos nos últimos anos

Edição 365

credito privadoFundos de pensão canadenses vêm aumentando suas alocações em crédito privado, a despeito dessa classe de ativos apresentar maior risco de liquidez e menos transparência em relação aos títulos da dívida pública. A razão desse aumento está na sua rentabilidade, que tem superado a remuneração dos títulos públicos na maior parte do planeta por conta dos juros baixos adotados nos últimos anos pelos seus bancos centrais.
Dois fundos de pensão com atuação no Brasil, o Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) e o Alberta Investment Management Corporation (AimCo) estão entre os que têm ampliado suas alocações em crédito privado. Ambos participam da estrutura de capital da Iguá Saneamento, que ganhou o leilão de privatização da Cedae, a companhia de saneamento do Rio de Janeiro, no início de 2021. Além disso, a CPPIB tem participações na companhia de shopping centers Aliansce e no Botafogo Praia Shopping, do Rio de Janeiro.
Em entrevista à publicação Pension & Investment o CPPIB informou que quase dobrará suas alocações em crédito privado, dos atuais US$ 45 bilhões para cerca de US$ 84 bilhões. “O crédito privado está crescendo rapidamente, tanto no crédito corporativo quanto no financiamento garantido por ativos”, disse o diretor administrativo sênior e chefe global de investimentos de crédito do CPPIB, Andrew Edgell. A fundação mantinha uma carteira de investimentos de cerca de US$ 420 bilhões em 30 de setembro do ano passado.
Já a AimCo, cuja carteira de dívida privada vem sendo montada desde 2010, tem atualmente cerca de US$ 5,13 bilhões alocados nessa classe. A rentabilidade dessa carteira em 2022 foi de 6,2%, superando o índice de referência da entidade em 6,3 pontos percentuais, enquanto o retorno da carteira total foi de -3,4% no período. “Temos um mandato significativo para aumentar a nossa carteira de crédito privado”, disse o CEO da AimCo, Evan Siddall, num comunicado divulgado no último 13 de fevereiro.
A Investment Management Corp (Imco), uma entidade de Ontário que gerencia recursos de fundos de pensão da região, está aumentando sua alocação em crédito privado de 37% da carteira total de crédito no início do ano passado para 46% no final do terceiro trimestre de 2023. “A nossa decisão de mudar do crédito público predominantemente passivo para o crédito privado de diferentes segmentos, incluindo empréstimos, infraestrutura, soluções de capital e imóveis, representa uma evolução contínua da nossa estratégia”, afirma a diretora-gerente e chefe de crédito global da Imco, Jennifer Hartviksen, num blog publicado ao final do ano passado.
Outra empresa que pretende ampliar investimentos em crédito privado é a British Columbia Investment Management (BCI) Corporation, que apesar do nome é canadense e fornece serviços de gestão de investimentos para fundos de pensão daquele país. Atualmente, dos US$ 157 bilhões que a empresa tem sob gestão, US$ 11 bilhões estão alocados em crédito privado. “O BCI continua a aumentar os investimentos em crédito privado em todos os setores e estratégias, no Canadá, nos EUA, na Europa e também na Ásia-Pacífico”, afirma o seu vice-presidente executivo e chefe global de mercados públicos, Daniel Garant.
Segundo a diretora de pesquisa e gestão de crédito para a América do Norte da Willis Towers Watson, Karin Anderson, “os investidores institucionais, incluindo fundos de pensões nos EUA e no Canadá, têm aumentado os seus investimentos em crédito privado desde a crise financeira global, principalmente pelo seu rendimento mais elevado”.
Segundo ela, “durante muitos anos, o crédito privado ajudou a elevar a rentabilidade das carteiras de títulos públicos, devido às suas taxas mais elevadas e aos seus spreads atrativos, que ainda hoje oferece rendimentos mais elevados”, complementou.
Estudo feito pela Goldman Sachs Asset Management mostra que o tamanho do mercado de crédito privado aumentou sete vezes desde a crise financeira global, para cerca de US$ 1,9 trilhão de dólares atualmente, tornando-se maior que o mercado da dívida pública.
A Coalition Greenwich, empresa da S&P Global Company que atua como provedora de análises, insights e benchmarks estratégicos, publicou em outubro do ano passado um relatório com o título de “Gestores de riqueza e ativos focam no crédito privado”, no qual prevê que o mercado de crédito privado subirá para US$ 2,7 trilhões de dólares até 2026.