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Mix inclui câmbio e renda fixa
Embora exterior tenha sofrido nos últimos anos pela concorrência dos juros altos, algumas fundações se preparam para ampliar alocações nessa classe

Edição 369

Miguel,Alexandre(Petros) 24junA Petros, que começou a investir em ativos no exterior em outubro de 2021, tem atualmente perto de R$ 600 milhões aplicados em fundos que investem nos mercados globais, o que representa 0,4% do patrimônio total da fundação, de R$ 132,8 bilhões, informa Alexandre Miguel, diretor interino de investimentos. Mas a sua política de investimentos para 2024-2028 prevê espaço para aumentar a alocação no segmento de exterior e a fundação já está fazendo isso.
“Estamos atualmente aumentando a alocação em fundos já investidos, especificamente nos planos de contribuição definida, dentro da nossa política de diversificação. Olhando para o restante de 2024, permanecemos vigilantes acerca do início do corte de juros na economia americana e da evolução dos dados de inflação e atividade das principais economias”, analisa Miguel.
A alocação começou a ser feita depois de um cuidadoso processo de preparação e veio como parte da estratégia de diversificação. “O objetivo é diversificar as carteiras dos planos de previdência mais jovens, como os de contribuição variável e de contribuição definida, de forma a otimizar o retorno ajustado ao risco, sempre considerando o perfil de cada plano” diz.
A fundação usa uma estrutura de fundo de fundos e está posicionada em gestores de multimercados globais, com mandatos de baixa volatilidade que oferecem exposição a uma ampla gama de fatores de risco, tanto em renda fixa quanto em renda variável. “Essa estratégia ajuda a reduzir o risco no mercado local porque nos permite acessar geografias e moedas que têm baixa correlação com os ativos domésticos”, avalia.
Como as operações buscam a alocação em produtos desvinculados dos investimentos locais, as aplicações são feitas sem hedge cambial. “A vantagem é exatamente essa, diversificar a carteira por meio da descorrelação com o mercado doméstico. Por outro lado, a exposição cambial pode inserir uma volatilidade um pouco maior na rentabilidade desses investimentos”, diz Miguel.
Em relação à performance, apesar das incertezas que persistem no cenário internacional, os investimentos no exterior avançaram 20,4% no primeiro semestre de 2024 “Esses resultados positivos vieram tanto da valorização do dólar americano quanto da boa performance dos ativos de risco globais”, conta.
Em 2023, entretanto, as incertezas nos mercados globais trouxeram impacto negativo para o investimento no exterior, puxado pela queda do dólar no período. ”O ano de 2023 foi desafiador do ponto de vista econômico e geopolítico, como a inflação alta nos mercados globais, a manutenção de juros elevados na economia norte-americana, a desaceleração da economia chinesa e os conflitos no Oriente Médio e no Leste Europeu”, observa.
A Petros, lembra Miguel, teve um ano bastante positivo para seus investimentos como um todo, com rentabilidade consolidada de 12,6% em 2023, quase três pontos percentuais acima do objetivo médio de 9,7%, o melhor resultado em quatro anos.

Contraponto à carteira local - Com um fundo de fundos (FoF) exclusivo que compra cotas de fundos lá fora, a Inovar Previdência mantém uma estratégia diversificada em renda fixa, renda variável e alternativos, conta Cleber Diniz Nicolav, diretor superintendente. “E o fundo incorpora a possibilidade de usar proteção contra a moeda porque o gestor pode agregar hedge cambial se julgar oportuno, então é interessante para diversificar e ajudar a diminuir o risco sem perder o retorno da exposição ao dólar”, diz. Em 2024, o retorno do fundo até o dia 13 de agosto era de 17,49%.
“Nunca quisemos exterior com hedge cambial porque a exposição cambial é que faz o contraponto com a carteira local”, define. O fundo é mais um instrumento de diversificação e é considerado como alocação estrutural na entidade, compatível com uma visão de longo prazo pra os investimentos.
O FoF é gerido por uma empresa no modelo multi-family office, a Turim, uma decisão que foi tomada pela fundação quando resolveu trocar seu gestor anterior, cujo desempenho não foi considerado satisfatório. “Usamos a consultoria Aditus nesse processo de seleção e chegamos à Turim, examinamos a governança da casa e seu track record em exterior e começamos a alocação com eles em fevereiro de 2023”, conta Nicolav.
Há espaço para aumentar essa alocação, mas isso ainda dependerá do cenário e do passivo da fundação porque hoje metade do seu patrimônio já é usado para o pagamento de benefícios. “Estamos promovendo ações de fomento para crescer mas com o atual perfil de público, é preciso ser cuidadoso nos investimentos”, afirma. Apesar disso, a bolsa, o exterior e os multimercados não podem ser deixados de lado uma vez que são importantes para assegurar o retorno com um pouco menos de risco. O percentual investido no exterior no início do ano representava 4% dos ativos totais da fundação, percentual que hoje está em 4,87% devido à valorização e ao fluxo de recursos.
Nicolav ressalta que a questão do juro americano e a possibilidade de recessão nos EUA, assim como outros fatores do cenário ainda precisam de mais dados para serem analisados. “A princípio não temos intenção de alterar o investimento em exterior por motivos conjunturais mas temos bandas táticas para o gestor arbitrar diante das oportunidades do mercado”, afirma.

Mais renda fixa - A experiência da Néos Previdência, que investe em exterior desde 2012/2013, quando incorporou os planos da Faelba, que já fazia esse tipo de investimento. São dois fundos abertos de renda variável em dólar e um fundo de renda fixa com proteção por meio de hedge, explica Alexandre Vita, diretor-superintendente. Os fundos de exterior estão presentes nas carteiras dos quatro planos CD da entidade, que somam perto de R$ 132 milhões – R$ 107 milhões em renda fixa e R$ 25 milhões em renda variável - ou 3,5% dos ativos totais.
“Depois da incorporação da Faelba, esse modelo foi padronizado para os nossos planos CD e são todos fundos abertos mas hoje, como boa parte dos recursos da carteira de nossa renda variável local já está em fundos exclusivos ou em FoFs, pretendemos fazer o mesmo com exterior”, afirma.
Para isso, a entidade conta com o aumento do seu patrimônio e com a perspectiva de fazer sua quarta incorporação no setor, a da Faceb (fundo de pensão dos empregados da Cia. Energética de Brasília), que aguarda aprovação da Previc. A Néos, que já incorporou no passado a Faelba, a Fasern e a Celpos, verá agora seu patrimônio crescer mais R$ 1,5 bilhão caso acrescente os ativos da Faceb.
O investimento em renda variável é feito com exposição ao dólar e seu resultado fica mais concentrado em papéis de empresas de tecnologia, o que tem sido uma boa proteção para a carteira. Desde 2023, entretanto, a entidade preferiu ficar mais posicionada em renda fixa, uma estratégia que será reavaliada agora na definição da política de investimentos para 2025.
“O exterior tem um papel importante na diversificação das carteiras, é um mercado grande e vasto e os resultados históricos desse investimento têm nos deixado satisfeitos”, afirma.