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Ativos tradicionais atraem EFPCs
Alta da Selic leva os institucionais a manter baixa a exposição a ativos de risco, mas olham com interesse boa performance de exterior

Edição 317

Felisberto,Mario(Santander) 24outCom equipes dedicadas aos institucionais nas áreas comercial e de gestão de mandatos exclusivos e customizados, a Santander Asset Management (SAM) ganhou este ano novos mandatos desses investidores, e mais aportes nos seus fundos abertos, diz Mario Felisberto, CIO da gestora. A SAM é a quarta maior gestora de recursos de EFPC, atrás apenas de BB Asset, Itaú e Bram. “Nos beneficiamos do movimento que empurrou os institucionais para os ativos mais tradicionais porque somos vistos por esse público como uma casa com foco importante na renda fixa e crescemos nessa classe, no perfil mais conservador”, diz.
O objetivo da instituição é crescer em todos os segmentos – EFPC, RPPS, previdência aberta e seguradoras, junto aos quais mantém uma atuação ativa, afirma Felisberto. Na previdência aberta, a atuação é mais similar à do varejo, por meio de fundos abertos, enquanto nos fundos de pensão essa presença é mais forte por meio de fundos exclusivos e nos RPPS, em fundos abertos.
Esses investidores, diz o gestor, procuraram um pouco mais de risco em crédito e não na renda fixa tradicional, usando uma combinação de fundos exclusivos que teve um pouco de tudo. “Crescemos em número de mandatos e nos aportes feitos em mandatos exclusivos já existentes, além de termos crescido também em aportes nos fundos abertos”, diz.
Na classe de crédito, que está com spreads historicamente baixos para os ativos high grade, a asset não tem recomendado aos investidores aumentar muito os volumes de recursos alocados. “Apesar disso, não vemos motivo para uma deterioração porque o juro é alto mas não tanto e a atividade econômica não indica maiores problemas no mercado de crédito”, afirma. A demanda continua mais forte pelos ativos mais conservadores, seja em títulos bancários ou nos corporativos, e os fundos de pensão, diante das incertezas e do patamar do juro, não têm estímulo para alocações mais sofisticadas.
“Temos visto maior interesse deles pelo investimento no exterior, mas isso aconteceu há três anos, antes do juro subir e reduzir o apetite pela alocação global. Agora temos visto um pouco mais, por conta da boa performance dessas estratégias lá fora”, explica.
Nas EFPC, o apetite pelos fundos multimercados ainda é limitado e mais concentrado nos mandatos customizados. “A NTN-B e o CDI são uma combinação difícil de bater. Nós procuramos mostrar o potencial da diversificação e sua importância no longo prazo e eles entendem, mas é difícil diversificar frente ao atual patamar dos juros”, admite.

EFPC longe do risco - A frustração com a interrupção do ciclo de baixa da Selic, agora transformado em aperto monetário, impactou as decisões de investimento dos fundos de pensão, observa Marc Forster, da Western Asset Management, sexta maior gestora de recursos de EFPC. “Não houve tomada adicional de risco mas vimos alguma demanda por alocação internacional porque, apesar das dúvidas sobre o juro americano, a bolsa dos EUA veio subindo e foi o único “bolso adicional” para as carteiras, mas ainda de forma marginal”, afirma. Um dos maiores competidores dos mercados foi o Tesouro Nacional, com o IPCA mais 6,5%, deixando juros reais e nominais muito altos.
Para a indústria de fundos de gestão ativa, diz Forster, o destaque foi mesmo o crédito privado, que deu o tom ao ano com prêmios ainda interessantes para créditos mais curtos e para os ativos do setor de bancos, principalmente.
Os institucionais, que representam 72% dos ativos sob gestão na asset, 69% dos quais vindos de EFPC, não tiveram necessariamente um ano de muitas oportunidades em gestão ativa. Desse percentual de fundações, 68% dos recursos estão em mandatos exclusivos.
“Estivemos bem posicionados este ano em performance frente à concorrência. Acabamos de ser informados que uma EFPC, que já tem um fundo exclusivo de crédito com R$ 300 milhões, fará um aporte num segundo produto nosso, nesse mesmo valor, também via mandato exclusivo mas não dedicado a crédito”, afirma Forster. A asset vem recompondo sua exposição a crédito com esse tipo de mandato, dentro de uma linha de atuação que visa a readequação das carteiras de crédito, agora mais pulverizadas e com mais títulos bancários.

Crédito sustentável - Dos R$ 80 bilhões sob gestão na Sul América Investimentos, R$ 11 bilhões são de fundos PGBL e VGBL, sendo que 83% desses recursos etão alocados em renda fixa e crédito privado. “Ao todo, estamos crescendo 20% nas reservas este ano, acima da indústria, mas todo esse fluxo vai para a renda fixa ativa ou para produtos de renda fixa que alocam em ativos de crédito privado, informa Marcelo Mello, presidente da SulAmérica Vida, Previdência e Investimentos.
A asset, que saiu de R$ 64 bilhões em ativos no início do ano para R$ 80 bilhões em setembro, teve captação líquida de R$ 3,6 bilhões em 2023 e em 2024, até setembro, registrava mais de R$ 37 bilhões em entradas de recursos, principalmente direcionados ao crédito.
“Tivemos a entrada de diversos fundos de pensão este ano, em fundos abertos mas também em fundos exclusivos que replicam as estratégias de crédito da casa, pela migração de algumas EFPC que têm carteiras próprias e querem uma gestão mais ativa nessa classe”, conta Mello.
Entre os produtos de maior crescimento ele destaca os fundos de crédito ESG, todos com o sufixo IS (Investimento Sustentável, da Anbima), uma família que nasceu há dois anos e já atingiu R$ 3,5 bilhões de patrimônio. O portfólio de R$ 80 bilhões é integralmente sensibilizado para a análise ESG, mas no caso dos fundos de crédito, a gestora aplica uma dupla checagem, que inclui não só a nota da empresa e do setor, mas também a checagem de uma consultoria externa.
“A demanda por investimento ESG aumenta ano a ano no segmento das EFPC e os consultores de investimentos também adicionam cada vez mais esse questionamento, é um processo que evoluiu muito. Hoje não precisamos mais provocar o investidor nesse sentido, é ele quem nos provoca”, afirma Mello. Ele observa que os PGBL e VGBL vieram depois nessa trilha, mas os primeiros a sensibilizarem suas carteiras para o tema foram os fundos de pensão.
Atenta às EFPC, a gestora pretende lançar agora mais fundos de infraestrutura e está à espera de novas portarias com a regulação das novas debêntures de infraestrutura que darão isenção fiscal aos emissores. “Esperamos as portarias mas já temos toda a estrutura pronta para entrar nessa classe de ativos, deve acontecer em 2025”, diz.

Oportunidade de diversificar - Como aconteceu no mercado, a migração dos fundos de maior risco – ações e multimercados – para os de renda fixa, em especial de crédito privado, foi grande também na Kinea Investimentos, conta Marcio Verri, sócio fundador e CEO da gestora. “Nossos fundos de crédito performaram bem e os fundos de previdência ficaram focados nessa mesma linha. Agora o ganho de capital trazido pelo fechamento dos spreads já está nas cotas dos fundos e a perspectiva do crédito no Brasil continua muito boa porque a economia continua saudável”, afirma. Apesar disso, com os spreads menores os fundos não irão repetir a performance histórica que tiveram de 2023 para cá.
“Isso abre mais espaço para os fundos multimercados e para as EFPC, RPPS e previdência aberta também atuarem nos fundos ilíquidos”, avalia Verri. Entre as oportunidades em produtos da asset, ele cita o fundo de equities que investe em infraestrutura, a aplicação das fundações em FII e alguns fundos de incorporação que foram importantes como o KLOG11, que captou recursos de EFPC e de RPPS. “As nossas verticais estão todas fortalecidas e os multimercados deverão voltar a ser interessantes nos próximos 12 meses”, sugere.
Enquanto as NTN-B pagarem acima de 6% reais, porém, Verri admite que será difícil mudar a alocação das EFPC, hoje concentrada na renda fixa. “Dada a dinâmica de metas das f undações, continua a migração para os fundos de NTN-B, que travam os passivos atuariais”, afirma Verri.
Na previdência aberta, há maior interesse pelos fundos de menor volatilidade, em CDI, talvez como substituição ao crédito privado. Já vemos uma migração desses investidores para fundos menos voláteis”, diz.

Fora do radar - Mais da metade dos investidores brasileiros e globais da Tarpon são fundos de pensão, endowments, fundações, RPPS e fundos soberanos. “Temos conversado com esses institucionais para captar recursos para investir em private equity em 2025, mas ainda não fizemos este ano”, diz André de Escobar, responsável pela área de desenvolvimento de negócios e RI. Nas duas outras estratégias, de bolsa e compra de participações, a captação líquida foi importante este ano, diz Escobar. “Procuramos ter uma relação próxima com o institucional porque o perfil desse investidor é parecido com o nosso”, avalia.
“Crescemos em parcerias tentando oferecer coisas que estão fora do radar de outros investidores, como empresas que têm altas taxas de crescimento e negócios mais resilientes”, afirma. Em 2024, ano que tem sido muito duro para a indústria de fundos e em particular para os fundos de ações, a gestora tem conseguido performar relativamente bem na bolsa. “O ideal, porém, seria ver o mercado mais pujante.Quando olhamos para os institucionais e para a taxa de juros,fica difícil pensar fora da renda fixa”, diz. Enquanto o juro não volta a cair, ele observa que é preciso ir construindo as próximas safras de investimento e a renda variável é importante porque há empresas excelentes que estão muito descontadas, e que estão fora do radar do mercado.
“Nós compramos na contramão do mercado há 22 anos e tendemos a ficar com o portfólio mais concentrado em poucos negócios”, explica. As três estratégias da casa são para os institucionais e estão 100% adequadas à regulação desses segmentos. O maior crescimento registrado nos últimos dois meses foi na estratégia de bolsa, aproveitando o momento de mercado mais estressado, mas há também investidores interessados em fazer private equity no futuro, com menor volatilidade e com descorrelação. “Isso é sempre importante para o institucional estrangeiro e para alguns nacionais, que já se movimentam para fazer isso”, afirma Escobar.

Curadoria em ETF - Com R$ 18,5 bilhões sob gestão, dos quais 40% são de RPPS – Regimes Próprios de Previdência Social, a Banrisul Corretora mantém uma agenda de expansão de sua presença fora dos limites geográficos do Rio Grande do Sul. “O objetivo é expandir a nossa atuação junto aos RPPS também fora do RS”, explica Marcus Staffen, diretor-presidente da instituição. “Temos cumprido diversas agendas de relacionamento com os RPPS do Paraná mas, como estamos em ano eleitoral, alguns deles poderão sofrer alterações em seus conselhos, o que torna ainda mais importante reforçar esse relacionamento”, afirma.
A corretora já conquistou RPPS também no estado de Santa Catarina. “Alguns deles estão entre os nossos maiores clientes”,diz Staffen. A maior parte da oferta de produtos de investimento está em fundos de renda fixa. “Estamos promovendo bastante também os fundos de índices, os ETFs, e divulgamos diariamente um report com informações sobre esse mercado para a nossa base, para fomentar esses fundos” , diz Staffen.
Sem ETFs próprios, a corretora trabalha com os produtos de outros gestores, de maneira customizada. “Fazemos quase uma curadoria de ETFs para 350 clientes, uma área que desenvolvemos desde 2019 e que tem demanda importante atualmente”, afirma. A curadoria, diz Staffen, se dá com os ETFs de renda variável, que por enquanto têm maior histórico e patrimônio.
Em 2025, a perspectiva é de outro ano forte para a renda fixa, com a Selic elevada. “Como 85% dos nossos fundos são de renda fixa, o juro mais alto é bom para nós, e temos interesse em colocar inclusive um produto de crédito específico para os RPPS, mas ainda não lançamos porque os prêmios estão muito comprimidos”, diz Staffen. Nas carteiras em que já tem ativos de crédito, a gestão tem sido cautelosa. “Com as NTN-Bs longas pagando acima de IPCA mais 6,5%, o que é raro, há uma boa oportunidade mas mantemos o risco fiscal no radar”, afirma.

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