Receita é deixar a emoção de lado
Melhor Gestor de Investimentos em EFPC • Felipe Cosi

Edição 369

A performance dos investimentos dos fundos de pensão este ano tende a seguir o caminho de 2023, quando os ativos de risco sofreram muito até que, nos dois últimos meses do ano, protagonizaram uma “virada” graças ao comunicado do Federal Reserve sinalizando uma provável redução das taxas de juros nos EUA. “Por conta disso, a performance das entidades fechadas de previdência complementar acabou sendo boa, e em 2024 parece que o caminho vai na mesma linha porque o corte do juro americano hoje é mais uma questão de “quando” e não de “se”, avalia Felipe Cosi, gerente de investimentos da fundação Real Grandeza.
“Para as entidades de previdência, que administram um negócio de ultra longo prazo e precisam pensar em pagar benefícios dentro de cinco, dez ou até cinquenta anos, a tarefa é construir portfólios equilibrados e diversificados para poder pagar benefícios com o menor risco possível no investimento”, diz.
O equilíbrio é a palavra-chave para gerir esses recursos previdenciários porque os mercados tendem a ser pró-cíclicos e seguir “ondas”. Mas é essencial também ter convicção da estratégia adotada para comunicar isso aos stakeholders da entidade – conselhos, diretoria e outros órgãos de governança, participantes e demais. “Mesmo as carteiras bem diversificadas têm seus períodos ruins é outro aspecto importante a ser lembrado”, observa Cosi.
Na fundação Real Grandeza, o tema da disciplina e da modernização da gestão basearam a elaboração de um estudo específico, feito no âmbito da diretoria de investimentos da entidade, que levou a uma mudança expressiva no modelo de gestão. “Foi com essa preocupação que construímos um modelo de ALM proprietário, baseado em estudo que avaliou os retornos obtidos pela fundação ao longo dos dez anos anteriores, que seguiram os ALMs feitos externamente”, detalha.
O estudo mostrou que, durante aqueles dez anos, qualquer uma das estratégias adotadas pela fundação, caso tivesse sido mantida, teria obtido melhor retorno do que o resultado trazido depois das frequentes mudanças indicadas pelos diversos ALMs. Foi só no final de 2023, a fundação conseguiu atingir uma carteira diversificada de investimentos baseada na nova ferramenta conta Cosi.

Ajuste nos multimercados – No novo modelo, a entidade olha para a alocação diversificada com foco no longo prazo, enquanto a gestão de curto prazo cabe aos gestores terceirizados. Uma discussão latente no momento, diz Cosi, está ligada ao desempenho dos fundos multimercados, por exemplo. A alocação nessa classe de fundos é recente na fundação, começou a ser feita em março de 2023 e tem R$ 560 milhões investidos por enquanto.
“Os multimercados têm vivido uma das piores janelas de sua história, com muitos resgates inclusive de institucionais. Temos questionado o sentido desse produto, mas eu não acredito que os seus gestores tenham perdido, de três ou quatro anos para cá, a capacidade de gerar alpha”, afirma.
Diante disso, a decisão foi por fazer ajustes qualitativos e quantitativos nos multimercados. “Uma vantagem em momentos como o atual é que fica mais fácil ter acesso aos bons gestores, então estamos adicionando três ou quatro novas casas à nossa estratégia, mas não fizemos resgates nos que já estavam conosco porque não acredito em fazer market timing de cotas de fundos”, diz.
Diplomado em engenharia, com mestrado em economia pela FGV-RJ, Felipe Cosi trabalhou na asset do banco Itaú, passou por uma gestora independente de São Paulo, sempre com atuação voltada à renda variável. Entre 2016 e 2020 ele assumiu a carteira de líquidos da Petros e a partir de 2020 foi para a Real Grandeza, onde ocupa o cargo de gerente de investimentos e coordena um time de nove pessoas que integra a diretoria de investimentos liderada por Patrícia Queiroz.