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Juros caem nos EUA em setembro
Melhor Economista de Gestora • Caio Megale

Edição 369

Megale,Caio(XP) 24ago 01Depois de uma “corcova†nos dados sobre a atividade econômica nos EUA, que deram um drible nos analistas, a economia americana parece entrar em desaceleração e as projeções naquele país deixaram claro que o Federal Reserve (Fed) deve começar a cortar juros em setembro. “O que há de evidência é um movimento ordenado de queda, que não será repentina nem nos juros, nem na inflação. A desaceleração será suave e o Fed deverá fazer cortes de 0,25% durante algum tempo, para eventualmente acelerar o ritmo mais adiante, o que é positivo para os países emergentesâ€, analisa Caio Megale, economista-chefe da XP.
Se esse movimento ocorresse de forma mais acelerada, poderia trazer maior aversão a risco nos mercados, mas isso é pouco provável. “Não acredito que haja uma queda abruptaâ€, diz Megale, que foi o mais votado para o Troféu Benchmark como o Melhor Economista.
No momento, ele vê a China em desaceleração também, mas sem que haja sinais de uma queda desordenada da economia, até porque o governo lá tem um controle firme da economia e do crédito. “As commodities mais ligadas ao mercado da China tendem a seguir na mesma linha de baixa moderada e os bancos centrais poderão reduzir um pouco os juros sem que haja uma sensação de catástrofeâ€, pondera.
No Brasil, ele acredita que isso pode ajudar o Banco Central a não ter que subir muito a Selic, ainda que possa haver alguma elevação. “Voltar a cortar a taxa de juro aqui ainda é uma probabilidade mais distante para o BC, seria mais provável que ela subisse um pouco. Por enquanto, a sensação é de que o BC está com o dedo no gatilho para elevar a Selic. O viés hoje é de alta e já está precificado na curva de jurosâ€, diz.
O câmbio, por sua vez, está em nível mais acomodado e com isso a inflação não subiria muito, o que dá uma possibilidade de não haver alta do juro local, até porque o ambiente internacional está melhor e o custos de produção ficam menos pressionados. Em meio às dúvidas sobre o movimento exato do juro, o que há de certo é a volatilidade nos mercados, o que é inexorável, segundo o economista.

Mercado sensível – “O mercado está muito sensível, até porque o câmbio foi uma gangorra, variou de R$ 4,80 para R$ 5,80. Também há as preocupações geopolíticas que ficam cada vez mais quentes no mundo, a eleição nos EUA e localmente, os ruídos do lado fiscal, que podem se desdobrar em mais inflação, e os de política econômica, entre eles.
Na bolsa brasileira, os múltiplos indicam preços baratos, diz Megale, mas o risco cresceu externamente e, apesar da projeção de queda nas taxas lá fora, a verdade é que o mundo vai conviver com juros mais altos. Do lado micro, o economista lembra que as empresas no Brasil estão com balanços saudáveis.
Com vigor surpreendente, a economia está crescendo pelo quinto ano consecutivo. “A projeção para este ano é de crescimento de 2,2% no PIB, com viés de alta porque os dados vieram mais fortes do que o esperado. A questão, porém, é a volatilidade porque o governo terá que aumentar sua arrecadação, com impacto no bottom line das empresasâ€, afirma. Nesse ambiente, a renda fixa segue como estrela, mas ele observa que há empresas e setores com grande atratividade para serem explorados na renda variável.
Há quatro anos na XP, Megale começou no mercado financeiro em 1997, tendo vivido episódios como a crise da Ãsia , o período de câmbio fixo, uma época em que o grande problema do Brasil era a sua balança comercial. “Hoje o maior risco está em moeda local e é fiscalâ€,compara. Ele passou pela asset do Lloyds Bank no Brasil, por gestoras como a Gávea e a Mauá, entrando depois para a equipe de Ilan Goldfajn no Itaú, em que traçava cenários para os clientes.
Em 2017 assumiu como secretário da Fazenda da Prefeitura de São Paulo por dois anos, no governo de João Dória, uma experiência na administração pública que foi o seu “doutoradoâ€, diz. O economista foi ainda secretário de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação, durante o ministério de Paulo Guedes, até que em 2020 veio o convite da XP.