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Vivest já começou seu ajuste de risco frente à maior incerteza

Jorge SiminoEm momentos de instabilidade aguda nos mercados, como ocorreu em decorrência do 7 de Setembro na semana passada, a Vivest manteve sua regra de ouro de não fazer grandes movimentos. “O impacto imediato do imbróglio político foi tal que, entre a quarta e a quinta-feira a bolsa primeiro caiu para 112 mil pontos e em seguida recuperou quatro mil pontos apenas em função da existência de uma missiva do presidente da República”, lembra o diretor de Investimentos da fundação, Jorge Simino. Como a chance de erro nessas circunstâncias fica mais alta, a estratégia foi fazer ajustes pontuais, usando estratégias bottom up (analisando principalmente os fundamentos da empresa) e não top down (que analisa principalmente as tendências macro).
Em seguida, a entidade avaliou a mudança de perspectivas no horizonte de 12 a 14 meses e colocou em curso um movimento para reduzir um pouco a exposição ao risco de bolsa e a fundos de investimentos imobiliários, que sofrem diretamente o impacto da pressão sobre os juros. Segundo Simino, paralelamente a Vivest traçou um plano para aumentar as posições no exterior, na medida do possível. “Mas não serão movimentos muito grandes”, afirma. Sem fazer reduções drásticas, a entidade começou a trazer sua exposição em bolsa de 25% dos ativos totais para 20% num primeiro momento.
“Agora, como todos os demais gestores de EFPC, estamos reavaliando o horizonte dos próximos 12 a 14 meses e aí é preciso fazer um exercício de imaginação sobre a mudança do valuation das empresas”, diz. Esse cálculo considera a taxa de desconto do fluxo de caixa a valor presente nesses 14 meses e uma sucessão de numeradores que serão menores do que eram 15 ou 30 dias atrás, levando em conta a inflação, a desaceleração de setores da economia, o juro muito pressionado e outras variáveis.
“Olhando a camada de fatores puramente econômicos, a situação já é bastante complicada. Para completar, o imbróglio político do país vai demandar taxa maior para descontar esse fluxo, foi essa consideração que nos fez começar o movimento de ajuste”, explica o diretor. É preciso lembrar também que as revisões a menor do crescimento doméstico vão impactar as empresas voltadas a esse mercado, que precisam ter sua magnitude revista e exigem uma análise caso a caso”, ressalta.
O objetivo da fundação é selecionar as companhias de acordo com a sua capacidade de adaptação ao ambiente de menor crescimento econômico. “É hora de identificar aquelas que conseguirão sobreviver com o vento batendo na proa e não mais na popa, usar a ótica bottom up para ver como a empresa consegue se defender em prateleira de produtos, custos, equilíbrio regional, etc ou seja, identificar os potenciais sobreviventes”.

Exterior - A estratégia da Vivest inclui uma parcela de 9% dos ativos investidos em fundos no exterior, perto do limite legal de 10% , mas a fundação recorreu à alocação em BDRs de ETFs para contornar esse teto e, ao todo, conseguiu chegar a um percentual de 12% investidos em ativos internacionais. “O BDR de ETF tem dupla personalidade, porque do ponto de vista regulatório é uma aplicação de renda variável local mas o risco do seu lastro é todo de exterior”, explica. A intenção é analisar um aumento de pequena magnitude também nessa carteira.
Simino sublinha que o mercado passou a projetar Selic de 8,5% a 9% este ano, contra a projeção anterior de 6,5% a 7%, o que complica o cenário. “Esses dois pontos fazem muita diferença para renda variável e ativos imobiliários, independente de qualquer outra consideração”, destaca. O anúncio do IPCA de 9,68% acumulado em 12 meses e as projeções de INPC acima de 11,40% ajudam a jogar por terra as projeções otimistas do mercado sobre a situação fiscal.
“Havia uma ilusão do mercado de que o teto de gastos seria corrigido por IPCA de 8,3% enquanto as despesas do governo seriam corrigidas por um INPC de 4% a 5%, abrindo espaço para gastos adicionais. Esse suposto espaço já deixou de existir faz tempo”, pondera. E ao contrário do que diz a canção de Gil, nesse caso não adianta “ir com fé que a fé não costuma falhar”, porque ela já falhou, avisa.
O cenário da economia, que já era difícil para os gestores, piorou porque se cria uma rota e ninguém sabe se ela vai sumir, se a nova rota é definitiva ou apenas um desvio. “Nos últimos dias, ficou claro que para voltar à rota anterior será preciso quase um milagre porque perdeu-se parâmetros de inflação e o BC está correndo atrás dos juros, aponta Simino.

Precatório - Na mesa estão ainda os precatórios, que o governo tenta deixar fora do teto. Seria uma solução no mínimo “pouco elegante” e portanto não funcionaria, diz Simino. “O cenário até 30 dias atrás ainda era permeado pelo passado, com alguma elegância. A partir de agora é deselegância na veia, chute na canela e dedo no olho, não há espaço técnico para novo bolsa família nem coronavoucher, só para o mote do “votem em mim”, reflete. Ele lembra que os agentes do mercado têm diversos perfis de risco mas para os AETQs de fundos de pensão, que precisam pagar aposentadorias hoje e a longo prazo, esse grau de incerteza assume proporções particularmente complexas.
Na Vivest, o volume de aposentadorias a pagar é de R$ 3,5 bilhões, o que exige estratégias cuidadosas de risco. Este ano, a rentabilidade acumulada ficou em 10% até julho e no acumulado até agosto a estimativa preliminar é de 8,5%, informa o diretor. “Acreditamos que a rentabilidade acumulada nominal termine o ano positiva mas isso é mais um desejo do que um prognóstico porque é difícil saber o que acontecerá até dezembro”. Bater a meta atuarial, referenciada no IGPl, será novamente inviável. “Já comunicamos aos órgãos de governança que ficaremos abaixo da meta, que por conta da alta do IGP deverá chegar a 22% ou 23% este ano”.
Os próximos 12 meses levam a análise das variáveis até as vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais de 2022. Havia uma perspectiva de que até março e abril do próximo ano as variáveis seriam afetadas apenas por motivos técnicos, até porque abril é a data limite para a vinculação dos candidatos a partidos. “Mas esse cenário eleitoral foi antecipado. Para quem opera volatilidade é uma festa mas não é o nosso caso e temos que nos adaptar”, conclui Simino.