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Especialização é canal de acesso a crédito privado, diz Bianconi

Keite BianconiMetrusCom a alta dos juros, crise de credibilidade pós caso Americanas e o aumento da inadimplência no país, o acesso das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs) ao complexo mercado de crédito privado pode se dar via fundos exclusivos, avalia Keite Bianconi, diretora de investimentos da Metrus, fundação dos funcionários do metrô de São Paulo. Palestrando no painel “Riscos e Oportunidades para investimentos em crédito privado”, em evento realizado pela revista Investidor Institucional na última quinta-feira (27/4), Bianconi disse que os fundos exclusivos são “uma boa alternativa” de participação das EFPCs.
“Nem todo mundo tem uma equipe especializada para entender uma carteira tão pulverizada, pois isso envolve custos para as fundações. Mas o gestor exclusivo tem essa especialização”, diz. Os fundos de pensão também perdem boas oportunidades por não terem agilidade, devido aos ritos de governança existentes nas entidades. “Mas os fundos exclusivos conseguem operar com a agilidade necessária”, diz. Ela cita os dados atuais de investimentos médios das carteiras das fundações no setor, que representam por volta de 1% dos ativos totais, excluindo os aportes em fundos especializados.

Abrangência - O mercado de crédito privado evoluiu no país durante os últimos anos, na avaliação do CEO da Ouro Preto Investimentos, João Peixoto. “O crédito deixou de ser exclusivamente bancário e entrou também no mercado de capitais. Temos FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios), Fiagros (Fundos de investimento em cadeias agropecuárias), CRIs e CRAS, Letras Financeiras”, diz.
joão PeixotoOuroPretoInvestPeixoto avalia que o mercado de crédito cresceu muito e deve continuar sua trajetória de crescimento, especialmente os FICDs, que têm a capacidade de abraçar “qualquer operação de crédito”. Ele cita como exemplo estruturações de crédito para financiamento de automóveis, crédito para mercado imobiliário, entre outras modalidades específicas para determinados setores.
Apesar do crescimento do mercado de crédito no Brasil, as entidades fechadas de previdência complementar locais demonstram no momento pouco apetite para essa classe de ativos. Enquanto nos Estados Unidos os fundos de pensão alocam cerca de 50% dos seus recursos em renda variável e 17% em crédito privado, no Brasil a alocação em títulos públicos alcança quase 90%, restanto pouco mais de 10% para as outras classes. "É uma distorção muito grande", diz Peixoto.
O CEO da Ouro Preto Investimentos avalia que, com o início da queda da Selic, projetado pelo mercado para o final deste ano mas sob pressão de setores do governo para que comece o mais cedo possível, essa concentração das alocações das EFPCs em títulos públicos deve diminuir. Entre as classes que devem ter maior demanda a partir da queda da Selic deve estar o crédito privado, projeta Peixoto. “Com a queda da taxa de juros veremos aumentos de spreads e mais oportunidades no crédito privado”, diz Peixoto. "Os institucionais vão precisar ter mais crédito privado em suas carteiras para cumprir suas metas atuariais".
Em relação à possibilidade de inadimplência a que essa classe de ativo está sujeita, ressaltada nos últimos meses por inadimplências como a da Americanas e da Light, o CEO da Ouro Preto afirma que boas estruturas de crédito conseguem minimizar isso através da pulverização dos empréstimos. Porém, evitar totalmente a inadimplência é impossível, uma vez que esses episódios são parte iseparável da concessão de crédito. Segundo ele, as estruturas de crédito têm de ser pulverizadas e lucrativas, justamente para suportar eventuais inadimplências. “A inadimplência faz parte do negócio, que tem que ser suficientemente lucrativo, com spreads atrativos, para suportá-la”, diz.