Mainnav

Hora de diversificar
Enquanto a maioria dos institutos aposta em NTN-Bs marcadas na curva, alguns regimes próprios já começaram a diversificar as carteiras

Edição 375

Menegatti,Marcelo(IPRESV) 25abr 05A maioria dos regimes próprios (RPPS) tem seguido uma fórmula clássica, consagrada em tempos de alta dos juros, de concentrar os investimentos em títulos públicos, especialmente em NTN-Bs marcadas na curva. A maior parte do patrimônio fica concentrada em renda fixa, com ampla preferência pelos títulos públicos, seguido por fundos DI, caracterizando uma postura amplamente conservadora.
No polo oposto estão aqueles que já mantêm uma boa diversificação da carteira, e entre esses alguns já estão se preparando para o próximo ciclo de corte dos juros com alocação em diferentes classes de ativos. É o caso do Instituto de Previdência Municipal de São Vicente, que acumula patrimônio de R$ 393,5 milhões, segundo dados de fevereiro de 2025. “Nossa carteira hoje possui todos os tipos de ativos permitidos pela regulação vigente, menos o empréstimo consignado. Acreditamos que é importante manter uma boa dose de diversificação para estarmos preparados para uma eventual mudança de cenário”, diz Marcelo Menegatti, superintendente do RPPS do município localizado no litoral do estado de São Paulo.
Da carteira de investimentos do Instituto de São Vicente, 78% estão alocados em renda fixa, mas já possui 10% em multimercados, 6% em ações, 5% no exterior, 0,30% em FIPs (fundos de investimentos em participações) e 0,10% em FII (fundo de investimento imobiliário).
É certo que a concentração em NTN-B marcadas na curva tem se definido como a estratégia principal desde 2023. Com os prêmios recentes acima de 7%, era difícil encontrar outro ativo mais atraente, comenta Menegatti. Contudo, o RPPS não deixou de selecionar e investir em FIPs no ano passado. Foram escolhidos três novos fundos do gênero das seguintes gestoras: Kinea, Vinci Compass e XP Investimentos. O nível de alocação atual nessa classe é mínimo porque ainda ocorreram poucas chamadas de capital. O total comprometido com essa classe de ativos até o momento é de 1%.
Na política de investimentos, o RPPS deixou um limite de até 2% para FIPs em 2025. “A regulação permite a aplicação de até 5% das reservas em FIPs. Ainda estamos no início desta jornada e ainda temos de passar por uma curva de aprendizado”, destaca Paolo Brígido, coordenador de investimentos do RPPS de São Vicente.
O instituto de São Vicente também colocou os fundos imobiliários no radar. No final do ano passado selecionou um FII da SPX para receber o primeiro aporte, equivalente a 1% do seu patrimônio. “Selecionamos um fundo de galpão logístico, que tem excelente potencial de valorização. Agora estamos estudando outros FIIs”, comenta Paolo Brígido.
O instituto de São Vicente aposta na valorização dos FIPs e FIIs, que têm prazo de 5 a 7 anos. “Neste prazo, a economia brasileira estará melhor que hoje. Por isso, estamos apostando em ativos da economia real. Não vamos continuar aumentando as NTN-Bs”, diz Menegatti.
Ele revela ainda que a Bolsa, apesar do fraco desempenho do ano passado, pode voltar a ser uma opção importante. “Demos uma enxugada na Bolsa no final do ano passado. Mas não deixamos de olhar as oportunidades”, comenta o superintendente. A política de investimentos para 2025 permite chegar a até 10% do patrimônio.

Diversificação - Uma das novidades da estratégia de alocação de São Vicente é a previsão de abertura de uma nova carteira de NTN-Bs marcadas a mercado. A iniciativa faz parte da estratégia de diversificação com o olhar colocado na mudança de cenário futuro de corte dos juros. A ideia é alocar entre 5% e 10% da carteira total de NTN-Bs nestes ativos, porém, com a marcação a mercado - podendo chegar a cerca de R$ 6 milhões. “Se a inflação convergir para o centro da meta e vier um novo ciclo de queda dos juros, precisamos estar posicionados para este novo momento”, diz Menegatti, que destaca que a nova carteira servirá para fortalecer a gestão ativa na renda fixa.
O único ativo que o RPPS de São Vicente não possui ainda, e nem tem planos para isso, é o empréstimo consignado.
Atualmente, o RPPS de São Vicente possui o nível III do Pró-Gestão que foi conquistado em 2024. Tem 620 participantes ativos e nenhum assistido. Está recebendo uma dívida de R$ 125 milhões do ente público e apresenta superávit atuarial de R$ 500 milhões.

Marcação a mercado - O Instituto de Previdência dos Servidores de Cajamar, município localizado na região da Grande São Paulo, é outro que está apostando nas NTN-Bs marcadas a mercado. É verdade que a maior parte do patrimônio, que alcança um total de R$ 645 milhões, está alocado em NTN-Bs marcadas na curva - que representam R$ 267 milhões. Contudo, o instituto está investindo entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões em NTN-Bs marcadas a mercado.
“Pretendemos manter cerca de 20% do total da carteira de NTN-Bs com marcação a mercado. O restante deve continuar marcado a vencimento”, diz Luiz Henrique Teixeira, diretor executivo do Instituto de Cajamar. A justificativa para manter a marcação a mercado é aproveitar o possível fechamento das taxas de juros.
O regime próprio não conseguiu bater a meta no ano passado. Ficou em 80% da meta em 2024. Neste ano, ainda não aconteceu a recuperação, pelo menos nos dois primeiros meses do ano. O instituto está batendo apenas 70% da meta de janeiro e fevereiro.
Outras formas de diversificação, ainda em análise, são os fundos de ações, imobiliários e BDRs. “Estamos olhando mais para a renda variável. Ainda não é o timing para entrar, mas acreditamos que temos de debater e avançar na seleção de gestores e fundos”, aponta Luiz Henrique.