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BNP enxerga volatilidade no Brasil e risco inflacionário global

Gustavo Arruda BNPMenos espaço para aprovar reformas e maior volatilidade no mercado é o que se pode esperar para 2022 em decorrência dos ruídos políticos em ano eleitoral no Brasil e ao ambiente de incertezas em diversas variáveis dos cenários doméstico e global. A projeção é do economista Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do BNP Paribas, que estima alta volatilidade em particular no câmbio. Apesar disso, a projeção do banco é de que o dólar encerre 2021 cotado a R$ 4,75, recue até R$ 4,50 no final do primeiro trimestre de 2022 e volte a subir para fechar o ano cotado a R$ 4,60. “Esse caminho não será linear mas, à medida que a política monetária voltar a se ajustar, conseguir um pouco mais de equilíbrio, vejo espaço para valorização do câmbio”.
O banco projeta crescimento de 5,5% para o PIB brasileiro este ano, em grande parte graças à alta dos preços das commodities, puxada pelo crescimento da economia global, e de 3% em 2022. “ A política monetária, na margem, ainda ajudará o crescimento este ano”, diz.
A estimativa é de Selic a 7,5% já no início de 2022, enquanto a inflação ficaria em 6,5% este ano para desacelerar a 4,5% no acumulado de 2022. Mas isso vai depender de para onde vai o câmbio e a bandeira tarifária, entre outros fatores.

Fiscal - No lado fiscal o economista vê risco menor este ano, uma vez que a alta da inflação aumentará o PIB nominal. Ele avalia que o mercado não está simplesmente ignorando o risco de um desequilíbrio no Brasil na hora de fazer suas projeções mas diz que a incerteza dificulta analisar melhor a perspectiva fiscal enquanto não vierem informações adicionais. “Sabemos porém que o teto de gastos virou uma meta de gastos, então dificilmente haverá menos gastos daqui para a frente e tudo o que puder será usado no espaço fiscal. Até onde temos visto recentemente, há risco ao próprio teto, mas uma análise de sustentabilidade mostra que ele se sustenta ainda durante algum tempo, até 2023 a 2024”, afirma.
Em relação à proposta de reforma tributária apresentada recentemente pelo governo, Arruda diz que as mudanças na tributação sobre ganho de capital de imóveis, impostos sobre fundos exclusivos e outros geram impacto positivo no primeiro ano, mas depois esse efeito se estabiliza. “Ainda tenho dificuldade de enxergar como esse pacote conseguirá ganhar terreno no congresso daqui até dezembro. É muito complexo e poderemos ter um número menor de medidas aprovadas. Sou reticente quanto à aprovação de tudo, até porque em agosto começará a discussão sobre o orçamento do próximo ano”, lembra o economista.

Cenário global - No ambiente internacional, o BNP revisou a projeção de expansão do PIB global de 6,1% para 6,4% este ano e manteve em 6,9% a estimativa para o avanço do PIB dos Estados Unidos, mas reduziu de 9,2% para 8,7% a expectativa de crescimento do PIB da China. A China faz esforços para conter a inflação e o tamanho dessa acomodação será fundamental para o Brasil, cujo crescimento depende dos preços das commodities. “Eles têm tentado estabilizar preços de minério de ferro mas não têm conseguido porque seu consumo é muito forte”. Se a China estabilizar o crescimento, os preços de commodities cairão, o que será um risco para o Brasil não agora ou em 2022 porém mais adiante.
Ainda que leve em conta o risco associado às novas variantes do vírus da Covid-19, esse não é o cenário base do banco, que exclui a possibilidade de uma nova rodada de lockdowns na economia global. A principal preocupação, diz Arruda, está associada a novos choques de ofertas que venham a pressionar ainda mais a inflação em diversos países. Ele lembra que a “surpresa inflacionária”, que tem elevado os índices no mundo todo, é o grande fator de risco.
Os bancos centrais dos países desenvolvidos estão sendo mais tolerantes em relação à inflação, diz o economista, e sua intenção é tomar apenas medidas assimétricas para desacelerar a atividade. Se a inflação acelerar, estão mais dispostos a correr esse risco do que a conter o crescimento. “Japão e Europa mostram que sua maior dificuldade está em fazer a inflação subir e não em faze-la baixar". A tendência é de que os bancos centrais fiquem atrás da curva em suas políticas monetárias em vez de antecipar movimentos.
O Banco Central Europeu é mais leniente institucionalmente com a inflação, ao contrário do que fez em crises anteriores, e nos EUA uma alta do juro só deverá ocorrer em 2023. Mas, na permanência de inflação alta por mais tempo e na perspectiva de novos choques de ofertas com falta de insumos, isso pode mudar, reconhece o economista. “As expectativas inflacionárias já começam a desancorar em alguns países e se a inflação chegar perto de 4%, o Fed e outros poderão elevar juros antes do esperado”.