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Binelli explica resiliência dos FIDCs na pandemia e projeta alta

Ricardo Binelli SolisCom R$ 4,2 bilhões em patrimônio sob gestão, a Solis Investimentos, gestora especializada em Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios – FIDCs -, avalia que houve boa resiliência do segmento durante a crise do ano passado e aposta no seu crescimento em 2021. A maior diversidade de empresas emissoras e a facilidade trazida pelo Banco Central para a criação de empresas que podem ofertar crédito em modelos como o das Fintechs, tendem a incentivar o uso de FIDCs por parte dos investidores. “O veículo é ferramenta de captação compatível com um ambiente de crédito pulverizado”, acredita o diretor de gestão de recursos da Solis, Ricardo Binelli.
Além de contar com um cardápio de fundos abertos, a casa já contabiliza três mandatos exclusivos para fundos de pensão e alguns para family offices, além de outros sete que estão em negociação, diz Binelli. Segundo ele, no ano passado a gestora decidiu provocar os principais distribuidores e conseguiu um pipeline com essas novas operações entre os meses de outubro e dezembro.
De acordo com o executivo, os sinais são de expansão da oferta de FIDCs. A Solis conta atingir um crescimento relevante de 35% a 40% este ano e desenvolveu ferramenta própria de monitoramento. “A idéia é usá-la para olhar o recebível em si e mitigar o risco de fraudes e acompanhar a performance de crédito. Além disso, a nossa equipe de crédito deverá crescer ao longo do ano”. Do total de ativos sob gestão, metade está em FIDCs e a outra metade em fundos que compram cotas de FIDC mas que têm o formato de FIC FIM para poderem ser acessados por investidores qualificados.
“Vejo um movimento importante para acontecer este ano, tanto por parte dos fundos multicedentes/multissacados como na modalidade de crédito consignado privado, até porque todos começaram 2020 com suas estruturas de funding desbalanceadas e precisarão captar”, diz o gestor.

Balanço - Uma análise dos 40 FIDCs presentes na carteira do fundo Solis Capital Antares FIC FIM, feita em 2020 para avaliar a média mensal dos indicadores que melhor retratam a performance de crédito, mostrou que a inadimplência cresceu muito no momento mais ácido da crise, quando as restrições aos deslocamentos de pessoas foram mais fortes. “Sem poder vender, o comércio passou a atrasar os pagamentos e isso gerou todo um efeito dominó nas várias etapas da cadeia produtiva. Em abril, o indicador dos créditos vencidos bateu 10,99%”, detalha Binelli.
Ele explica que, com a redução da receita dos FIDCs, dado que os créditos e os juros associados às operações deixaram de ser recebidos por conta do crescimento da inadimplência, o retorno das cotas subordinadas caiu, atingindo o seu patamar mínimo em abril: 70,99% do CDI.
Mas, por serem recebíveis de prazo curto, os FIDCs conseguiram ajustar rapidamente suas carteiras e passaram a direcionar as operações para setores mais protegidos. Isso favoreceu a retomada das receitas, beneficiadas ainda pelo aumento das taxas praticadas naquele momento.
“A evolução mais importante, entretanto, se verificou entre os meses de agosto a outubro, quando aqueles créditos inadimplentes, que na verdade foram prorrogados, começaram a ser pagos em decorrência da reabertura das atividades”, demonstra o estudo. A expressiva evolução do retorno das cotas subordinadas nesse período, segundo Ricardo, corrobora a percepção de aumento no pagamento dos vencidos, que se verifica também no gráfico dos vencidos, que passou a declinar de forma mais intensiva.

Provisão - Ele ressalta a observação da provisão para devedores duvidosos (PDD) como parâmetro relevante de compreensão do movimento desse mercado. Segundo a metodologia de cada administrador, a partir de um determinado número de dias de vencido no valor daquele crédito não pago vai sendo, gradativamente, contabilizado com PDD e passa a consumir a subordinação. “Durante a pandemia, os administradores ampliaram o prazo para iniciar o provisionamento, em linha com o que fez o Banco Central com o provisionamento nos bancos”, diz.
Apesar da inadimplência ter crescido, a avaliação aponta que os FIDCs conseguiram cobrar e receber os títulos prorrogados antes que o período de provisionamento se iniciasse. Ou seja, embora o gráfico dos vencidos tenha crescido em março e abril, o gráfico de PDD manteve-se praticamente estável durante todo o ano, terminando, inclusive, abaixo do que se iniciou.
Binelli considera a dinâmica do excesso de subordinação, que é a diferença entre a subordinação de fato existente no FIDC e a subordinação prevista no seu regulamento, como uma prova cabal da boa performance desses veículos na pandemia. Segundo ele, se os FIDCs tivessem passado por problemas essa diferença teria diminuído. Mas, na prática, não foi o que aconteceu.
“Investimos em 52 FIDCs diferentes e nenhum deles precisou complementar a subordinação”, conta o gestor. Ele lembra que o excesso de subordinação cresceu durante o ano, em parte devido ao fato de que os fundos amortizaram cotas seniores, o que faz com que a proporção de subordinadas aumente, mas em parte também porque os FIDCs conseguiram lidar muito bem com as inadimplências”, conclui Binelli.