A Schroders está apostando no crescimento da área de crédito privado, que começou o ano representando apenas R$ 200 milhões no asset under management (AUM) da gestora e chegou a R$ 2,1 bilhões em novembro. “A diversidade de produtos e o expertise das equipes de gestão e análise têm sido fundamentais para esse crescimento”, afirma Daniel Celano, CFA e diretor-presidente da casa no Brasil.
Os planos são de continuar a crescer, com base na integração entre a equipe de gestão no Brasil e a equipe de mercados emergentes, que administra US$ 5 bilhões em crédito e faz uma cobertura robusta do mercado de dívida na América Latina, lembra Celano. Há analistas sediados no Chile, Argentina, México e Nova York e são quase US$ 3 bilhões em bonds da região sob gestão da casa.
Lançamento - A gestora espera lançar, dentro de duas semanas, um novo fundo de crédito privado, desta vez apostando no diferencial de maior diversificação e descorrelação. O portfólio do Schroder Latam Bonds será dividido entre 60% de ativos do mercado local e uma parcela de 40% em títulos de dívida de países da América Latina (Latam), incluindo o Brasil.
A combinação deve permitir que o fundo rode em busca de retorno de CDI mais 3% sem ser obrigado a elevar a parcela de risco high yeld no mercado local, o que concentraria muito a carteira. O objetivo é diversificar na região e assim conseguir mais liberdade para navegar e fazer arbitragem nesse mercado em meio a um novo ano de muita turbulência.
O novo fundo será enquadrado à Resolução CMN 4.661 para atender também aos fundos de pensão já que a parcela de 40% em ativos no exterior atende à legislação. Além disso, a rentabilidade buscada é compatível com a demanda por diversificação das EFPC, acredita Celano, há que o CDI deverá subir acima do que se esperava e esse retorno de 3% adicionais é atrativo para as fundações.
"Estimamos abrir o fundo com R$ 30 milhões e passar os seis primeiros meses construindo o track record para depois, num prazo de 12 meses, chegar a patrimônio de R$ 250 milhões a R$ 500 milhões”, diz Celano.
Para assegurar a descorrelação e minimizar os riscos locais, o fundo comprará crédito estruturado e trará um número maior de empresas, às quais as fundações brasileiras não teriam acesso de outro modo. A estratégia, explica Daniel Palaia, usará um mix de ativos high grade e high yeld, com predominância do high grade, e vai se apoiar nas diferenças entre os spreads pagos pelos emissores no mercado local e no off shore, além de explorar a reserva de liquidez que a parcela de 40% assegura.
“Operar com as assimetrias entre os spreads pagos pelo mesmo emissor aqui e lá fora oferece maior oportunidade de geração de alfa, inclusive quando há uma eventual abertura de spreads de grandes emissores brasileiros no exterior, como ocorreu por exemplo durante a crise da pandemia", afirma Palaia. Ele lembra que na parcela Latam há também mais liquidez para se desfazer do investimento, além do hedge cambial natural contra as turbulências domésticas em 2022. A intenção é fazer com que esse fundo seja complementar à grade de produtos de crédito estritamente locais.
Cenários – Para Daniel Palaia, head de crédito privado da Schroders no Brasil, o cenário de maior volatilidade na economia brasileira assim como a renovada inquietação sobre a pandemia no ambiente global em 2022 sinalizam um novo ano de turbulência. No caso doméstico, essas incertezas tendem a ser agravadas pelas características do ano eleitoral, com preocupações fiscais somadas às sanitárias. "Nessa conjuntura, a projeção é de Selic a 11% no próximo ano e isso deve impactar os resultados das empresas emissoras de títulos de dívida, com efeitos desiguais entre os diferentes emissores, seja aqueles com risco high yeld ou high grade", estima Daniel
“Estamos trabalhando com a perspectiva de Selic a 11%, o que significará um aumento considerável no custo da dívida para as empresas se lembrarmos que a Selic média este ano ficou em 4%”, diz Palaia.
Ao olhar para as emissoras classificadas como high grade, cuja saúde financeira é boa, Palaia não vê risco de aumento expressivo da inadimplência embora essas empresas paguem prêmios de 1,5% a 2% sobre a Selic, o que elevará para 13% suas despesas financeiras. “Esse impacto reduzirá sua geração de caixa operacional e portanto diminuirá o seu nível de investimentos, com uma menor demanda por crédito, até porque muitas empresas já estão tomando tudo o que podem este ano para não serem obrigadas a fazer dívida em ano eleitoral. Não vemos risco significativo de aumento de sua inadimplência”, pondera.
A maior preocupação é com a situação dos emissores high yeld porque aí o custo da dívida poderá chegar a 20% “e não há empresa que consiga sobreviver nesse nível, o que levaria ao aumento da inadimplência”, avalia Palaia.