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Gestores alertam para risco de baixar a régua na área de crédito

Ana Luisa RodelaBramCom o mercado de crédito fortemente comprador e maior avidez por ativos para compor essas carteiras, há menor atenção à qualidade das operações estruturadas, que têm ficado mais frágeis e mais difíceis de analisar, avalia Ana Luisa Rodela, head de gestão de crédito na Bradesco Asset Management.
Ao falar durante painel sobre crédito em evento da TAG, ela ressaltou a importância que deve ser dada à qualidade das estruturações, que exigem maior complexidade de análise. “Temos visto nos últimos meses que os produtos estruturados estão mais fragilizados. Como não se cria especialização em crédito do dia para a noite, há muitas pessoas com menor experiência nesse mercado e, portanto, há quem aceite operações que foram mal montadas”, diz.
Para a analista, hoje a pergunta é qual o limite de produtos estruturados ruins que o mercado está disposto a aceitar.
De acordo com Pierre Jadoul, responsável pela gestão das estratégias de crédito privado da Arx Investimentos, é fundamental que o gestor tenha disciplina na hora de montar as carteiras. ”Em momentos de mercado muito comprador, há gestores que vão baixando a régua sem que seus passivos estejam prontos para enfrentar eventuais perdas lá na frente. Manter a disciplina é essencial para quando esse mercado virar. Também procuramos ser muito ativos no acompanhamento do management das companhias”, afirma.
A preocupação diz respeito ao que poderá acontecer num cenário futuro de redução de juros, potencial saída de recursos desse mercado e abertura dos spreads de crédito. Outro ponto de atenção é a capacidade pagadora das empresas diante do impacto do custo financeiro sobre seus balanços.
Os spreads de crédito hoje estão em patamar justo, equilibrado, mas quando o juro cair, voltará a haver maior apetite do investidor por ativos de risco e consequente saída de recursos do crédito, afirma Jadoul. “É essencial neste momento que o gestor não baixe a régua e seja muito diligente na precificação para evitar repetir o que houve em 2019 e para que a virada do mercado não estoure na nossa cara em 2023”, avisa.
“As empresas têm lidado bem com as questões de demanda e com a alta de seus custos”, diz Ana Luisa Rodela. Mas há dois aspectos que preocupam: o aumento de despesas financeiras nos balanços das companhias e também a alocação de capital que elas fizeram quando os juros estavam baixos e cujo retorno não será tão bom em comparação com os patamares atuais de taxas. “Na nossa carteira, temos ficado atentos a essas duas questões”, afirma.
Ela lembra ainda que o mercado secundário de crédito privado no Brasil evoluiu e já permite fazer gestão ativa. “Este ano, no momento em que o mercado primário estava muito amassado, fomos para o secundário e encontramos operações com duration mais adequada do que não havia no primário; hoje é possível girar de fato as carteiras no secundário, é uma situação mais satisfatória para o gestor”.