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Medidas são boas mas a sinalização ao mercado é fraca, diz Dupita

Adriana DupitaBloombergEconomicsO pacote de propostas de cortes de gastos e mudanças tributárias anunciado pelo governo federal na quarta-feira (27/11) e detalhado nesta quinta-feira (28/11) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, “trouxe medidas boas mas também emitiu um sinal tímido para o mercado financeiro em relação ao empenho do governo federal em fazer um ajuste efetivo”, analisa Adriana Dupita, deputy chief economist da Bloomberg Economics para mercados emergentes.
“A isenção de IR para rendimentos até R$ 5 mil é uma boa medida e estava mais do que na hora de fazer isso, até porque o peso do ajuste não pode recair apenas sobre os que ganham menos, mas o timing do anúncio foi ruim. Acredito que tenha havido um problema de comunicação, um vazamento”, observa.
O segundo motivo para a reação negativa dos mercados, que levou à disparada do dólar contra o real, foi a percepção de que os próprios sinais de cortes de gastos são fracos. Para a economista, “não se pode colocar toda essa reação na conta da má vontade do mercado com o governo, embora ela exista”, explica.
“Fiquei decepcionada com o anúncio dos cortes. Hoje há uma incompatibilidade entre o crescimento das despesas e o próprio arcabouço fiscal elaborado pelo governo e, frente a isso, as medidas foram consideradas tímidas”, acredita.
A mais importante delas, o limite para o crescimento real do salário mínimo, deixa margem a dúvidas. “É uma boa medida, mas fico em dúvida sobre o percentual de 2,5% de limite diante das projeções de crescimento do PIB. Há o risco de ser uma restrição que não restringe nada e dá a impressão de que há um certo exagero na leitura do governo sobre o impacto fiscal dessa restrição”, diz.
Um dos pontos que poderia ter sido abordado e ficou faltando é o que diz respeito ao seguro-desemprego, afirma. “O seguro continua crescendo em termos reais, enquanto a taxa de desemprego cai, então tem alguma coisa errada que precisa ser ajustada e poderia ter sido proposta”, avalia.
“Por tudo isso, o sinal percebido pelo mercado é de que o governo não está tão comprado assim no ajuste. Mas as propostas em si são boas e a isenção do IR está recebendo críticas injustas”, afirma Dupita.
Apesar da necessidade de sinais mais fortes de uma melhora gradual no arcabouço fiscal, ela lembra que a dívida pública brasileira hoje é majoritariamente denominada em reais, o que traz a grande vantagem de não termos dívida indexada ao câmbio. Outro ponto positivo é a gestão do Tesouro. “A gestão tem sido muito boa, com uma grande parcela de títulos prefixados e indexados à inflação. O prazo médio da dívida é de quatro anos, então não há uma necessidade enorme de rolagem”, diz.
“O problema é que à medida que o tempo passa e o governo não encara os demônios fiscais, corre-se o risco de ter uma profecia autorrealizável. Nesse caso, poderemos ver o encurtamento de prazos da dívida e as emissões podem ficar mais desafiadoras”, aponta a economista.