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Investidores de redes sociais buscam influenciar preço de IRB

investidor internet1A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) alertou o mercado, na última sexta-feira, que a atuação com o objetivo deliberado de influir no regular funcionamento do mercado pode caracterizar ilícitos administrativos e penais. Foi um recado direto aos milhares de investidores pessoas físicas que passaram a se organizar em grupos do Facebook e Instagram, usando nomes como “IRBR3 Forum Investing” (mais de 8 mil membros) e "Short squeeze IRB" (mais de 20 mil membros) respectivamente, com a intenção elevar os preços da ação do IRB e causar problemas a gestores que atuam na parte vendida desse papel.
Na prática, eles estão tentando reproduzindo aqui um movimento que começou há duas semanas nos Estados Unidos, onde investidores do varejo, usando derivativos e coordenando ordens de compra via fóruns de mídia social (principalmente o Reddit), geraram valorizações inesperadas nas ações de uma empresa de jogos eletrônicos chamada Game Stop, que há tempos vinha sendo alvo de ordens de vendas a descoberto por parte de gestoras. Com a alta do papel, cotado a US$ 347,51 na quarta-feira (27/1), alta de mais de 1.800% desde 10 de janeiro, gestoras que operavam com ação vendidas a descoberto da empresa, apostando na sua baixa, amargaram prejuízos imensos. A Melvin Capital, uma delas, teve prejuízo de quase US$ 3 bilhões e foi obrigada a fechar sua posição de Game Stop.
No Brasil, os participantes dos grupos “IRBR3 Forum Investing” e "Short squeeze IRB” também parecem querer levar gestores à corner. Até a sexta-feira a ação da resseguradora já tinha subido mais de 20%, em comparação com uma queda de mais de 70% em 2020. É ainda uma alta modesta, mas os objetivos são maiores. Uma das gestoras que poderia estar na mira desses grupos de investidores que atuam via redes sociais é a Squadra, que no ano passado descobriu e denunciou irregularidades contábeis no IRB, que forçaram a companhia a realizar mudanças no seu quadro de comando e derrubaram os seus preços na bolsa.

Críticas - Aparentemente, os investidores que atuam via redes sociais não operam com objetivos meramente financeiros, mas deixam transparecer nas mensagens pelas redes sociais severas críticas às posições especulativas dos gestores que atuam com esses instrumentos de compras e vendas a descoberto do mercado financeiro. “Unindo esforços poderemos acabar com a manipulação desse papel”, dizia uma mensagem do Instagram, referindo-se ao papel do IRB. Além disso, a mensagem dizia que “as orientações que vierem nunca (devem ser) de ‘compra ou venda’, mas de estratégias de investimento”.
A orientação é uma mostra que eles estão atentos aos movimentos da CVM, que em comunicado emitido na sexta-feira afirmava que “tem monitorado os movimentos no mercado e as comunicações nas redes sociais, sendo que, na presença de indícios e conforme exige a lei, cuidará da instauração do competente processo administrativo sancionador para a apuração das responsabilidades”.
Ainda segundo a autarquia, “o chamado squeeze, que pode se configurar em situações nas quais um ou mais investidores provocam artificialmente a alta do preço de valores mobiliários, de maneira a causar prejuízos a terceiros ou auferir benefícios indevidos para si ou outros participantes do mercado, é uma das modalidades de manipulação. No Brasil, a depender das características do caso, tais estratégias podem ser tipificadas, em sede administrativa, como “manipulação de preços” (inciso II, alínea “c” da Instrução CVM 8), definição que abarca a utilização de qualquer processo ou artifício destinado, direta ou indiretamente, a elevar, manter ou baixar a cotação de um valor mobiliário, induzindo, terceiros à sua compra e venda, havendo outros tipos na regulamentação que também se destinam a reprimir práticas que atentem contra a regularidade do mercado”.