Mainnav

Juros altos e indefinições no setor de infraestrutura preocupam

Karla Bertocco TrindadeO atual ambiente de juro elevado dificulta tirar do papel os projetos de infraestrutura, mas além disso também a falta de clareza sobre o rumo das políticas públicas em setores como o de água e saneamento tem reforçado a postura cautelosa dos investidores. “O momento é de cautela por parte dos investidores porque falta saber como ficarão as concessões e se a regulação do saneamento irá ou não reduzir a participação privada. Espera-se que haja maior visibilidade sobre o assunto nos próximos meses”, afirma a sócia responsável pela área de investimentos em infraestrutura da Jive Investments, Karla Bertocco Trindade.
Ela tem experiência na área, tendo atuado na Sabesp e na Arsesp, respectivamente a empresa de águas e esgotos de São Paulo e a agência reguladoras de serviços públicos de São Paulo, desde 2003. Em 2018 virou CEO da Sabesp e em 2019 assumiu a diretoria de Governança e Infraestrutura do BNDES.
Segundo ela, a falta de clareza tem sido um dos principais obstáculos à atuação dos investidores. Considera confusa a Medida Provisória de Água e Saneamento, a MP nº 1154/23, editada em janeiro, e preocupante a falta de nomeação do novo secretário nacional de saneamento. O setor de infraestrutura é resiliente e continua a oferecer oportunidades relevantes, mas o apetite do investidor dependerá do início do ciclo de redução de juros e, por outro lado, da definição dos papéis e dos interlocutores das políticas públicas. “Saneamento é um investimento bom para se carregar na carteira e há grandes projetos no Brasil, mas há alguns pontos de atenção que seguram momentaneamente o crescimento desses investimentos”, diz Trindade.
O grande ponto de discórdia refere-se ao aumento de participação privada no setor, já que foram realizados três leilões expressivos mas a possibilidade de que as empresas estatais continuem a prestar serviços no setor, mesmo sem licitação, ainda está em debate. Ela diz que esse bedate é foco de preocupação do setor privado.
Na discussão sobre saneamento, Trindade entende que há dois aspectos cuja necessidade de ajustes já é consensual no mercado, como o limite de 25% para as Parcerias Público Privadas (PPPs), que deverá cair. “Isso faz todo sentido pois não houve justificativa técnica robusta para embasar esse limite”, afirma. Além disso, também é consenso que, embora o marco legal do saneamento tenha trazido um importante viés de regionalização para dar escala aos projetos, talvez tenha menosprezado questões técnicas e políticas essenciais para a montagem desses blocos regionais.
Na Jive, especializada em fundos de investimento que negociam ativos distressed, a área de infraestrutura conta por enquanto apenas com um primeiro FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), voltado à cadeia de fornecedores ao setor de saneamento, mas há interesse em ampliar esse foco. A fusão da Jive com a Mauá Capital, gestora de fundos de crédito privado e de ativos diretamente ligados à economia real, como investimentos imobiliários e infraestrutura, foi anunciada em maio passado e resultou, na época, na criação de uma casa com R$ 13 bilhões sob gestão em ativos alternativos. “A fusão já está completa há quatro meses, diz Trindade, e deverá reforçar o foco em infraestrutura à medida que melhorar a leitura das políticas públicas nos próximos meses”, afirma.