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Cabo de guerra com Americanas é pelo tamanho do cheque, diz SPX

Albano FrancoSPXA etapa final de negociações entre os representantes dos acionistas de referência da Americanas e os seus credores gira em torno do tamanho do cheque a ser assinado pelos três homens mais ricos do País - Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles – e que traria na última proposta apresentada pelos três um aporte de R$ 10 bilhões. Os recursos seriam utilizados na tentativa de recuperação da empresa varejista. “O que preocupa mesmo é o tamanho do cheque, porque os credores buscam mais do que isso, eles querem que os termos sejam melhorados, então há um cabo-de-guerraâ€, informa Albano Franco, sócio da gestora de recursos SPX Capital, uma das líderes do comitê de debenturistas que tiveram perdas com a fraude contábil na companhia e agora discutem os termos de sua reestruturação.
Alguns credores estariam cogitando um cheque no valor de R$ 12 bilhões para fechar um acordo, mas Franco afirma que esse montante também não é consensual entre os credores. Segundo ele, um dos problemas de estabelecer um valor é que tudo o que se sabia – ou imaginava-se saber – sobre o business da Americanas foi apagado pela constatação da fraude contábil. “O evento foi um divisor de águas e daqui para a frente fica muito difícil traçar cenários e projeções para a companhia, até porque o caso trouxe uma decepção muito grande ao mercado e abalou a confiança dos investidores no País. Havia todo um trabalho sendo feito para criar uma cultura de empreendedorismo, na qual a governança é muito importanteâ€, afirma.
A verdade, diz Franco, é que “embora os R$ 10 bilhões propostos possam ajudar a cobrir o buraco nas finanças da empresa, eles não são suficientes para isso; a intenção do plano proposto pelos acionistas de referência é fazer com que os credores absorvam uma parte das perdas definitivamenteâ€, explica. Os credores, por sua vez, buscam fazer com que essas perdas sejam as menores possíveis. “As negociações estão andando, mas elas também envolvem os bancos, então o intuito é ir se aproximando de um valor mais adequadoâ€, afirma.
No caso dos investidores institucionais, em particular as entidades fechadas de previdência complementar que investiram nos papéis da Americanas por meio dos fundos de investimentos, a exigência nas negociações é que não seja poupado nenhum esforço para definir as responsabilidades dos acionistas principais e obter o maior ressarcimento possível. “Queremos fazer isso para que possamos prestar explicações aos cotistas dos fundos também na esfera criminal e para que eles, por sua vez, possam esclarecer o assunto junto aos participantes de seus planos de benefícios, ainda que o processo criminal seja demoradoâ€, explica. Uma das medidas esperadas nesse sentido é, por exemplo, o eventual bloqueio de patrimônio dos conselheiros. “Esses investidores estão prontos para apertar todos os botões e fazer tudo o que for possível nas esferas cível e criminal porque essa foi a maior fraude corporativa da história do Brasilâ€, diz.
Para a gestora, o trabalho junto ao comitê exige ter uma presença atuante para defender os interesses dos credores no mercado de capitais, cumprir o seu dever fiduciário e não ser atropelada nas negociações. “Temos tido uma postura mais participativa porque é o que o cotista quer de nós, então temos os melhores consultores e advogados nesse esforçoâ€, diz. O cabo-de-guerra em torno do valor do aporte vai se resolver, acredita Franco, e os culpados irão responder perante a lei, assim que estiver concluída a investigação. “Há, entretanto, uma diferença entre culpa e responsabilidade. Os acionistas de referência tenderão a se colocar como vítimas, também eles, da fraude contábil, mas a verdade é que eles são responsáveis porque deveriam ter supervisionado e prestado informações fidedignas ao mercadoâ€, aponta.