Edição 375
A preferência das Entidades Fechadas de Previdência Complementar pela redução do risco em suas carteiras e também pelos ativos de crédito aumentou em 2024 à medida que o ambiente ficou mais difícil. “O ambiente no Brasil e também lá fora fez com que o risco perdesse cada vez mais espaço”, afirma Jefferson Veiga, head do segmento institucional da Itaú Asset Management. E as políticas de investimento das fundações na virada de 2025 referendaram os ajustes feitos no ano passado.
A regulação que permitiu às fundações carregarem títulos públicos marcados na curva nos planos de Contribuição Definida levou ao direcionamento de uma parte do portfólio para esses ativos em carteira própria das EFPC. “Isso veio reduzindo as nossas posições em fundos multimercados estruturados e, na renda variável, nos fundos de valor”, diz.
Ao memo tempo, os produtos da asset para esses investidores ficaram mais eficientes, afirma Veiga, mais indexados e com menor tracking error. No crédito, o cenário que combina juro alto à menor projeção de crescimento econômico leva a um ambiente mais desafiador para as empresas e a yields menores. “Por conta disso estamos reduzindo uma parte do crédito nos portfólios desde o quarto trimestre de 2024 porque há oportunidades melhores”, afirma.
Na estrutura de multimesas da asset, os fundos de renda fixa ativos têm mais mobilidade e velocidade para capturar os movimentos dos juros. Na renda variável, a mudança de mix reduziu o tracking error porque saiu das estratégias descorrelacionadas e foi mais para os smart betas e ETF.
A casa, que cresce há três anos consecutivos no segmento de EFPC, vê ainda uma perspectiva de crescimento, mesmo com uma parte do volume migrando para títulos marcados na curva. “Os mandatos com benchmark híbrido são o carro-chefe e a renda fixa ativa o crescimento deve ocorrer tanto no pacote de investment solutions como no de multi-mesas”, acredita Veiga.
A classe de ETF teve um ano importante para os clientes institucionais, avalia Renato Eid Tucci, superintendente de estratégias indexadas e investimento responsável da Itaú Asset. Com 23 ETF em sua prateleira, a gestora colheu resultados de um trabalho de médio e longo prazos junto a esses investidores, diz Tucci. Em 2024 esse trabalho ficou ainda mais próximo, conseguiu trazer dinheiro novo, reduzir custos com ganhos de transparência e agilidade operacional. “O objetivo é sofisticar a alocação de forma simples, com a possibilidade de acessar diversas geografias e teses”, afirma.
Performance - Em 2024, ano duro para os gestores captarem recursos em estratégias mais sofisticadas nas diversas classes de ativos, a Western Asset Management no Brasil registrou recuperação de sua performance, que havia sofrido em anos anteriores, avalia Marc Forster, head da operação no Brasil. “Em 2025 também estamos semeando esse campo para quando o apetite a risco voltar. Nos habilitamos a recuperar o nosso histórico de performance e temos celebrado isso porque voltamos a figurar bem no mercado”, diz.
Além das fundações, público em que a asset tem posição relevante, os RPPS (Regimes Próprios de Previdência Social) também estão em processo de credenciamento pesado, afirma Forster. “É difícil para eles trocarem de gestor rapidamente. Eles valorizam uma grade completa de produtos, como a nossa, mas é mais uma discussão de relacionamento entre o gestor e o investidor em momentos de turbulência”, analisa.
A grade diversificada da gestora, similar às dos grandes conglomerados financeiros, contribuiu para que a casa atingisse R$ 40 bilhões sob gestão mesmo em período sem crescimento. “A navegação tem sido robusta e na renda fixa os destaques ficam com o crédito, ainda importante, que privilegia as Letras Financeiras, papéis mais curtos. Continuamos mais recentemente a baixar a exposição a alguns setores e a leitura pessimista que fizemos para este ano acabou ajudando”, explica.
A deterioração das expectativas em relação à questão fiscal brasileira, com a elevação da Selic e dos juros associados às NTN-Bs, levou a uma leitura mais cautelosa do cenário, diz Forster. “A nossa carteira ficou com posições muito próximas aos benchmarks e procuramos capturar o juro real na parte mais curta dos papéis,que sofreu bem menos”,diz. Nos títulos prefixados (curva nominal de juros), a casa optou por fazer jogadas mais oportunistas aproveitando as distorções do mercado. Na renda variável, permanecem as estratégias com risco mais controlado.
Na virada do ano para 2025 as fundações não fizeram modificação expressiva de suas políticas de investimentos porque os perfis não mudaram tanto desde o final de 2024.
“ Houve uma migração clara para os perfis mais conservadores e muitos participantes agora já pedem carteiras super hiper conservadoras, sem qualquer risco de mercado. É o último refúgio do participante para ficar colado no CDI”, avalia Forster.
Além do cenário local, afetado pelo patamar de juros, o quadro nos EUA tornou difícil tomar decisões de longo prazo. “O Ibovespa está barato mas não dá para tomar risco e, nas carteiras de renda fixa, a decisão é por continuar onde estamos, já com muito pouco risco”, diz.
O ambiente exige dos gestores “ficar brincando no raso”, ou seja, fazer posições pequenas porque parece irresponsável ter posições maiores. “Se aqui o lado fiscal está ruim, nos EUA também e hoje não há onde fixar uma tese central para os investimentos, seria como tentar colocar um prego na areia”, afirma.
O investimento no exterior, que chegou a garantir retornos relevantes para os investidores institucionais em 2024, também apresenta dificuldades. “Com a NTN-B pagando 7,5% reais, talvez fosse interessante fazer posição lá fora como proteção, mas onde? No S&P? A resiliência da economia americana, que era a tese, agora como fica? Para qual mercado ir? A tese da diversificação de investimentos permanece mas todos estão parados por enquanto porque os mercados lá fora estão muito perigosos”, diz.
Renda fixa e ETF - O ritmo de crescimento da Banrisul Corretora junto aos RPPS segue em alta este ano, com uma expansão de 6,8% no total sob gestão desse segmento até março. “Em três meses o volume saiu de R$ 7,2 bilhões para R$ 7,7 bilhões devido à chegada de novos clientes ou ao aumento de posições na região Sul do País como um todo”, informa Marcus Staffen, diretor presidente da instituição. Até março, 38,9% do AuM da casa era de RPPS.
A estratégia de expansão continua forte nos estados de Santa Catarina e do Paraná. “Estamos confiantes, crescendo bem em renda fixa e com essa expansão muito atrelada à nossa operação com ETFs”, diz Staffen.
Com a Selic perto dos 15%, o investidor tende a ficar deitado em berço esplêndido, mas achamos que é preciso mostrar coisas novas e oportunidades. Apesar disso, o lançamento dos BDR, que estava projetado para este ano, entrou em espera. “Estamos segurando isso porque hoje fica mais difícil lançar esse produto”, diz. A maior parte dos ETFs é de Ibovespa ou S&P 500, com foco nos produtos adequados à regulação dos RPPS. Na renda fixa, os produtos indexados à taxa de juros são o carro-chefe e essa direção deve ser mantida.
Estamos vivendo no olho do furacão em abril e precisamos entender melhor o que vai acontecer daqui para a frente como resultado da guerra tarifária nos EUA”, observa.
Por Segmentos (arquivo em pdf)