Edição 375
Fortemente caracterizado pelo predomÃnio da renda fixa, especialmente no crédito privado e nos fundos de infraestrutura, o ano de 2024 refletiu o ambiente de incerteza no mercado doméstico e os juros mais altos. Nesse cenário, a captação da classe na Santander Asset Management foi positiva, acompanhando o avanço do mercado de crédito, diz Mario Felisberto, CIO da instituição.
A casa manteve o perfil high grade mas caminha agora para ter um pouco mais de risco em sua grade de produtos. “Isso terá que ser gradual porque o juro ainda é tão elevado que esse acréscimo de risco não é demandado por enquanto. Em 2025, o investidor está mais cauteloso do que no ano passado frente aos juros mais altos, à maior volatilidade, o que afeta tanto o segmento de varejo como os institucionaisâ€, observa o gestor.
Se em 2024 até houve alguma demanda por fundos offshore, vinda do varejo mas também dos institucionais, que queriam entender melhor os produtos nessa classe, este ano essa demanda caiu. “O momento é de manutenção da linha da grade, com produtos um pouco mais sofisticados e procurando refinar o crédito e os fundos offshore, mas com a consciência de que não haverá um aumento da demanda para isso tão cedoâ€, afirma Felisberto.
O objetivo é continuar com uma postura mais defendida e preparar o histórico para quando o apetite a risco voltar ao mercado.
No crédito, os spreads não são mais super atrativos mas também não estão super apertados, o que leva a asset a buscar oportunidades para alocar com spreads mais interessantes. “Mas estamos bastante criteriosos nesse mercado porque não dá para sermos tão agressivos quanto fomos no ano passadoâ€, diz Felisberto.
Em 2025, os fundos de infraestrutura continuam presentes na cabeça do investidor como uma opção muito bem sucedida. “Tivemos que fechar esses fundos em 2024 por uma questão de capacity mas voltaram este ano e, sempre que são reabertos, encontram demanda firmeâ€, afirma.
O panorama dos ativos de risco tem respondido ao aumento da incerteza global, exigindo estratégias mais cautelosas. “Nas bolsas dos EUA e globais, a elevada volatilidade não permite uma visão de alta que seja sustentável. Aqui, a bolsa reage sempre acompanhando o que acontece lá fora e a grande fonte de incerteza é a questão de tarifas, da inflação e dos jurosâ€, avalia o gestor.
Recuperar garantias - Além do impulso natural dado pelo aumento do juro, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios ganham maior confiança dos agentes do mercado no Brasil ano a ano e estão vivendo um momento importante como alternativa de financiamento para empresas de grande e médio porte, avalia Leonardo Calixto, Co-CEO da Reag Asset Management. “O grupo Reag, embora seja uma casa com DNA de crédito estruturado, veio fazendo várias aquisições desde 2024, incluindo a EmpÃrica, que era 100% FIDC, então houve também um crescimento vegetativo por conta dessas operaçõesâ€, observa.
Nos últimos meses, os destaques têm sido os FIDC de consignado público, os multicedentes/multi-sacados e os de risco corporativo triple A envolvendo operações de cartão de crédito, mais pulverizadas. “Isso vem desde o inÃcio do quarto trimestre do ano passado e continuou este ano, até o fechamento de março, com um volume entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,6 bilhão captado junto a outras assets e multi family officesâ€, detalha.
Este ano há também um foco em ativos de crédito corporativo middle market e precatórios, entre outros. “A renda fixa ganha mais força com a crise global deflagrada este ano e o crédito privado puro ainda é incipiente no Brasil se comparado a outros mercados. Os FIDC devem deslanchar de vez dentro de alguns anos, quando as empresas de middle market passarem a enxergá-los melhorâ€, acredita Calixto.
A vertical de crédito tem dois times na casa, um proveniente da EmpÃrica e outro da Quasar Asset, também adquirida em 2024. “O ano de 2025 é promissor para os FIDC e o pipeline de novas operações está em vários estágios. Hoje há cerca de 20 operações que envolvem quatro produtos e já estão em fase de estruturaçãoâ€, detalha.
A asset projeta atingir R$ 40 bilhões em crédito até o final de 2028 e uma eventual piora do cenário que leve ao aumento da inadimplência já está considerada no desenho dos produtos, explica o gestor.
Ajuste de posições - Apesar da volatilidade trazida pelas medidas do governo Trump, a incerteza irá afetar mais o crescimento em outras regiões do mundo do que nos EUA , avalia Marco Freire, sócio e CIO da Kinea. “O inÃcio do governo Trump tem trazido bastante volatilidade aos mercados, com medidas fortes e mudanças repentinas de direção, mas os fundos multimercados têm mandatos bastante amplos, podendo se posicionar comprados ou vendidos nos mais diversos mercados locais e internacionaisâ€, afirma.
Em 2024, a asset usou os mercados internacionais como um ponto forte de gestão. “Na renda fixa, focamos em buscar oportunidades além do mercado local, trazendo parte das posições para fora do Brasilâ€, diz Freire. As teses de queda de juros internacionais com foco em EUA, Zona do Euro, UK e Austrália que suportaram posições aplicadas e trouxeram ganhos para os fundos no ano.
“No mercado local, tivemos posições importantes compradas no real com relação ao dólar, na expectativa de divergência entre as polÃticas monetárias do Brasil e EUA e de que os bons números de contas externas resultassem na valorização da moeda localâ€, explica.
Em 2025, a decisão tem sido a de aumentar posições para um ciclo menor de alta de juros no Brasil. “Temos posições para aumento da curva de juros nos EUA e posições maiores para queda de juros em paÃses europeus. Além disso, seguimos comprados no dólar contra uma cesta de moedas asiáticas e mercados emergentes. E continuamos com alocações baixas em crédito, privilegiando alta qualidade e prazos mais curtosâ€, informa.
Evolução operacional - Em ano de surpresas positivas nos resultados das companhias, a Oceana Investimentos identificou o reflexo de uma clara evolução operacional. “As empresas entregaram mais do que esperávamos, aliás as companhias brasileiras vêm performando muito bem, na média, e 2024 foi um ano bomâ€, diz Alexandre Rezende, sócio-fundador da gestora.
“A melhoria na capacidade de geração de caixa é o ponto fundamental uma vez que as empresas têm sido muito criativas e isso preocupa, então essa é a nossa principal métrica para avaliar a evolução operacionalâ€, afirma.
Esse efeito dependia muito do nÃvel de alavancagem e do juro porque o custo do carregamento da dÃvida aumentou. É verdade que os mais alavancados sentiram mais o efeito negativo do custo do capital, mas o empresariado brasileiro, de modo geral, aprendeu a lição da crise de 2014, acredita Rezende. “Hoje as empresas têm um nÃvel confortável de alavancagemâ€, avalia.
À exceção das commodities, que performaram bem na bolsa, os resgates foram a tônica do ano passado. “Mas as empresas não estão patinando, tanto é que aquelas que sofreram em 2024 foram as grandes contribuições positivas agora em 2025, mostrando que a queda anterior foi motivada por questões técnicasâ€,diz.
O juro elevado é uma pedra no sapato, o que não é novidade, mas ele lembra que os vetores mais importantes para gerar caixa para o acionista são os retornos prospectivos, que são elevados. “Quando você está diante de uma situação como essa, aumenta a chance de sucesso. “No setor financeiro, por exemplo, os bancos que sofreram em 2024 foram bem no primeiro trimestre de 2025. O setor elétrico é outro exemplo, incluindo a Equatorialâ€, diz.
Com 55 fundações em sua base de investidores, a casa tem parceiros nesse segmento que são de longo prazo. “Somos hoje o maior gestor independente de renda variável para fundações e há parceiros de longo prazo, que tem se beneficiado dissoâ€, afirma Rezende.
Special situations - “Nos Fundos de Investimento em Participações, o ano passado foi muito duro para a indústria do ponto de vista de capacidade de levantar capital, com poucos gestores conseguindo atingir o volume desejado e outros sem levantar nadaâ€, diz Renato Abissamra, sócio da Spectra. Em 2025, o ambiente segue o mesmo mas já começa a haver investidores menos céticos, “com um pouco mais de apetite ao risco para antecipar os efeitos de uma possÃvel mudança no cenário polÃticoâ€, afirma.
O momento, aliás, é excepcional para os negócios no secundário (compra de outros fundos de participações) devido à falta de liquidez e à falta de IPOs, assim como os preços baixos no mercado. O cenário é favorável ao investidor também nos search funds, (ou fundos de busca), que são uma alternativa ao private equity, e em fundos de special situations.
“Já investimos em special situations desde 2015 e estamos animados, hoje 10% dos nossos fundos estão expostos a esses ativos, principalmente no que se refere a distressed equities (ativos estressados, de empresas com problemas)â€, diz Abissamra. O Spectra VI terá 45% de seu capital em secundários, 15% em search funds e entre 10% a 15% em special situations.
Subclasses podem ajudar - Com sua precificação estreitamente ligada à do juro, os FII sofreram com a alta da Selic e estão em descompasso com os fundamentos mais positivos do mercado imobiliário, diz Adriano Mantesso, head da área de real estate da Tivio Capital.
À medida que o mercado deixou para trás a expectativa de Selic no patamar de 9% e passou para mais de 14%, os FII passaram a sofrer, em especial os que investem em ativos “de tijoloâ€. Eles seguem com nÃveis maiores de desconto (deságio) sobre o valor patrimonial do que acontece com os fundos de recebÃveis imobiliários (de papel), até porque uma parte dos fundos de papel está atrelada ao CDI, o que ajuda a reduzir o seu desconto.
Os fundamentos do mercado imobiliário, por outro lado, estão bons, diz o gestor. “Há uma queda na vacância dos imóveis, em especial shoppings e escritórios, e já vemos o valor da locação subindo em algumas regiõesâ€, lembra Mantesso. Assim que for retomado o ciclo de redução do juro, o impacto será maior, com maior potencial de rentabilidade porque a compressão da curva de juros aumenta a possibilidade de ganho de capital.
A Resolução CVM 175, que trouxe a figura das classes e subclasses de investimento em cotas de um mesmo fundo, deve ter impacto positivo sobre dois diferentes perfis de público dos FII, espera o gestor. “Uma opção é investir em cota sênior, que tem preferência sobre a subordinada em rentabilidade, portanto com maior garantia, e tem saÃdo com prazo determinado. Ela tende a se tornar mais comum com a adoção das subclasses, será equivalente a um Certificado de RecebÃveis Imobiliáriosâ€, avalia.
“Vejo a cota sênior com potencial para despertar maior apetite pelos FII junto à s fundações e RPPS porque está difÃcil hoje encontrar o prêmio que eles exigem para ficarem ilÃquidosâ€, diz Mantesso.
Já as cotas subordinadas são uma opção para o investidor que enxerga oportunidades para ter ganho de capital em relação à cota sênior, numa visão de mais longo prazo.
Por Classes (arquivo em pdf)