Edição 375
A aversão ao risco, que marcou os portfólios de investimentos em 2024, retornou em 2025 com o acréscimo de maior volatilidade, decorrente dos ruídos provocados pela política tarifária do governo dos Estados Unidos e de seus possíveis impactos nas dinâmicas da economia global.
Para os gestores de recursos, o juro elevado mantém a renda fixa local, incluindo o crédito privado, na ordem do dia, mas exige também uma combinação de estratégias mais refinadas para atender demandas dos diversos perfis de investidores institucionais.
Estratégias - O acesso a uma combinação completa de estratégias próprias e de terceiros, locais e globais, tem sido essencial para a XP Asset observa Luiz Sorge, sócio e diretor de estruturas, responsável pelo núcleo XP Advisory (XPA). “Em 2024 foi fundamental termos essa cobertura composta por diversas classes e a área de alocação, em que entram os exclusivos dos institucionais. Olhamos o investimento de maneira agnóstica, cobrindo todo o mercado sem privilegiar as estratégias próprias”, diz.
Como resultado, a asset aumentou entre 30% e 40% os recursos sob gestão de institucionais desde 2024, informa Sorge. “Isso veio por meio de captação e de vários novos mandatos nesse período”, diz. Uma parte do crescimento veio, porém, da reclassificação dos investidores feita pela asset, de acordo com o perfil dos seus clientes finais. Além disso, contribuiu também o papel da seguradora da própria XP, que aumentou a alocação nos fundos da casa.
Com R$ 159 bilhões sob gestão, a asset aposta na liberdade de atuação e na seleção de gestores, que são aprovados quantitativa e qualitativamente. “Nos últimos dois anos aumentou a dificuldade para fazer isso, em especial nos fundos multimercados e de ações devido ao ciclo de aperto monetário e aos resgates”, avalia Sorge.
Ele lembra que os multimercados passam por uma fase de consolidação e redução do número de casas, o que não é positivo, mas a asset busca os melhores produtos, avaliados de acordo com suas respectivas práticas de governança e os seus resultados.
Entre as estratégias, Sorge faz uma analogia com o mercado de vinhos e explica que há uma “estrutura varietal” , composta por uma única classe de ativos, e outra de blend, que combina ativos. Ambas tiveram papel relevante no crescimento registrado desde 2024.
Típica estratégia “varietal”, a renda fixa/crédito privado soma R$ 40 bilhões sob gestão, registra aumento na captação e tem tração para seguir em alta este ano, mantendo o perfil de risco de crédito high grade. Mas a XPA faz também o blend de estratégias por meio do número de gestores ou pela gestão de perfis, combinando renda fixa, renda variável, multimercados, ativos locais e globais, soluções que são devidamente aprovadas pelo comitê de investimentos e pelo CIO.
Segunda maior gestora de ETFs no mercado, segundo o ranking Top Asset, a XP registrou crescimento expressivo na classe em 2024, ano em que consolidou essa estratégia, criada em 2020, explica Danilo Gabriel, gestor de fundos indexados e internacionais na XP Asset. Entre os destaques do ano, ele cita os fundos que seguem os índices do mercado spot (físico) de ouro, beneficiado pelo aumento da demanda pelo metal, e o ETF que busca replicar o Nasdaq 100, refletindo a forte expansão da bolsa americana em 2024. A estrutura da asset inclui oito ETF, dos quais o principal é o BOVX11, que replica a carteira teórica do Ibovespa.
“O ETF de Ibovespa continua como o preferido dos fundos de pensão brasileiros, pela performance e porque suas métricas de aderência ao índice são consideradas referência no mercado”,diz o gestor. Mas ele observa que o grande dreno de recursos do mercado ainda está nas NTN-Bs que pagam acima das metas atuariais.
Oportunidades - Dosar o risco dos portfólios é a palavra de ordem que vem de 2024 e ganha força este ano, que já começou com a Selic muito alta, afirma Maria Isabel Mattos, superintendente comercial institucional da Bradesco Asset. “Na virada de 2024 para 2025 as políticas de investimento dos fundos de pensão já trouxeram maior foco na renda fixa e, dentro dessa classe, no crédito privado mais conservador. A renda variável sofreu um ligeiro ajuste, até porque nos últimos 12 a 36 meses essa classe já havia registrado forte redução, mas o olhar é de cautela frente a uma Selic média que está acima do final de 2024”, avalia.
Ao mesmo tempo, a gestora mantém o foco nas muitas oportunidades que existem atualmente no mercado, lembra Mattos. “Olhamos para isso porque somos o maior gestor privado de recursos de previdência complementar, incluindo as entidades fechadas quanto e abertas, e às vezes esses investidores precisam de maior diversificação”, diz.
Na renda variável, a asset tem aproveitado mais a demanda por estratégias passivas, de Ibovespa com dividendos e, no mercado de produtos estruturados, adota maior seletividade nas estratégias, focadas principalmente em ativos de crédito. Com um time de crédito high grade montado desde 2021, a casa está preparando este ano o lançamento do seu terceiro fundo com alocação em FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), que entra na “caixinha” dos estruturados.
Com uma governança forte, a asset chegou a R$ 400 bilhões sob gestão na mesa de crédito em 2024, classe mais procurada no curto prazo.
Há uma diversidade de fatores que, combinados, apontam para o conservadorismo nas carteiras das fundações. Um deles foi a resolução do CNPC (Conselho Nacional de Previdência Complementar), que autorizou em dezembro de 2024 a marcação na curva dos títulos públicos carregados a vencimento nas carteiras dos planos de Contribuição Definida (CD) e de Contribuição Variável (CV) dos fundos de pensão. A mudança, em momento de juro elevado, tende a aumentar a procura por NTN-Bs à medida que as fundações aceleram seus estudos de ALM, avalia Mattos.
Para agravar o cenário de aversão ao risco, as decisões do governo Trump criaram desde o início de abril um ambiente que não permite apresentar uma situação clara nos mercados. “É preciso aguardar para saber como as questões geopolíticas e econômicas vão se comportar, ou seja, já abrimos o ano com posições baixas em risco e em abril isso baixou ainda mais”, lembra.
O ano de 2024 foi “histórico” para a asset, diz Mattos, graças a uma captação superior a R$ 70 bilhões, fruto dos investimentos feitos na parte tecnológica, incluindo estratégias para implementação da Inteligência Artificial na instituição. Entre as aplicações da IA está o monitoramento do mercado internacional, com ferramentas que ajudam na modelagem de asset allocation e avaliações do mercado. A meta é chegar ao total de R$ 1 trilhão sob gestão este ano.
“O crédito privado foi a principal frente de crescimento no ano passado e também tivemos sucesso em trazer novos mandatos de fundações, principalmente para a classe de crédito”, afirma.
Os novos mandatos, porém, já trouxeram uma divisão nessa classe, buscando crédito high grade mas também uma parcela de estratégias high yield, assim como crédito no exterior e investimentos com critérios ESG (responsabilidade ambiental, social e de governança).
Mix de risco - Risco baixo e mais um ano de renda fixa em 2025, com o crédito privado voltando a ganhar impulso, são as tônicas do mercado neste primeiro semestre, observa Aquiles Mosca, CEO da BNP Paribas Asset Management no Brasil. “O crédito atingiu 21% do nosso AuM e vem crescendo há quase quatro anos. Somos uma casa high grade e isso reforçou o fluxo de investidores.”, explica.
Os mandatos exclusivos de crédito da casa para as EFPC são, em sua maioria, atrelados ao CDI mais 0,5% a 0,8% ao ano, podendo chegar a CDI mais 1%. “Esse retorno foi obtido exclusivamente por meio da alocação em ativos high grade, seja em crédito bancário (LF, CDB e compromissadas), que representa a maior parte do portfólio, ou na parcela corporativa, que diminuiu de tamanho porque o custo das dívidas está subindo”, informa. A alocação em crédito também teve o seu duration reduzido para um ano e meio. “Essas carteiras são de fundos exclusivos e também dos fundos abertos, alguns deles 100% do próprio banco e outros mesclados”,diz.
O crédito ESG é outro ponto forte da asset, que vê esse segmento em alta principalmente junto aos fundos de pensão brasileiros. “Hoje já não são apenas os fundos de pensão europeus que mostram interesse no investimento sustentável, até porque ficou comprovada a sua capacidade de gerar retornos elevados. O nosso fundo de crédito ESG, por exemplo, rendeu 104,66% do CDI nos últimos 12 meses, e está com rentabilidade de 106,21% do CDI este ano até agora”, avalia Mosca.
Entre as inovações na oferta de estratégias, ele destaca os fundos que fazem um mix entre risco de crédito e risco de mercado. “Adotamos esse mix porque não observamos demanda por fundos multimercados, mas há apetite do investidor por um pouco de risco de mercado”, detalha. São fundos que não precisam ter a palavra crédito em seu nome, mas têm uma parte prefixada e outra em crédito. “No momento estamos ajustando o regulamento para uma fundação do setor elétrico que tem interesse em fazer essa alocação”, diz.
Os fundos de fundos que aplicam em cotas de multimercados também têm despertado o apetite das fundações na estrutura de portfólios exclusivos. “Foram as duas categorias que mais cresceram em 2024: crédito privado e os FoFs de multimercados, estes utilizados para que as fundações possam fazer uma troca de gestores por meio de mandatos diferentes e, às vezes, com benchmarks híbridos de bolsa, CDI e exterior”, afirma Mosca.
Deslocamento de placas tectônicas - Em meio ao cenário desafiador para os fundos multimercados nos últimos anos, um fator importante para a Absolute Investimentos foi ter tomado a decisão de ser uma casa multi-produtos, como observa o CEO Tiago Sant’Anna.
Além dos fundos multimercados macro e de arbitragem, a casa atua em crédito privado high grade e em fundos de ações. “Essa visão de negócio, somada à melhor performance relativa que apresentamos, nos ajudou a atravessar bem esses três anos”, diz.
A gestora cresceu em crédito privado, que captou bem no ano passado, e conseguiu manter a estabilidade em seus fundos de ações e multimercados. “Nos multimercados chegamos a ter algum crescimento, mas 2024 não foi um ano bom para essa indústria”, conta.
Em 2025, embora a perspectiva seja positiva para a captação nos fundos de crédito, que já cresceu entre os meses de janeiro e abril, o horizonte para os multimercados e os fundos de ações deve continuar inalterado. “A partir de 2026, entretanto, a perspectiva é boa para o potencial de captação nessas duas classes porque o mercado já começa a olhar para o período eleitoral e estamos bem posicionados para quando voltar a alocação nesses fundos”, avalia Sant’Anna.
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